Prefeitura vai relocar ambulantes

Ricardo Araújo - repórter
E no meio do caminho existem barracas, boxes ou simplesmente mercadorias espalhadas pelo chão. Todos os dias, os cidadãos que cruzam as ruas mais movimentadas do Alecrim e Cidade Alta "duelam" com ambulantes e camelôs que espalham seus itens à venda no espaço destinado ao passeio público na tentativa de angariar clientes e, consequentemente, o sustento diário. Nos próximos dias, porém, esta realidade poderá mudar. Isto porque a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) iniciou ontem um levantamento das localidades disponíveis ou não ao comércio informal, além do cadastramento de todos os vendedores ambulantes que ocupam áreas divergentes daquelas a eles destinadas. O objetivo é garantir a livre circulação de pessoas e ordenar o comércio informal na capital.
Magnus NascimentoNa disputa por cliente vale tudo no comércio formal e informal do Alecrim, até expor mercadorias nas ruas tomando espaço do pedestreNa disputa por cliente vale tudo no comércio formal e informal do Alecrim, até expor mercadorias nas ruas tomando espaço do pedestre

De acordo com a secretária adjunta  da Semsur, Fátima Lino, o trabalho será feito para organizar o trabalho dos camelôs e garantir uma área livre nas calçadas, ruas e avenidas mais movimentadas de Natal para a circulação de pessoas e veículos sem o risco de acidentes ou colisões. "Precisamos atender ao camelô e à população. A gente quer trabalhar para ordenar. A exemplo do que ocorreu na área do Shopping Midway Mall, que ficou sem ambulantes, queremos ordenar nas áreas de maior comércio informal", asseverou a secretária adjunta. 

Fátima Lino ressaltou que o Ministério Público Estadual (MPE) está cada vez mais rigoroso em relação à cobrança da resolução dos problemas identificados nas calçadas de Natal nas quais, principalmente as da região central, o direito de ir-e-vir do cidadão não é garantido em sua integralidade. 

De acordo com o cronograma da Semsur, a primeira etapa do estudo deverá se estender por até 45 dias. A contar de ontem, porém, os ambulantes terão 15 dias para desocupar, em caráter momentâneo, as áreas das calçadas, ruas e avenidas da Cidade Alta. "Na primeira etapa haverá o mapeamento dos pontos críticos; o cadastro e recadastro dos camelôs e o levantamento dos locais possíveis à relocação", comentou Fátima Lino. Na segunda etapa, os ambulantes serão notificados com uma listagem dos endereços autorizados e também aqueles indisponíveis para a colocação de boxes e barracas de comércio. Além disso, os camelôs deverão se recadastrar na Semsur.

Somente após o levantamento integral da quantidade de comerciantes informais em atuação hoje nas ruas da Cidade Alta e Alecrim, a Semsur saberá se poderá ou não conceder novas licenças para atuação de ambulantes.  "A gente quer fazer um estudo técnico para que ninguém perca. Nem o camelô, nem a população. Novas licenças ainda serão analisadas", assegurou a secretária da Semsur adjunta. 

Ontem pela manhã, os fiscais da Semsur realizaram as primeiras abordagens com os comerciantes. De acordo com a Secretaria, os pontos mais críticos no Centro da Cidade são as Avenidas Rio Branco e João Pessoa, com maior concentração de camelôs que comercializam desde meias esportivas a equipamentos de informática e fotografia. Alguns deles, segundo Fátima Lino, saíram do Camelódromo - espaço destinado exclusivamente aos camelôs na Avenida Ulysses Caldas - e foram para as ruas em busca de melhores negócios.

Ao concluir os trabalhos na Cidade Alta, a Semsur irá concentrar as equipes no bairro do Alecrim. Conforme argumentação de Fátima Lino, o Alecrim concentra o maior número de ambulantes atualmente e a reordenação destes naquela área será mais complexa e demorada. A expectativa é de que o cadastramento dos camelôs do Alecrim seja iniciado em meados do próximo mês de abril. 

Circular no Alecrim é tarefa árdua

No centenário bairro do Alecrim, reconhecido pelo comércio popular, a livre circulação de pessoas é uma árdua tarefa em Avenidas como a Presidente Bandeira (Av. 2) e a Coronel Estevam (Av. 9). A quantidade de camelôs, quiosques, barracas e boxes montados ao longo das vias impede o tráfego, por exemplo, de portadores de necessidades físicas que fazem uso de cadeiras de rodas e a adequada locomoção de veículos e transportes coletivos. Os riscos de acidentes e colisões com pedestres são constantes.

Conforme detalhamento de Luís Lenilson Lima, camelô há uma década, as primeiras barraquinhas de comerciantes informais começaram a ser montadas há mais de 30 anos e eram, basicamente, de ferro e lona. Com o passar do tempo, porém, foram se adaptando às exigências da própria Prefeitura Municipal e melhoraram o acondicionamento das mercadorias. Não saíram, porém, da linha de circulação de pedestres e veículos. 

"Falaram em nos relocar para outros pontos, nos apresentaram projetos, maquetes de reforma no camelódromo da Avenida 2, mas nada saiu do papel", relembrou Luís Lenilson. Ele defende, porém, que as barracas sejam mantidas onde estão, em decorrência do número de pessoas que circulam diariamente pelas ruas do Alecrim. Já no camelódromo, o movimento é tão parado quanto o da Cidade Alta. 

"A Prefeitura tem que pensar em melhorar nossa situação no sentido de colocar mais cestos de lixo, segurança e fiscalizar. Poderia colocar também barras de segurança para garantir a circulação dos clientes entre os boxes", sugeriu o camelô. Anualmente, a Semsur realiza o censo dos camelôs instalados no Alecrim. Para este ano, a expectativa é de que o trabalho, a exemplo do que está em curso na Cidade Alta, seja iniciado até o início de maio.

Ambulantes temem perder vendas com relocação

Para os camelôs que ocupam as calçadas e trechos das avenidas mais movimentadas da Cidade Alta, a desocupação das áreas é um risco econômico-financeiro. Visto que muitos deles tiram o sustento da família a partir da venda dos itens que expõem no passeio público. Na manhã de ontem, o vendedor informal Reginaldo Costa assistia ao trabalho dos fiscais da Semsur apreensivo. "A gente quer justamente saber qual é a área que eles querem nos relocar", comentou. 

Há quatro anos instalado numa das calçadas da Avenida Rio Branco, próximo ao cruzamento com a Rua João Pessoa, o camelô dizia que as vendas nas ruas são melhores em decorrência do número de pessoas que circulam diariamente na região. Por mês, ele consegue lucrar mais que o valor de um salário mínimo vendendo itens diversos. "Aqui a gente consegue vender. A gente teme que as vendas caiam com a mudança do local", destacou Reginaldo Costa. Como sugestão, ele comentou que seria interessante fechar o trecho da Rua João Pessoa entre a Avenida Rio Branco e Rua Princesa Isabel, construindo espaços exclusivos para os camelôs.

Na defesa do mesmo argumento, o camelô Manoel Deílson disse que existem ruas na Cidade Alta que não são favoráveis ao comércio informal, como a General Osório e a Coronel Cascudo, por exemplo. "O ideal seria fechar um trecho da João Pessoa", reiterou. Há 35 anos trabalhando como camelô, Manoel Deílson que "mudou-se" para uma calçada da Avenida Rio Branco há pelo menos dois anos. "Não tinha fiscalização e muitos dos que estão aqui hoje vieram por causa disso", defendeu-se. Ele disse, ainda, que alguns dos camelôs que atuam hoje em dia nas ruas da cidade dispunham de boxes nos camelódromos. 

 O problema, porém, segundo a comerciante Graça Maria Rocha, dona de dois boxes no Camelódromo da Cidade Alta, é a falta de clientela. "Os comerciantes saem daqui por causa do movimento que é muito pequeno. Tem dia que a gente não vende nem o suficiente para pagar uma passagem de ônibus", assinalou. Ela relembrou que, há 15 anos, quando o complexo de boxes de comércio informal foi aberto na Rua Ulysses Caldas, a movimentação era melhor. "Hoje em dia, está parado", lamentou. 

 Conforme esclarecimentos da secretária adjunta da Semsur, Fátima Lino, após a conclusão dos trabalhos de levantamento, mapeamento e redistribuição dos camelôs, a Semsur irá realizar uma campanha para estimualar a circulação de clientes nos camelódromos. "Iremos montar uma cartilha, panfletos e uma campanha para promover os camelódromos", garantiu Fátima Lino. Os proprietários de boxes nos camelódromos do Alecrim e Cidade Alta defendem que melhorias na infraestrutura dos complexos sejam realizadas o mais breve possível.

Recadastramento

Feirantes e camelôs de Natal

ALECRIM 
09 de março  

CARRASCO
20 de março
27 de março

CIDADE DA ESPERANÇA
07 de abril
14 de abril

PAJUÇARA
20 de abril
27 de abril

Fonte: Semsur

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