Artigo: Só a mobilização social salva o Brasil, por Fátima Bezerra

Atravessamos um momento extremamente difícil de nossa história. Tão difícil que nos questionamos se estamos de fato acordados ou se estamos vivenciando um pesadelo. As forças políticas que protagonizaram o golpe de Estado consumado no Congresso Nacional perderam qualquer resquício de bom senso, de pudor, de respeito aos princípios inscritos na Constituição Federal.

Dois dias após a Procuradoria-Geral da República denunciar Michel Temer por crime de corrupção passiva ao Supremo Tribunal Federal, a base de sustentação do governo ilegítimo, como se nada estivesse acontecendo e sob rigoroso protesto da oposição, aprovou a reforma trabalhista na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal.

Pouco antes da votação na CCJ, o senador Renan Calheiros renunciou à liderança do PMDB no Senado, afirmando com todas as letras que Michel Temer governa o Brasil influenciado por um presidiário, numa referência ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Ainda assim, a base de sustentação do governo fez ouvido de mercador e encaminhou a aprovação de uma matéria que elimina, literalmente, os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores brasileiros.

A explicação para tamanha fidelidade ao governo ilegítimo está nas palavras do deputado Darcísio Perondi, que é vice-líder do governo Temer na Câmara dos Deputados. Ele afirmou, com uma naturalidade assustadora, que os parlamentares infiéis ao governo perderão seus cargos, e que Michel Temer utilizará o orçamento público e os programas governamentais para beneficiar os parlamentares fieis ao governo em suas bases eleitorais. Em síntese, confessou que o governo está cometendo um crime de responsabilidade continuado para aliciar apoio político no interior do Congresso, tanto para aprovar as reformas como para impedir que o STF julgue a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, uma vez que o STF necessita de autorização da Câmara dos Deputados.

Diante de um cenário tão assustador é extremamente natural que a população se distancie da política, que a população deixe de acreditar na política como instrumento de transformação e nos políticos como representantes dos seus anseios. Mas ao distanciar-se da política, aqueles que tomaram o poder de assalto e transformaram o Estado brasileiro em um balcão de negócios privados se sentem livres para fazer o que bem entendem, como eliminar direitos trabalhistas e previdenciários.

Por isso mais do que nunca é hora de abandonar o sentimento de resignação e ocupar as ruas do Brasil. Foi a mobilização social que derrotou a ditadura civil-militar e permitiu o processo de redemocratização. Foi a mobilização social que garantiu a inscrição de direitos fundamentais na Constituição Cidadã. Somente a mobilização social pode evitar a destruição do Brasil e restaurar a soberania do voto popular.

Que este dia 30 de junho, dia nacional de paralisações e mobilizações contra as reformas neoliberais e em defesa de eleições diretas, inaugure um novo ciclo de luta social. Chegou o momento de o povo brasileiro semear, nas praças e avenidas, um novo Brasil.

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