Vítimas de pedofilia querem processar papa no Tribunal Penal Internacional

ONG diz que Bento 16 tem responsabilidade direta por estupros e violências sexuais
PedofiliaUma associação americana de vítimas de padres pedófilos anunciou nesta terça-feira (13) ter apresentado uma queixa ante o TPI (Tribunal Penal Internacional) contra o papa Bento 16 e outros dirigentes da Igreja Católica por crimes contra a humanidade.
Os dirigentes da associação Snap, orientados pelos advogados da ONG (organização não governamental) americana Centro para Direitos Constitucionais, entraram com uma ação para que o papa seja julgado por "responsabilidade direta e superior por crimes contra a humanidade por estupro e outras violências sexuais cometidas em todo o mundo".
À queixa acrescentaram 10 mil páginas de documentação de casos de pedofilia. A Snap possui membros nos Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Bélgica, quatro países muito afetados pelo grande escândalo de pedofilia que envolve a Igreja.
"Crimes contra a dezenas de milhares de vítimas, a maioria crianças, foram escondidos pelos líderes nos mais altos níveis do Vaticano. Neste caso, todos os caminhos levam a Roma", declarou a advogada Pamela Spees.
Os bispos e, em alguns casos, o próprio Vaticano rejeitou ou ignorou muitas das queixas das vítimas de padres pedófilos. O escândalo desacreditou a Igreja em vários países na Europa.
Bento 16 expressou sua vergonha e pediu desculpas, apelando para a tolerância zero contra os pedófilos. Ele também pediu aos bispos do mundo, que têm a responsabilidade primária sobre seus sacerdotes, a plena cooperação com os tribunais criminais.
Demissão
Em julho, o cardeal Justin Rigali, arcebispo da Filadélfia (Estados Unidos), foi demitido pelo papa. Rigali é suspeito de ter encoberto casos de padres pedófilos em sua diocese. Ele havia apresentado a demissão há um ano devido à idade – e os casos de pedofilia nem foram comentados pelo Vaticano.
Rigali ficou no cargo oito anos; nesse período, em duas ocasiões – em 2005 e em fevereiro deste ano – ele e outros representantes da Igreja Católica foram mencionados em relatórios judiciais por acobertar acusações de abusos sexuais cometidos por padres de sua diocese.
Advogados das vítimas dizem que Rigali não assumiu a responsabilidade pela proteção das crianças e não ofereceu auxílio às vítimas. Um relatório de 2005 acusa seus predecessores – incluindo seu antecessor imediato, Anthony Bevilacqua – de acobertar casos por décadas e não notificar as autoridades sobre os crimes.
“Desbatismos” na Bélgica
Os escândalos de pedofilia levaram, no início deste ano, a uma onda de “desbatismos” na Bélgica - fenômeno que consiste em dar baixa na certidão de batismo. Após a revelação, em abril de 2010, que o bispo de Bruges abusou de seu sobrinho dos 5 aos 18 anos, uma comissão montada pela própria instituição revelou os testemunhos de quase 500 casos de abusos sexuais nos últimos 60 anos, dos quais 13 acabaram em suicídio da vítima.
Apesar de não existirem cifras oficiais em nível nacional, a associação Amigos da Moral Secular (que orienta os católicos que querem se desbatizar na Bélgica) explica que, no ano passado, trabalhou com 1.700 casos de desbatismo, em comparação com os 380 em 2009 e 66 em 2008.
Na prática, a renegar o batismo, um fenômeno que se estendeu no mundo com a proliferação de grupos ateus que oferecem apoio pela internet, consiste em escrever para a paróquia onde a pessoa foi batizada para que se anote no registro que o fiel decidiu abandonar a Igreja.

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