Carnatal indoor renova o corredor da folia com novos blocos

Natal mantém viva a tradicional festa micareta, evento que surgiu na Bahia nos anos 80 e até hoje faz a festa com as estrelas dos trios elétricos
Natal não deixa o axé morrer, Natal não deixa o axé acabar. Vide a comoção que o Carnatal ainda causa quando seus trios elétricos, artistas baianos, camarotes e foliões ganham as ruas em dezembro. A micareta natalense agora é, de fato, a maior do Brasil. São 23 anos de folia. A festa de 2014 voltou para seu antigo endereço, em Lagoa Nova, mas com ares renovados. Até domingo, sete blocos percorrerão o novo trajeto fechado, no entorno da Arena das Dunas. 

A chamada “pipoca” agora tem um espaço para ficar dentro da folia, a Arena Carnatal, que a um preço acessível deixa os foliões mais próximos de seus ídolos. No badalado Camarote Skol, show à parte: Timbalada (sexta), Oito7Nove4 (sábado), e Tuca Fernandes (domingo). Badalados blocos baianos também se instalaram na festa. A micareta é indoor, mas o entusiasmo do folião é o mesmo.
ME ABRAÇA
O ex-vocalista do Asa de Águia fará sua estreia solo no Carnatal à frente do bloco Me Abraça, na sexta e no sábado. Durval Lelys anunciou que pôs a banda “de molho” para ser reformulada, mas que ele não pararia de tocar. E não parou mesmo. A performance do cantor vai se manter, agora apostando numa fusão do axé com o rock/pop, do jeito que ele gosta. Ele já lançou uma música nova, “Ver o que restou”, e não deixará os velhos sucessos de fora, como “Dança da manivela”, “Me abraça, me beija”, “Não tem lua”, “Quebra aê”, “Dia dos namorados”, “Trenzinho do amor”. 

BALADA
Tuca Fernandes  está trazendo o Bloco Balada, um dos hits de Salvador, para Natal, que vai sair nesta sexta-feira. O cantor que já esteve à frente do Jammil e Uma Noites mantém a levada pop/romântica de seu axé, como na música “Lindo filme”, que ele lançou em agosto deste ano. Fora do Jammil desde 2011, ele não descarta os sucessos de sua antiga banda no repertório, como “Milla”, “Ê saudade” e “Chuva na janela”. Da carreira solo estão “Loucuras de verão”, “Reza a lenda”, “Fevereira”, “Pirei no seu amor”, entre outras. 

BICHO
Ricardo Chaves afirma que não puxa um bloco, mas “um estado de espírito” (veja a entrevista). É com esse entusiasmo que o bloco mais veterano do Carnatal ganhará o corredor no sábado e no domingo. Com 30 anos de carreira, o baiano vai tocar sucessos de ontem e hoje para puxar o trio, como “Acabou”, “Nossa hora”, “É o bicho”, “Deixa a chuva cair”, “Balanço do trem”, “Tô de bem com a vida”, “Só você”, “Deitar e rolar”, entre outros. 

SWINGAÊ
O bloco Swingaê está na praça desde 2009, e já cativou os foliões com seus grupos que mostram o lado mais percussivo do axé. No sábado, o bloco será puxado por Léo Santana, ex-Parangolé, o homem do eterno “Rebolation”. Léo está trabalhando atualmente a música “Abana”, que já é um hit nas rádios. No domingo, o sotaque no Swingaê será potiguar:  é a vez do Grafith ganhar a avenida com seus sucessos que misturam versões e letras de duplo (ou triplos) sentidos. E o povo desce até o chão com “Danada vem que vem”, “Gostou novinha?”, “Chico bateu no bode”, “Nada se compara a ti”, “Zumbizeira”, “Me chama de my love”. 

LARGADINHO
Cláudia Leitte já era estrela pop do axé, e como jurada do reality musical The Voice Brasil, sua popularidade duplicou. Mas a relação da cantora com Natal e o Carnatal vem de longas datas, e ela vai reencontrar os fãs nesta sexta-feira à frente do bloco Largadinho, um dos hits de Salvador. Passeando entre o axé e o pop, Claudinha tem um repertório vasto de sucesso que o povo canta junto, como “Penando em você”, “Amor perfeito”, “Falando sério”, “Cartório”, “Matimba”, “Bem vindo amor”, “Quer saber”, “Largadinho”, “Extravasa”, “Claudinha bagunceira”, “Dekolê”, “Tarrachinha”, entre outras. 

VUMBORA? 
A saga de Bell Marques solo continua: agora o ex-Chiclete vai estrear por aqui com o bloco Vumbora?, sua mais nova empreitada. Após a quinta-feira, ele vai repetir a dose no sábado. O show tem axé, rock, arrocha e pagode, costurados por músicas da carreira solo e também pelos muitos sucessos do Chiclete com Banana em 33 anos de carreira, como “Diga que valeu”, “Não vou chorar”, “Quero chiclete”, “Amor perfeito”, “Cara caramba, sou camaleão”, “A fila andou”, “Foi por esse amor”, entre outras. 

CORUJA
Ivete Sangalo, a cantora mais carismática do axé, será a musa do domingo à frente do bloco Coruja. Ivete está celebrando 20 anos de carreira, e não vai deixar nenhum de seus sucessos de fora, como “Tempo de alegria”, “Dançando”, “Não precisa mudar”, “Festa”, “Berimbau metalizado”, “Cadê Dalila”, “Corazon partio”, “Flor do reggae”, etc. 
Ricardo Chaves está de volta para relembrar sucessos do “bicho”
Bate-papo - Ricardo Chaves/Cantor e compositor

“Natal é a cidade que mais dá importância às micaretas”

Natal é a cidade que mais dá importância às micaretas. Quem afirma é um veterano de trio elétrico: Ricardo Chaves, 20 anos de Carnatal, mantém o pique inalterado quando chega a hora da festa. Em Natal, a capital onde a micareta ainda resiste com orgulho, a alegria do veterano se conserva na mesma pegada. 

Novidades no trio? 
Estou preparando um disco novo, mas bem devagar, estou fazendo com calma. Por enquanto, só lancei uma música novo, “Nossa hora”. 

Você é um veterano da micareta natalense. O que mudou em todos esse anos? 
O que mais muda é a geração de foliões. Eu senti a evolução da festa desde que ela começou, até a consolidação. Sempre teve uma magia. Claro que foi preciso se adequar às novas exigências, e o Carnatal soube fazer isso muito bem. O horário pra festa acabar, em vez de atrapalhar, ajudou a melhorar. Ano passado foi um momento delicado, mas o Carnatal segurou a onda e manteve a expectativa. 

O que mudou no público das micaretas? 
Eu tenho uma percepção diferente da coisa, pois eu não puxo um bloco, puxo um estado de espírito. Quando o folião do Bicho veste o abadá, ele se transforma, é uma alegria que passa de geração para geração. É como vestir a camisa de um time de futebol. 

Seu estilo também mudou? 
Não, é o mesmo. Acho que a palavra é fidelidade. Quando estou no trio, não estou querendo aparecer para os jornalistas, estou pensando exclusivamente no pessoal que está dançando lá embaixo. Isso aí não mudará nunca. 

Como está o cenário da música baiana, do axé e das festas na Bahia? 
A cena está bem diferente, isso não há como negar. A música que se convencionou chamar de axé passa por um momento de adequação, já que ela perdeu boa parte da maior responsável por sua difusão: as micaretas. Natal é um dos poucos centros que mantem essa chama acesa, Natal ama sua micareta. 

Fale um pouco sobre Alavonté, seu projeto paralelo com outros músicos baianos. 
Graças ao Alavonté eu tenho agora uma vida dupla. Mas é algo que fazemos apenas por prazer, tem 0% de pretensão, a gente não se cobra por nada. É apenas diversão. Já passei do tempo de fazer concessões. No Alavonté a gente conta nossa história e mostra coisas novas. Não é retrô, mostramos releituras. 

Como explica essa devoção do potiguar pelas micaretas? 
Isso é de antes das micaretas. Vem desde os tempos do Morais Moreira. O RN sempre consumiu música de festa, é um estado musical por natureza. 

TN Online

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