Falta de estrutura na Dehom trava investigações

Segundo a polícia local, o pacato município de Poço Branco não registrava assassinatos há mais de três anos. Três homens e uma adolescente grávida foram executados em casa
Segundo a polícia local, o pacato município de Poço Branco não registrava assassinatos há mais de três anos. Três homens e uma adolescente grávida foram executados em casa
Rafael Barbosa - Repórter
A chacina ocorrida na madrugada de ontem na cidade de Poço Branco, região do Mato Grande do Estado, tem tudo para entrar no rol dos casos de homicídios que permanecem  sem resolução no Rio Grande do Norte, dadas as estatísticas dos últimos anos. A TRIBUNA DO NORTE levantou informações sobre 10 chacinas ocorridas no RN que tiveram maior repercussão. Nenhum dos crimes foi elucidado até o momento. Agora, a Polícia Civil tem em mãos mais esse caso de Poço Branco.


A população do pacato município que, segundo a polícia local não registrava assassinatos há mais de três anos, amanheceu com a notícia de que quatro pessoas, três homens e uma adolescente grávida, haviam sido executadas.O fato ocorreu na casa 915 da avenida João Ferreira da Cruz, próximo ao cemitério da cidade. A polícia não tem informações precisas acerca do que ocorreu dentro residência, visto que os vizinhos pouco falaram sobre o assunto, temendo represália dos responsáveis pelo crime. Depoimentos coletados pela Polícia Civil dão conta de que os suspeitos chegaram ao local por volta da 1h em um carro preto, invadiram o imóvel e atiraram várias vezes contra os irmãos Márcio Varela Henrique, de 33 anos, João Emanoel Henrique Pereira, de 22 anos, e Ranchiel Henrique Pereira, de 18. Além dos três, a companheira de Ranchiel, Laryssa Roberta de Oliveira, 16, também foi vítima da chacina. Ela estava grávida de dois meses.


Os três irmãos morreram no local, antes mesmo de receberem atendimento médico. Laryssa Roberta ainda foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu aos ferimentos e morreu ao dar entrada no Hospital Regional de João Câmara. Os corpos foram recolhidos pelo Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) ainda na madrugada de ontem. Pela manhã, muitas moradores do município foram até à casa para ver o cenário do crime. Sem qualquer isolamento, a residência foi invadida por dezenas de curiosos que se revesavam entre os cômodos para ver as manchas de sangue nas paredes e questionar-se uns aos outros sobre o crime.

O sargento João Batista da Costa, comandante do destacamento da Polícia Militar da cidade, afirmou que João Emanoel, Ranchiel e Márcio tinham envolvimento com o tráfico de drogas na região e são apontados como partícipes de assaltos. No site do Tribunal de Justiça consta que Ranchiel Henrique  cumpriu medida socioeducativa, em virtude de um homicídio pelo qual foi acusado.

Atentados

João Batista Pereira, de 50 anos de idade, mantinha relacionamento com a mãe de Márcio Varela, com quem teve cinco filhos, entre eles João Emanoel e Ranchiel. Varela era irmão por parte de mãe dos demais. João Batista morava com os filhos na casa onde ocorreu a chacina, mas disse que há um ano decidiu se mudar do local, com medo de ser assassinado. Ele revelou que por várias vezes a residência em que morava com os filhos foi alvejada por tiros, porém preferiu não dizer quem pode ter efetuado os disparos. "No ano passado, o meu outro filho, irmão gêmeo de João Emanoel, foi perseguido até em casa depois de uma festa no carnaval", contou. Quando questionado sobre o envolvimento dos filhos com o tráfico de drogas, João Batista Pereira disse que sabia que eles consumiam entorpecentes, mas desconhecia qualquer ligação dos três com o comércio ilícito.

Mais de 300 inquéritos estão parados

A Delegacia Especializada em Homicídios (Dehom) tem mais de 300 inquéritos para investigar, segundo Roberto Andrade, um dos quatro delegados titulares da DP. Andrade afirmou que a falta de estrutura para atuar na elucidação dos crimes é o grande entrave das investigações da Dehom. A Especializada conta com 15 agentes da Polícia Civil e dois escrivães, além dos quatro bacharéis. Para Roberto Andrade, a equipe não é suficiente.

O delegado explicou que  os inquéritos só chegam à Dehom depois que a delegacia distrital de onde ocorreu o homicídio não consegue esclarecê-lo. "Perdemos muitas evidências do crime, pois as provas chegam tardiamente às nossas mãos", reclamou. As provas frágeis somadas à falta de estrutura culminam em pilhas de inquéritos acumulados sem resolução. Roberto Andrade acredita que a criação de uma divisão na polícia especializada em investigar mortes por assassinato seria a solução para o problema. "Desta forma, teríamos acesos mais rápido às informações sobre os assassinatos". 

De acordo com o delegado geral da Polícia Civil, Fábio Rogério, a divisão contaria com seis delegacias à sua disposição, atuando somente no âmbito de Natal, para investigar os homicídios.

Divisão de Homicídios

O secretário de Segurança e Defesa Social, Aldair da Rocha, garantiu que vai entregar o projeto da criação da Divisão de Homicídios de Natal para a governadora Rosalba Ciarlini até a próxima sexta-feira. "O projeto estava pronto, mas a governadora pediu algumas adaptações", afirmou o titular da Sesed. 

Aldair da Rocha está em Brasília participando de um curso relativo aos procedimentos a serem adotados durante a Copa do Mundo de 2014, mas retorna hoje para a capital potiguar.

Ele confirmou que o projeto a ser apresentado à governadora também contempla a criação de mais um batalhão da Polícia Miltar e mais uma delegacia distrital na zona Norte da cidade, dado o tamanho da região. Segundo Rocha, o Executivo estadual vai se reunir no sábado como Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para debater estatísticas e propostas para a segurança pública do Rio Grande do Norte.

Crimes sem solução 

Cachina dos chineses

Quatro pessoas foram encontradas mortas, em uma estrada carroçável, em Macaíba. A polícia encontrou os corpos no dia 7 de fevereiro de 2010, mas os estrangeiros já estavam desaparecidos por três dias. As vítimas eram: Jin Warguai, 39 anos, Zhon Maozlen, 36 anos, Lixong Lin, 36, e Zhang Haiyan, 38. O caso  já retornou do Ministério Público e segue sob investigação da Deicor. 

Cemitério de São Gonçalo

Em 25 de outubro de 2011 foram encontrados os cadáveres,  já em decomposição, de Felipe Afonso de Oliveira, 12, Felipe Pereira da Silva, 16, e um terceiro homem não identificado,  em um terreno por trás do cemitério da cidade de São Gonçalo do Amarante. O crime permanece sem elucidação.

Corpos em Jenipabu

Os corpos de três jovens foram encontrados na manhã do dia 13 de setembro de 2012 em uma estrada que dá acesso à praia de Jenipabu. Jefferson Barros dos Santos, de 19 anos, José Evangelista Galvão Guilherme, de 21, e Moisaniel Caetano da Silva, 18, estavam amarrados com fitas de tecido. O inquérito não foi concluído.

Jovens executados na zona Norte

Os corpos de João Paulo Moreira da Silva, 25, João Maria de Oliveira, 28, Gilberto Andrade Paulo da Costa, 25, e de Daniel Victor Silva Lima de Mesquita, 18, ficaram expostos por duas horas depois de serem alvejados por vários disparos de arma de fogo na rua Prefeita Joana Ferreira da Cruz, esquina com a travessa Germino Benigno, no bairro Nossa Senhora da Apresentação, no Conjunto Vale Dourado. O crime ocorreu em janeiro de 2009 e permanece sem resolução.

Bar da Amizade

Cinco homens foram executados em setembro do ano passado no Bar da Amizade, localizado em Cidade Nova. Morreram na ocasião o dono do estabelecimento, Paulo Cassiano da Silva, 39, os irmãos José Aelson Félix, de 32 anos, e José Adriano Félix, de 25, o agente de saúde Arnóbio Nascimento, de 46, morador vizinho ao bar, e Francisco Márcio da Silva, 38. Os assassinatos seguem sem resolução.

Assassinados na R. Santa Helena

Eduardo da Silva Pereira, de 21 anos, Fabiano Tavares da Silva, de 26 anos, e Josinaldo Alves da Silva, de 23, foram encontrados com marcas de bala pelo corpo, já sem vida, na rua Santa Helena, em Felipe Camarão. O crime ocorreu em 18 de fevereiro deste ano, e permanece sob investigação da polícia.

Loteamento Câmara Cascudo

Dois homens e uma mulher foram assassinados no início da madrugada do dia 25 de janeiro de 2013 no loteamento Câmara Cascudo, na zona Norte. Felipe Everton Gomes da Costa, de 18, Alana Moura de Oliveira, de 19 anos, e Alex Osíris Santos da Silva, de 23, foram alvejados por vários disparos de arma de fogo no quintal de uma residência. O caso também permanece sob investigação.

Primos mortos no Vale Dourado

Os primos Romualdo Leite Batista, de 31 anos, Luiz Henrique Ramires Silva, de 33, e João Paulo Fernandes Saldanha, 28 foram assassinados com vários tiros à queima-roupa no 'Bar da Sônia', localizado no Conjunto Vale Dourado. Fábio Fernandes Saldanha, também parente dos demais, sobreviveu aos disparos e foi hospitalizado. Os homicídios ocorreram no último dia 28 e está sendo investigado pela DP local.

Padrasto e enteados mortos no Gramorezinho

Os adolescentes Wendel Trindade Silvestre, 17, e Wesley Trindade Silvestre, 15, o padrasto deles, Davi Paulo da Silva, de 26 anos, e Carlos Fernandes foram mortos com tiros de espingarda calibre doze no Gramorezinho, em setembro de 2011. Ainda não foi descoberta a autoria do crime.

Chacina em São Gonçalo

Em novembro de 2009, dez delegados foram designados para investigar uma chacina ocorrida em São Gonçalo do Amarante. Quatro jovens foram executados na ocasião. O crime ainda não foi desvendado.

da TN

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