Candidatos à presidência dos EUA movimentam US$ 2 bilhões por votos


A crise financeira e o desemprego nos Estados Unidos estão no centro das discussões entre os candidatos à presidência do país. Entretanto, dentro das campanhas de Mitt Romney e Barack Obama, eles parecem não existir. Toda a estrutura para girar as duas campanhas já ultrapassou US$ 2 bilhões em arrecadação – dinheiro gasto com campanha pró-candidato, contra seu concorrente, eventos, viagens e o mais importante: em convencer o eleitor a votar.
Do dinheiro arrecadado, US$ 1,7 bilhão foi conseguido pelos candidatos e seus partidos. Os outros US$ 300 milhões foram arrecadados pelos "Super PAC" (super comitê de ação política), grupos que trabalham em favor dos candidatos, mas de forma independente, e podem arrecadar dinheiro de maneira ilimitada. Como comparação, na campanha de 2008, antes da crise, Obama e John McCain arrecadaram cerca de US$ 1,8 bilhão, em valores já corrigidos pela inflação.
Obama discursa durante evento para arrecadar fundos para a campanha, na sexta (16), em Chicago (Foto: Pablo Martinez Monsivais / AP)
Obama discursa durante evento para arrecadar
fundos para a campanha em março em Chicago
(Foto: Pablo Martinez Monsivais / AP)
“A importância do dinheiro nas eleições é cada vez mais visível, a importância de levantar dinheiro privado. Geralmente o candidato que consegue levantar mais dinheiro acaba ganhando, a tendência é essa”, explica o Oliver Stuenkel, professor do núcleo de estudos sobre Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo.
“Nos EUA, não existe horário eleitoral gratuito, os partidos são responsáveis por pagar por seu tempo de televisão. E o tempo de televisão é caro. Os partidos têm que conseguir recursos para pagar pelo seu tempo”, explica Marcus Vinicius de Freitas, professor de Relações Internacionais da FAAP. “Uma sociedade cara e complexa como a norte-americana demanda um gasto maior, em razão de maior complexidade da sociedade.”
Com isso, as campanhas investem nos estados indecisos – os chamados swing states, que historicamente não tendem a votar sempre em um dos partidos. Os recursos são aplicados prioritariamente neles – estados já garantidos e aqueles que tradicionalmente são da oposição são deixados de lado. “O eleitor dos estados já definidos se sente meio ausente da eleição. Se ele vai para um estado swing, ele ouve o dia inteiro a propaganda de um contra o outro.”
Arrecadação
O dinheiro usado nas campanhas é arrecadado por meio de eventos – como jantares com entrada de US$ 50 mil por pessoa, por exemplo -, por doações individuais aos comitês de ação política existentes nas empresas, nas quais funcionários e sócios podem fazer doações, que são limitadas, e através dos Super PACs – grupos que não são diretamente vinculados a um candidato, mas trabalham por sua vitória.

“Não é uma relação de subordinação. Os super PACs são independentes, têm que ser independentes”, explica Freitas. Para eles, o valor de doação é ilimitado. Com o dinheiro, os grupos financiam propagandas a favor de seu candidato e contra o opositor. “Eles fazem a parte suja do negócio.”
Com isso, muitos doadores ricos optam por contribuir com os super PACs. Para ficar apenas entre as celebridades, o diretor de cinema Steven Spielberg e o ator Morgan Freeman doaram, cada um, US$ 1 milhão para o “Priorities USA Action”, super PAC alinhado com Obama e que usa o dinheiro arrecadado para financiar propagandas contra Romney.
Os partidos e comitês também compram espaço nas mídias para a propaganda a favor de seu candidato. No caso das peças publicitárias dos partidos, no final sempre há uma mensagem de aprovação do candidato – no caso de Obama: “Eu sou Barack Obama e aprovo esta mensagem”. As peças financiadas pelos super PACs, que são independentes, não possuem essa mensagem.
Eventos
O fato de Obama já ser o presidente gera um benefício: ele não precisou arrecadar nem gastar dinheiro com as primárias dentro de seu partido, como ocorreu com Romney. Com isso, muitas doações direcionadas ao partido puderam ser usadas já em sua campanha.

Mit Romney em evento com eleitores em Morrison, no Colorado, nesta terça-feira (23). Ao fundo, seu vice, Paul Ryan (Foto: Brian Snyder/Reuters)Mitt Romney em evento com eleitores em Morrison, no Colorado, em 23 de outubro. Ao fundo, seu vice, Paul Ryan (Foto: Brian Snyder/Reuters)
Isso é uma vantagem para o atual presidente, que, diferentemente de Romney, depende majoritariamente das pequenas contribuições.
“Obama não é pessoa espontânea, que se dá muito bem com a elite dos artistas dos EUA, em Hollywood, que se posicionam bastante. Essa era uma área na qual Clinton se dava muito bem. Ele passava muito tempo nos jantares que custavam US$ 50 mil para entrar. Obama é muito mais fechado nesse sentido, tem menos jogo de cintura que o Clinton”, diz Stuenkel.
Mesmo assim, tanto Obama quanto Romney gastaram bastante tempo de campanha nos jantares. E o atual presidente vem se recuperando. Em junho, a campanha do republicano arrecadou US$ 106 milhões, contra US$ 71 milhões angariados pelo democrata. Obama conseguiu superar o rival em agosto, quando arrecadou mais de US$ 114 milhões, contra US$ 111 milhões de Romney.
Entretanto, o presidente só conseguiu aumentar a vantagem em setembro, quando recebeu US$ 181 milhões de seus apoiadores, contra US$ 170 milhões de Romney.
Até agora, na campanha de Obama, 34,9% do dinheiro foi arrecadado via eleitores individuais que doaram até US$ 200 cada. No caso de Romney, apenas 17,3% de sua arrecadação foi de pequenos doadores.
George Clooney chega a jantar de gala pró-Obamaem Genebra  (Foto: Fabrice Coffrini/AFP)George Clooney chega a jantar de gala pró-Obama em Genebra em agosto (Foto: Fabrice Coffrini/AFP)
“Para os republicanos, a questão do dinheiro é mais fácil, eles têm um posicionamento de reduzir as regulações da economia, reduzir os impostos para pessoas com muito dinheiro. A tendência é que a elite financeira apoie o partido republicano, geralmente ele não tem muita dificuldade de conseguir arrecadar”, explica o professor. “Não depende tanto do carisma do candidato. A campanha do Romney, apesar de não ser uma campanha inspiradora, tem uma grande capacidade de levantar dinheiro.”
A diferença ideológica dos partidos também fica muito clara quando são analisadas as fontes das doações. Enquanto os maiores doadores de Obama são membros de universidades e empresas de tecnologia e internet, Romney tem seu apoio baseado em integrantes de bancos e fundos de investimento.
arte arrecadacao eua VALE ESTA (Foto: 1)
Incentivo
Os fundos são necessários não apenas para campanha e propaganda, mas para incentivar o voto. Como a participação não é obrigatória, os membros dos partidos se engajam para convencer a população a dar seu voto. A motivação é feita por telefone, com visitas às casas e até mesmo oferecendo transporte para os locais de votação no dia das eleições. Tudo isso para evitar a abstenção.

“Como há só dois partidos [com reais chances], o eleitor tem uma dificuldade de expressar o descontentamento de forma construtiva. Se ele acaba votando para uma terceira pessoa, é um voto perdido, nunca nenhum candidato conseguiu seriamente desafiar esse sistema dos dois partidos. Por isso, muitas pessoas enxergam que a única maneira de protestar é realmente não votar”, diz Oliver.
Mas fazer campanha em um país tão grande descentralizado como os Estados Unidos exige uma estratégia. Os candidatos se concentram, principalmente, nas regiões onde há mais indecisos. “Partidos não gastam dinheiro nos estados que sempre ganham, nem nos que historicamente sempre perdem. Eles gastam em Ohio, Flórida, Pensilvânia, Virgínia, Colorado, estados que podem mudar de cor, onde de fato há uma dúvida”, diz o professor.
Mais do que gastar nos estados indecisos, neste ano o foco tem sido fazer os eleitores saírem de casa. “O que importa para o candidato é ter uma organização de base, ele precisa ter uma presença local, uma organização, e a partir dela ligar para o eleitor, apresentar as propostas, fazer com que o eleitor se dirija ao posto de votação no dia da eleição, e não se esqueça disso. Quanto mais organizada for a campanha, mais cara ela é”, explica o professor Freitas. “É preciso aliar propaganda, presença do candidato no estado e o trabalho da base no convencimento do eleitor.”
Fonte: G1

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