Governos financiam pesquisas

Realizar pesquisas científicas em um Estado onde não há a tradição de investimento na área não é uma tarefa fácil. Apesar disso, o número de pesquisadores e de projetos aprovados pela agências de financiamento é crescente. Esse será um dos temas abordados na próxima edição do projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte –  uma realização da TRIBUNA DO NORTE, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Fiern, Fecomércio/RN, RG Salamanca Investimentos e Governo do Estado, com patrocínio da Petrobras, Assembleia Legislativa e Cosern. O evento está em seu quarto ano de realização e para esta 9ª edição o tema escolhido foi Inovação e Tecnologia. O seminário será realizado no próximo dia 11 de abril, no auditório da reitoria da UFRN, a partir das 8h. 


alex régisLaboratório de pesquisa em petróleo da UFRN só saiu do papel graças à parceria com a Petrobras,  uma das estatais que mais investem em inovação e tecnologia no paísLaboratório de pesquisa em petróleo da UFRN só saiu do papel graças à parceria com a Petrobras, uma das estatais que mais investem em inovação e tecnologia no país
O financiamento da pesquisa no Brasil ainda tem patamares muito baixos quando comparado com países que já investiram historicamente no setor e têm a sua infraestrutura mais organizada. Para se ter uma ideia dessa defasagem, dados mostram que enquanto o Brasil não consegue investir nem 1,5% do PIB em projetos voltados para a ciência e tecnologia, a maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento está aplicando entre 2% e 3%. 

Mas, apesar disso, para o reitor da UFRN, Ivonildo Rêgo, houve uma melhoria substancial nos últimos oito anos, especialmente no que diz respeito ao setor público. “O Governo expandiu as universidades e isso criou um  sistema de produção científica do país. O que se reclama é que o percentual de investimento do setor privado ainda é muito baixo”, diz o reitor. 

Nos países ricos, a pesquisa é bancado, prioritariamente, pela iniciativa privada. Mas no Brasil a situação é diferente. Quem financia é, na maioria das vezes, o Governo Federal – em alguns casos com contrapartida dos governos estaduais. 

No caso do Rio Grande do Norte, cerca de 80% de todos os recursos destinados a pesquisa científica repassados para a Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern) são provenientes do Governo Federal. “O Governo Estadual também participa com uma contrapartida. Mas nós da Fapern temos observado que nos últimos anos houve dotação orçamentária mas  os recursos não foram executados em sua totalidade”, afirma a presidenta da fundação, Bernardete Cordeiro se Sousa. Ou seja, a contrapartida não chegou às mãos dos pesquisadores. 

Essa contrapartida representa uma verba da ordem de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões por ano que deixou de ser encaminhada para as pesquisas. Para se ter uma ideia, no ano passado a Fapern só conseguiu executar cerca de R$ 800 mil, em recursos do Estado. “É um problemas que precisamos solucionar porque a não execução desses recursos do orçamento pode vir a comprometer até a verba que chega do Ministério. Em alguns casos, só é feito o repasse da segunda parcela com a comprovação do pagamento da contrapartida por parte do Estado”, explica Bernardete Cordeiro. 

O não repasse desses recursos influencia em uma série de pesquisas que estão sendo desenvolvidas no Estado. Para se ter uma ideia, estão atrasados os pagamentos dos dois institutos internacionais criados no RN – tanto o Instituto Internacional de Física quanto o Instituto Internacional de Neurociências. “Mas a nossa expectativa é de que essa pendência seja resolvida nos próximos dias”, afirma a presidente da Fapern.   

Número de bolsas cresce 307%

Quem trabalha na área de ciência e tecnologia é unânime em afirmar que nos últimos anos houve um investimento considerável no setor. As universidades foram dotadas de mais professores e mais recursos, resultando em uma atenção maior às pesquisas. Um levantamento realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostrou que o número de bolsas de iniciação científica e iniciação tecnológica concedidas para os alunos da instituição cresceu 307% nos últimos dois anos. 

“É um dado altamente positivo porque são bolsas de graduação, para todas as áreas. Isso reflete um investimento maior em pesquisa e os resultados poderão ser vistos a médio e longo prazo”, afirma a presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern), a professora Maria Bernardete Cordeiro de Sousa. 

As áreas onde se concentram o maior número de pesquisas e de recursos são a física, a neurociências, a engenharia química, engenharia de materiais e biologia molecular (genômica e proteômica). A pesquisa em saúde também é um importante foco de novas descobertas. No setor de ciências humanas e sociais se destaca a área de políticas públicas. 

Hoje, um dos critérios para a aprovação desses projetos de pesquisa é se elas se enquadram na realidade econômica e social do Estado. “Há cerca de 20, 30 anos, a pesquisa ainda não tinha esse enfoque regional, mas hoje nós já temos pesquisas fortemente voltadas para os setores produtivos do Estado. E os resultados são aplicáveis não só economicamente mas também socialmente”, ressalta Bernardete Cordeiro.   

Iniciativa privada precisa apoiar setor

Para a presidenta da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern), Bernardete Cordeiro, o apoio quase que unicamente estatal ao setor de ciência e tecnologia é, antes de tudo, uma questão cultural. “Nós sempre  fomos condicionados a esperar que o governo faça, a esperar que os incentivos e o dinheiro venham do governo. Além do que, tradicionalmente, sempre fomos grandes importadores de tecnologia. Boa parte do setor empresarial não tem a cultura da inovação”, diz. 

Para o reitor da UFRN, Ivonildo Rêgo, uma das formas de estimular o setor privado a investir em pesquisa seria o governo criar  instrumentos para atrair as empresas. “Isso está dentro de uma política industrial bem definida também. Inovação agrega valor aos produtos e garante autonomia para o país como um todo”, afirma.

Para a professora, o empresariado ainda tem uma certa resistência à investir em pesquisa por que os resultados práticos só começam a aparecer a médio e longo prazo. “E eles querem um resultado rápido”, avalia. Mas para ela é possível que se encontre um equilíbrio. “O ideal é que haja uma sintonia, o empresário quer uma resposta mais rápida e a universidade/pesquisadores também precisam se preparar para dar agilidade a esse processo”, afirma Bernardete Cordeiro. Mas ela lembra que o fato do Estado não ter grandes empresas, com recursos disponíveis para investir, dificulta esse processo.     

A exceção é a Petrobras que se tornou uma das principais parceiras da UFRN, segundo o reitor Ivonildo Rêgo. Nos últimos quatro anos a estatal investiu cerca de R$ 80 milhões em pesquisas na universidade. “Temos 200 professores e 500 alunos, de graduação, mestrado e doutorado, trabalhando em projetos na área de petróleo e gás”, diz o reitor.
TN online

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