Limpeza dos bairros da zona Leste está comprometida


Yuno Silva - Repórter

Esbarrar com montanhas de entulho pelas esquinas da cidade está ficando cada vez mais comum. Não precisa ir muito longe, nem ser um observador atento, para se deparar com a mistura insalubre de lixo doméstico, metralha, poda e material que poderia ser reciclado. E a tendência, pelo menos na zona Leste de Natal, é que a situação se agrave após a recente onda de demissões que assolou a Líder, empresa permissionária da Urbana como responsável pela coleta de lixo na região, que demitiu cerca de 120 garis há 15 dias. "A empresa alega que não compensa manter a estrutura, e que não há interesse em receber novas ordens de serviço até que seja feita a licitação pública para ordenar a coleta de lixo no município", afirmou João Bastos, diretor presidente da Urbana.
Alex FernandesLixo se acumula em praticamente todos os bairros da região como, por exemplo, na Praia do Meio
Lixo se acumula em praticamente todos os bairros da região como, por exemplo, na Praia do Meio

Os garis demitidos eram responsáveis pela varrição das ruas na zona Leste, e a Urbana colocou equipes da própria Companhia para executar o serviço. O custo operacional da Urbana por ano está estimado em R$ 120 milhões, destes, metade deveria ser arrecada através da taxa de limpeza pública. "Até agora só arrecadamos R$ 28 milhões, menos da metade, o restante sai dos cofres do município. É uma conta que não vai fechar nunca desse jeito", avaliou João Bastos. Para ele, a licitação pública, suspensa no mês de junho deste ano pela Justiça, devido suspeitas de vício verificados no edital, é a "única solução para determinar responsabilidades". A licitação para cuidar do lixo de Natal, durante 30 meses, está avaliada em pouco mais de R$ 165 milhões.

De acordo com o Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Higienização e Limpeza do RN, "os constantes atrasos nos repasses" da Prefeitura ocasionou as demissões na Líder. "O município reduziu o serviço de limpeza e as terceirizadas demitem por não receber há 11, 12 meses. Elas que  estão bancando o serviço de limpeza em Natal", declarou o presidente em exercício do Sindilimp, Wilson Duarte. Para tentar garantir o pagamento pelo serviço prestado, o Sindicato buscou na Justiça o bloqueio de R$ 2 milhões da conta da Prefeitura, valor que corresponde a parte dos débitos do município com a Líder, mas suficiente para que os trabalhadores demitidos possam dar entrada no seguro desemprego e receber o FGTS. A decisão do bloqueio é da 6ª Vara do Trabalho e caso não seja cumprida, a multa diária é de R$ 20 mil reais.

URBANA
O diretor presidente da Urbana, João Bastos, informou que os bairros de Mãe Luiza e Rocas são os "campeões" na produção diária de lixo. "As pessoas precisam se acostumar e respeitar o que está sistematizado", afirmou Bastos sobre os lixões formados mesmo em áreas onde há regularidade de coleta domiciliar. Segundo ele, em bairros onde há muitos terrenos baldios, o problema do lixo "só se torna visível" quando o problema está grave. "Em áreas urbanizadas como Tirol e Petrópolis, se o carro do lixo deixa de passar um dia já se percebe o acúmulo nas calçadas. O problema é que as pessoas querem se livrar do lixo rapidamente, e ignoram os dias específicos da coleta", analisa.

A Urbana estima que a quantidade diária de lixo doméstico produzido em Natal, aproximadamente 800 toneladas, é a mesma de restos de construção e podas que são jogados nas ruas todos os dias. "O Projeto de Lei que regulamenta a aplicação de multa a quem joga lixo nas ruas precisa sair logo do papel. Só sentindo no bolso para a população se conscientizar", afirma. Para João Bastos, "quem chama um carroceiro quando faz uma reforma ou uma poda em casa está colaborando para sujar a cidade". 

A partir de pesquisas realizadas pela própria Urbana, um carroceiro transporta uma carga de até 250kg por 400 metros, em média, antes do descarte. "Acima disso ele percorre menos de 300 metros antes de jogar o entulho fora". João Bastos sugere que parte da questão pode ser resolvido com a ampliação dos chamados "ecopontos", os carroceiros poderiam despejar os entulhos. 

População contribui para o problema

"O problema do lixo aqui em Natal junta duas coisas: o descaso público com a falta de educação das pessoas", avaliou Allan Jaciratan de Carvalho, 28, quando a reportagem da TRIBUNA DO NORTE questionou os motivos do acúmulo de lixo na esquina da rua Décio Fonseca com a Travessa Café Filho, no bairro das Rocas, em frente à casa onde o garçon estava. Atualmente Allan mora em outra cidade, no interior do RN, veio apenas visitar a família e rever os amigos, e recorda que o lugar, sugestivamente conhecido como 'beco do lixo', ao lado da Escola Estadual Café Filho, sempre serviu de lixão para a comunidade. 

Até a manhã de ontem, o 'beco do lixo' estava abarrotado; e foi preciso trator e caminhão para amenizar a situação. Durante o trabalho de remoção dos entulhos, diante da presença da Urbana,   moradores ignoravam o serviço dos garis e continuavam jogando lixo com naturalidade. "Morei aqui por dois anos e é realmente difícil ver o carro do lixo passar fazendo a coleta por aqui. Como as pessoas se acostumaram, vem gente de outras partes do bairro jogar lixo aí, de caminhonete e até de caminhão. E se alguém falar alguma coisa, reclamam. É bem complicado", completou Allan.

Após 'contribuir' com a sujeira, Celi Dalvaci da Silva, 37, moradora das redondezas, disse jogar o lixo devido a coleta irregular. "Se não passa o carro vou fazer o quê?", pergunta.

MERENDA AO LADO DO LIXO

Situação semelhante é verificada na rua São Sebastião, também nas Rocas, por trás da Escola Municipal Santos Reis. "Como não passa o caminhão recolhendo, também estou jogando meu lixo aí", disse a dona de casa Angelina Cláudia Galvão, 33. Ela, a família e os vizinhos sofrem as consequências do ato: "Dá todo tipo de bicho por aqui. É rato, barata, mosquito... tive que colocar veneno aqui em casa", informou Angelina.

O problema existe há mais de dois anos, ao menos desde abril de 2010 quando a escola foi inaugurada. O lixo fica encostado no muro, bem próximo a cozinha que atende os estudantes: "Levamos o caso para o Ministério Público, a Secretaria de Educação já sabe desse problema, mas nada é feito", lamenta a diretora da escola Ivone Silva, 43. "Já fizemos o que estava ao nosso alcance: colocamos telas nas janelas na cozinha e demos aula no lixão para ver a população se conscientiza e percebe que a sujeira prejudica os próprios filhos", recorda.

A Escola Municipal Santos Reis funciona nos três turnos, atende cerca de 700 estudantes e oferece turmas de educação infantil, do ensino médio e do EJA (programa de Educação de Jovens e Adultos do Ministério da Educação).

Na rua da Esperança, em Brasília Teimosa, ainda zona Leste, o lixo se acumula ao lado do terminal de ônibus que fica a pouco metros da orla da Praia do Forte. "O carro do lixo passa uma vez por semana, mas as pessoas já se acostumaram a jogar o lixo ali", disse uma senhora que preferiu não se identificar. "Meu filho, se eu falar muito vão ficar com raiva de mim", emendou sem perder o passo, alguns segundos antes de 'rebolar' o saco com lixo que carregava e seguir para o ponto de ônibus.

Sujeira 

Em Capim Macio, área nobre de Natal na zona Sul, os moradores da rua Missionário Joel Carlson convivem com o lixo alheio de pessoas que contratam carroceiros para dar fim à metralha e podas. "A Prefeitura precisa fiscalizar para identificar quem contratou o carroceiro", disse o industriário Rosemberg Marinho, 48, que mora em frente a um terreno baldio usado como depósito de entulho na esquina da Joel Carlson com a rua Presb. Porfírio Gomes da Silva. "Há 20 anos convivemos com esse problema, sempre chamamos a Urbana, mas há três meses que ela não passa aqui. O que adianta pagar R$ 1,8 mil de IPTU? Nem pavimentada esse trecho da rua é", lamenta.
da TN

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