Adriano AbreuDo volume distribuído, 70 por cento são cartas comerciais e boletos
Demora gera transtornos e prejuízos
A espera pela correspondência ou encomendas, sobretudo de compras feitas pela internet, gera transtornos para moradores de diversos bairros de Natal e Região Metropolitana, como a autônoma Meyre Goreth Fernandes, de 28 anos, que depende do serviço para manter o atendimento à clientela. Os cosméticos importados dependem da eficiência dos Correios. "Em dezembro, principalmente, quando as vendas aquecem e recebo muitos pedidos é que parece que o serviço fica pior", afirma.
Para receber correspondência, a dona de casa Rosângela Soares Carneiro, 31 anos, precisa recorrer ao endereço comercial do marido, no Alecrim. A região em que mora no Planalto divisa com Emaús não dispõe do serviço de Correios. "Não tem carteiro, caixa postal. Como não passa ônibus e as ruas não tem placas, eles dizem que não tem como atender e agente que sofre", observa. O resultado são faturas que chegam em atraso. Para evitar o pagamento de juros, Rosângela recorre a internet na casa de parentes para imprimir a segunda via. "De todo jeito é um incômodo e a Prefeitura não faz o que é necessário para facilitar a vida da gente", desabafa.
Adriano AbreuEdvaldo Gomes mobilizou a comunidade para levantar recursos e adquirir as placas das ruas
A mercadoria comprada pelo funcionário público Renato Goes dos Santos, de 36 anos, em sites de vendas no exterior também não chegou. A previsão para receber os produtos era de 30 dias, ou seja, início de fevereiro. Pelo serviço de rastreamento de mercadorias dos Correios é possível ver que o produto já entrou no Brasil. "Não sei o porquês não chegar ao destino final", diz. O endereço é em Nova Parnamirim.
Os prejuízos atingem também a ECT. Mesmo sem especificar o montante, o diretor regional Francisco Gilberto Barbosa, frisa que é alto o valor das indenizações pagas pela empresa por atraso na entrega de produtos, sobretudo os de horário programado, como os Sedex.
Somente em 2012, 25.136 reclamações foram registradas pela ECT, referente a atrasos e extravios. "É muito alto esse número, contanto, se comparado com o volume de objetos trabalhados (2,7 milhões ao ano) ele é ínfimo, menos de 1%", analisa Barbosa. Ao contrário do que ocorre com outras estatais, a fiscalização dos serviços não é feito por empresa reguladora e sim pela própria empresa, vinculada ao Ministério das Comunicações.
Adriano AbreuECT se programa para ser referência mundial até 2020
O serviço apresenta deficiências, apesar da realização da contratação de 322 novos funcionários, em duas chamadas, dos aprovados no útlimo concurso de 2010. "Iremos chamar, em abril, 71 carteiros e outros 35 operadores. Trabalhamos para oferecer um serviço satisfatório. No segundo semestre há a previsão de novo concurso público, com vagas para o RN", disse ele, sem especificar o quantitativo ainda não definido.
Hoje o déficit de pessoal no Estado ainda é desconhecido pela Superintendência dos Correios. O levantamento, por meio de um sistema que faz o dimensionamento populacional, deve ser concluído nos próximos meses. "Só com este dimensionamento teremos como saber qual a necessidade", afirma.
O volume de objetos entregues diariamente chega a 400 mil, em todo o Estado. Cerca de 70% são cartas comerciais - boletos bancários. Menos de 3% do volume médio de cartas distribuídas, diariamente, no Rio Grande do Norte são de cartas simples, não comerciais.
"Sonho Verde" começou a ver carteiros
Os moradores da comunidade de Sonho Verde, no bairro de Cajupiranga, em Parnamirim, começaram há cerca de 15 dias a ver carteiros circulando nas estreitas ruas projetadas. A entrega de correspondência, que acontece uma vez por semana, surge em meio ao cansaço na espera pelo ordenamento urbano que compete à Prefeitura e por iniciativas da população.
Adriano AbreuO volume diário de objetos entregues chega a 400 mil no RN
Formada há pelo menos dez anos, o loteamento de 42 quadras com 80 ruas e cerca de 600 habitantes se uniu para enumerar e nominar os endereços. A associação de moradores, explica o comerciante Edvaldo Gomes, de 65 anos, mobilizou a comunidade para levantar recursos e adquirir as placas das ruas. O morador da Rua Campo dos Girassóis mostra hoje, com orgulho, a identificação do comércio de material de construção.
"Cada morador pagou uma taxa de R$ 8 para comprar o material. E nos correios eles forneceram o nome e o CEP das ruas", explica. As placas foram fixadas há cerca de um mês e o serviço é prestado aos sábados. O morador, contudo, revela que ainda não alterou o endereço de postagem.
Antes os moradores eram obrigados a recorrer a endereço de parentes ou de trabalho em outros bairros ou mesmo cidade, como Natal, para ter acesso à cartas, faturas e encomendas postais. "Como minha família mora aqui, eu pedia a um amigo para dar o endereço do filho dele, que mora em Rosa dos Ventos, para receber a correspondência dele e a minha também", conta a vendedora Aparecia Soares, de 50 anos.
Além de Cajupiranga, os bairros de Bela Parnamirim e Nova Esperança não contam com a distribuição dos Correios. Em algumas dessas áreas não há acesso de transporte coletivo, que dificulta a mobilidade dos carteiros. O maior problema, segundo o diretor regional Francisco Gilberto Barbosa, é não ter CEP, nome de rua, número de casa. "Estamos buscando ajuda junto ao poder municipal para regularizar essa situação", disse.
Bate-papo / Francisco Gilberto Barbosa - Diretor regional do Correios/RN
Adriano AbreuEstamos investindo quase R$ 4 milhões em segurança, mas o Governo do Estado precisa fazer a parte dele - Francisco Barbosa, diretor regional do Correios/RN
A instituição completa 350 anos com os mesmos problemas de atraso. Por que isso persiste?
Nós passamos longos anos sem concurso público, de 2002 a 2010, no mesmo período em que o país mais se desenvolveu. Isso causou um grande problema na empresa como todo. Basta perceber o crescimento de Natal, Parnamirim, Mossoró, a Região Metropolitana, que recebeu muito investimento em habitação pelo governo federal e houve um boom imobiliário. Contudo, nem o poder público em suas três esferas, tampouco nós (Correios) acompanhamos tal crescimento. No último concurso de 2010 foram chamados mais de 13 mil, em nível nacional, e com a prorrogação até abril deste ano serão outros 9.303 novos empregados. Tudo para equalizar a demanda que passou por esse boom. Em todo o Estado, foram 322 já convocados, em janeiro agora contratamos 35 carteiros e em abril teremos mais 71 carteiros e 39 atendentes operacionais que atuam no balcão, para ficar em nível satisfatório. Mas o déficit de pessoal como um todo é ainda alto.
Qual o deficit hoje?
O déficit não é conhecido. O sistema está avaliando a necessidade na distribuição, dimensionando a população para ver a quantidade de carteiros. Só após esse levantamento teremos o número real.
Qual a média de reclamações por atraso e extravios?
O volume de reclamações, em 2012, foi de 25.136 referente a atrasos e extravios. É muito alto esse número, contanto, se comparado com o volume de objetos trabalhados menos de 1%. Esse número vem decrescendo, já chegou a ser bem mais alto. Mas estamos nos preparando para minimizar ainda mais.
Qual o prejuízo da empresa, em indenizações?
Essa informação não é divulgada. Mas é certo que não se pode ver o dinheiro entrar pela agência e sair nas indenizações, porque trabalhamos com produtos com horários programados que caso sejam descumpridos resultam em indenizações. Quando isso acontece a empresa trabalhou de graça.
O problema se restringe a pessoal?
Não só. A logística de transporte, apesar de contarmos com frota suficiente para distribuição domiciliar, sofremos com o problema do transporte aéreo, com as conexões que não chegam no prazo. Hoje, o transporte aéreo chega até Recife e de lá vem via rodoviária. Mas uma vice-presidência de logística nacional foi criada para trabalhar nesse sentido e se tornar, até 2020 referencia mundial na prestação do serviço, com aeronave própria inclusive para poder recuperar esse tempo.
Com a operação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, que será um hub, deverá melhorar?
A expectativa é grande. Hoje o transporte de carga se concentra em Santa Catarina, Rio de Janeiro e parte de São Paulo. O Aeroporto de São Gonçalo vai permitir que toda a carga que entrar e sair para Europa seja operado por aqui. Nosso projeto é de construção centro de importação e exportação como já existe nessas outras capitais. Isso deve reduzir custos com transporte rodoviário e agilizar os prazos de entrega. Mas são projetos a partir de 2014, quando o Aeroporto estiver operando.
O RN lidera em assalto à agências de Correios no país, isso se deve a atuação como correspondente bancário?
Isso acentuou o problema Estamos presentes em todos os municípios do Estado. E, comparando com os bancos, nós temos maior abrangência, só que sem a estrutura de vigilância deles fica mais fácil. Foram 140 assaltos ano passado, o maior índice do Brasil, felizmente sem vítimas fatais. Mas é muito alto e estamos trabalhando para diminuir. Até o final de abril, cumprindo uma determinação também, além de sistema de sensores e câmeras, 44 agências, que tiveram dois ou mais assaltos no último ano, receberam portas giratórias receberão portas giratórias e 96 agências contará com vigilância armada. Estamos investindo quase R$ 4 milhões em segurança, mas isso por si só não basta, o governo do Estado precisa fazer a parte dele que é garantir a segurança publica. Vera Cruz, Brejinho, Monte Alegre foram alvo da ação dos bandidos à luz do dia.
Como a instituição está se preparando para a Copa do Mundo?
Para a Copa, uma agência específica mais próxima a Arena das Dunas, para atender o padrão dos clientes que se imagina que teremos aqui no Estado, com atendimento bilíngüe e um padrão internacional, serviço de cartão postais. Será em Nova Descoberta, no prédio próprio que passará por reforma para atender a esta demanda. O investimento será de R$ 20 milhões, mas para todo o complexo, que ganhará um centro de distribuição avançado e outros setores, não só para a nova agência.
Hoje já se vê muitas instituições abolindo o papel, os Correios já se prepara para perder o filão de boletos bancários?
Não é bem assim. Essa entrega da correspondência comercial irá continuar. Hoje 70% do volume diário de objetos, que chega a 400 mil, é de boletos bancários. O número de encomendas de compras pela internet também é bastante alto. Mas os Correios detém somente 28% do mercado de encomendas do país. Se sair o boleto, ficarão outros tipos de serviços.
da TN
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