Papel do CE na energia nuclear

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Mina de Itataia, localizada em Santa Quitéria, detém 80 mil toneladas de reservas lavráveis de urânio 
FOTO: SILVANA TARELHO
19/3/2011 
Ceará possui, em Itataia, a maior jazida de urânio do Brasil, matéria- prima para geração de energia nuclear
Como os acidentes envolvendo usinas nucleares no Japão, após o terremoto, podem repercutir em território cearense, aqui do outro lado do mundo? Ainda é bastante cedo para se ter a resposta, mas o certo é que o ocorrido no país asiático vem despertando discussões em todo o mundo sobre o futuro da energia nuclear.

No Brasil, que possui um programa para este tipo de energia, projetando quatro novas usinas até 2030, não é diferente. E a decisão a ser tomada deverá interferir, também, no Ceará, que possui a maior jazida de urânio do Brasil, matéria-prima para esta matriz energética.

Cinco usinas
O governo federal planeja, além de concluir a instalação da usina Angra 3 (cujas obras ficaram paradas por mais de 20 anos), no Rio de Janeiro, instalar duas novas unidades de energia nuclear no Sudeste e outras duas no Nordeste brasileiro. Por certo tempo, pensou-se que o Ceará poderia abrigar uma destas plantas, mas o Estado não se credenciou para tal, e as usinas deverão ficar entre os estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, em regiões ribeirinhas ao Rio São Francisco.

Urânio do Estado
Contudo, mesmo ficando de fora destes novos investimentos - que agora começam a ser questionados -, o Ceará tem posição estratégica no programa brasileiro. Com a mina de Itataia, localizada no município sertanejo de Santa Quitéria (a 252 quilômetros de Fortaleza), o Estado detém 80 mil toneladas de reservas lavráveis de urânio, capacidade que representa, quando explorada, um acréscimo de 375% no quadro atual.

A exploração da jazida, a ser realizada por meio de uma parceria entre a empresa pública Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a privada Galvani, terá como destino inicial - pelo menos de acordo com os atuais planos do governo -, a futura usina de Angra 3, que tem previsão de operação em 2015. Hoje, são produzidos apenas 400 toneladas de urânio, que são retirados da reserva de Caetité, na Bahia. Essa produção é levada às usinas Angra 1 e 2, no Rio.

Até o momento, o governo federal ainda não possui uma posição consensual sobre se os ocorridos no Japão interferirão no programa brasileiro. De acordo com o Plano Nacional de Energia (PNE - 2030), que é o primeiro estudo de planejamento integrado dos recursos energéticos realizado no âmbito do governo federal, as centrais nucleares deverão passar de uma produção de 9,9 terawatts-hora (TWh), volume registrado em 2005, para 51,6 TWh em 2030. Para isso, seria necessária a entrada em operação da Angra 3 e das outras quatro novas usinas planejadas.

Controvérsias
A decisão do governo federal está envolvida em inúmeras controvérsias, já que o assunto divide opiniões no meio político e técnico. O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) já chegou a declarar à imprensa que pretende reavaliar o risco das usinas nucleares do Brasil, considerando o acidente no Japão. Ele também disse que pensa em rever as normas de licenciamento para a instalação de novas usinas.

A presidente Dilma Rousseff ainda não fez declaração pública sobre o assunto, mas, de acordo com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, ela estaria "preocupada" com a questão da energia nuclear no Brasil após as notícias que vêm da Ásia. "A presidente está extremamente preocupada com os efeitos, inclusive aqui, sobre a nossa política, toda essa questão da energia atômica, da energia nuclear. Temos que, com responsabilidade, olhar isso", afirmou, na última terça-feira.

Enquanto isso, organizações da sociedade civil posicionam-se sobre o assunto. É o caso do Greenpeace, que pede a suspensão da licença para a Angra 3. "Devido à clara necessidade de se revisar as regras de licenciamento para construção, instalação e operacionalização de instalações nucleares, solicitamos a adoção de medidas administrativas e jurídicas para suspender a licença de operação concedida à terceira fase da Usina Termonuclear de Angra (Angra III) em 2010, até que essas novas normas de licenciamento sejam fixadas, protegendo a vida e a integridade física dos habitantes de Angra dos Reis e de todo o estado do Rio de Janeiro", disse a entidade, em carta protocolada ao Procurador do Ministério Público Federal em Angra dos Reis (RJ), Fernando Lavieri. 

SÉRGIO DE SOUSAREPÓRTER
fonte:diário do nordeste
19/03/2011

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