A dança brasileira vista do palco

Yuno Silva - repórter

A relevância do potiguar Edson Claro para a dança brasileira poderá ser será vista em rede nacional no mês de outubro, quando estreia a temporada 2012 com quatro episódios inéditos da série "Figuras da Dança". Produzido pela São Paulo Companhia de Dança em parceria com a TV Cultura, o programa já coleciona 17 episódios que tramam uma teia de memórias, histórias e personalidades que deixaram sua marca e contribuíram com o desenvolvimento da dança no Brasil. O depoimento de Claro será gravado no próximo dia 3 de julho, quando Inês Bogéa, diretora da SPCD e do programa, estará em Natal.
arnaldo jg torresDiretora da São Paulo Cia de Dança, Inês Bogéa, grava documentário com edson Claro, nome que aplicou a educação física na dança e fundou cinco companhias.Diretora da São Paulo Cia de Dança, Inês Bogéa, grava documentário com edson Claro, nome que aplicou a educação física na dança e fundou cinco companhias.

Autor do método científico "Dança-Educação Física", Edson Claro foi responsável por pesquisas sobre consciência corporal e ampliou o leque da dança ao propor a possibilidade de alunos do curso de Educação Física se tornarem bailarinos. Atuando em São Paulo na década de setenta, o potiguar participou da criação do grupo de dança Cisne Negro em 1978 e ousou ao criar o grupo Casa Forte, formado por atletas-bailarinos. "Edson Claro sempre esteve muito envolvido com estudos sobre consciência corporal e como a expressão individual emerge desse entendimento", disse Inês Bogéa ao VIVER.

"O Edson é um ser inquieto e curioso, tem uma trajetória bastante forte, e por onde passa deixa sua marca: criou grupos aqui em São Paulo (Cisne Negro e Balé Stagium) e aí em Natal (Acauã, Cia de Dança dos Meninos e Gaia Cia de Dança). É uma figura que onde chega procura interagir com a dança e seus artistas e propõe caminhos", define Inês.

A série "Figuras da Dança", toda legendada em inglês para ser exibida também no exterior, produzida pela São Paulo Companhia de Dança - grupo vinculado ao Governo de SP - existe desde 2008 e está prevista sua continuidade. Para falar sobre o programa e a escolha do nome de Edson Claro como personalidade biografada, Inês concedeu a seguinte entrevista:

Inês, como você chegou ao nome de Edson Claro para ser uma das personalidades retratadas na série "Figuras da Dança"?

Edson é uma figura fundamental para entender o desenvolvimento da dança do Brasil. Quando ele começou suas atividades aqui em São Paulo, ainda na década de 1970, propôs estudos e pesquisas multidisciplinares em um período de grandes transformações na dança do mundo todo. Ao criar a possibilidade de alunos do curso de Educação Física se transformarem em bailarinos, apontou para novas perspectivas até então impensadas. Também é interessante ressaltar as parcerias que ele mantinha tanto no meio acadêmico como na cena livre. E é a partir dessa atuação que outras personalidades como dona Hulda Bittencourt e Ruth Rachou, nomes já retratados na série "Figuras da Dança", citam o nome dele durante seus depoimentos como uma referência.

Quando você fala em multidisciplinaridade, quais as áreas envolvidas?

Dança cênica, dança popular, contemporânea, moderna, clássica, Educação Física e atividades distintas do esporte. Em vez de generalizar, a pesquisa desenvolvida por Edson Claro começa a investigar como um atleta da natação, do futebol, do basquete e/ou do voley consegue perceber o corpo e como lida com isso através da arte. 

Chegou a conhecê-lo na época que atuava em São Paulo?

Não. Cheguei em São Paulo já nos anos 2000, mas conheço o Edson pessoalmente e é sempre uma delícia trocar ideia com ele. Ouvi de muitas pessoas a história e a importância dele para a dança brasileira. Como uma história puxa outra, o programa funciona como espécie de rede de trajetórias e experiências que dialogam entre si.

A intenção principal do "Figuras da Dança" é ser um registro documental ou também se propõe a servir como ponto de partida para um debate mais amplo?

A proposta é que, através da série, possamos conhecer a história da nossa dança contada pelos próprios artistas, onde um mesmo fato pode ser contado de diferentes perspectivas. 

E como surgiu o programa? É uma proposta da São Paulo Companhia de Dança em parceria com a TV Cultura?

Quando a SPCD foi criada em 2008, já tínhamos uma preocupação não só com a produção e circulação do espetáculo, mas também com a memória da dança e com a formação de plateia. Na época, eu dirigia a Companhia junto com a Iracity Cardoso, concebemos juntas o programa, e conseguimos apoio do Governo de SP para viabilizar o projeto. Em seguida, para dialogar com um público amplo, firmamos parceria com a TV Cultura para exibição dos programas

A série faz parte de um projeto maior de memória?

Exatamente. Aqui na SPCD temos o "Figuras das Dança"; a publicação anual de um livro com ensaios de pessoas de diferentes áreas convidadas para refletirem sobre a dança inspirados em alguma coisa da Companhia; e o documentário "Canteiro de obras" mostrando os bastidores, o dia a dia do bailarino e como se constrói um espetáculo.

As personalidades convidadas são definidas pela trajetória e relevância artística ou há algum recorte específico?

As duas coisas: evidenciamos a dança cênica e procuramos contar histórias que se cruzam. Convidamos personalidades para relatar sobre determinados períodos da dança cênica no Brasil sem se preocupar em definir o gênero: clássico, contemporâneo, moderno. Claro que há muito por se fazer, existem muitas pessoas preocupadas em contar essa história, então não é uma iniciativa isolada da SPCD, sem falar que não temos fôlego para tentar abarcar tudo.

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