"Nãos que viram sim": Medina resistiu a assédio em nome do título mundial


Gabriel Medina WQS de Sunset Havaí terceira fase (Foto: Carol Fontes)
Praias paradisíacas, ondas perfeitas, surfe de altíssimo nível e belas mulheres de biquíni na areia, admirando e sonhando com o dia em que poderiam ter um momento a sós com o surfista ou quem sabe até se tornarem sua namorada. Primeiro brasileiro a conquistar o título mundial para o país,Gabriel Medina tem uma vida desejada por muitos, no mundo todo. A tentação para um jovem de 20 anos é quase uma provação, mas, pelo sonhado título, ele resistiu. Não podia perder o foco. A estratégia adotada nesta temporada surtiu efeito, e o surfista de São Sebastião (SP) acumulou excelentes resultados, como as vitórias nas etapas da Gold Coast australiana, de Tavarua, em Fiji, e Teahupoo, no Taiti. Na última etapa do Circuito Mundial de Surfe (WCT), o Pipe Masters, no Havaí, entrou na briga pelo caneco com o australiano Mick Fanning, tricampeão mundial, e o americano Kelly Slater, dono de 11 títulos. Derrotou os ídolos dos tempos de menino, fez história e ainda foi coroado com o vice-campeonato da etapa. O clima de isolamento e os seguidos dias adiamento foram quase uma tortura para o menino, mas, agora, ele está livre para curtir a vida e comemorar a conquista.
Gabriel Medina, taça, surfe, Pipeline (Foto: Pedro Gomes Photography)
- Desde o começo do ano, o Gabriel já tem tido muitos fãs e muita gente em cima, então a gente está se adaptando, não é fácil. Eu tenho de ser um pouco chato, dizer não, sobra isso para mim. Falo que não vai dar entrevista, para ficar longe dos amigos e que vamos para a concentração. No esporte, se não tiver foco, não adianta nada. O esporte não é feito só de festa, pelo contrário, são mais momentos de tensão e esforço. Depois, vem a glória. Mas é aquilo, o esforço é momentâneo, e a glória é para sempre - disse Charles Rodrigues, padrasto e treinador de Gabriel.
Além de abrir mão de festas e badalações, Medina também evitou jogar futebol para se proteger de lesões que pudessem prejudicá-lo na busca pelo sonhado caneco.
- O assédio aumentou este ano devido aos meus resultados e ao que eu tenho feito, acho que isso é natural. Em todo esporte, quando um atleta desponta, ele cria um interesse nas pessoas, todos querem saber mais dele, alguns viram fãs... É legal ter esse carinho. Eu tive que abdicar de algumas coisas pelo sonho de me tornar campeão mundial: baladas, sair com os amigos, jogar bola, mulheres... Mas são "nãos" que vão virar "sim" no futuro. É difícil resistir, mas, faz parte. Depois, nas férias, eu posso curtir numa boa - contou Gabriel. 
O surfista brasileiro Gabriel Medina comemorou o primeiro título mundial para o país (Foto: Reprodução / Instagram)
De menino tímido e hiperativo a fenômeno, Medina tem aprendido a lidar com o crescente assédio no Brasil e no mundo. Se nos tempos de criança Gabriel pulou o muro do colégio para não encontrar uma garota, na adolescência, ele "fugiu" da menina com quem estava ficando quando a viu olhando a sua sessão de surfe da areia - na ocasião, o surfista remou para o lugar mais longe possível, até sair do mar em Maresias. Hoje, o paulista diz estar "tranquilo". 
- Eu era muito tímido na infância e na adolescência. Acho que eu perdi a timidez por conta das coisas que eu tive que fazer, do meu trabalho... Eu tive que ir para a Austrália sem falar nada de inglês, então, isso me ajudou também porque eu tive que perder a timidez. Eu lembro de uma vez que eu estava surfando e tinha uma menina me assistindo. Quando eu vi que ela estava me olhando, remei até muito longe para sair do mar perto de casa e voltar para casa. E era uma menina com quem eu ficava... Sempre fui tímido, mas, hoje em dia, estou tranquilo. 
A mãe, Simone, conta que o filho sempre teve uma vida diferente das dos amigos, que podiam ficar brincando até tarde na praça da cidade, enquanto Gabriel tinha horários para comer e dormir. Tudo isso sem contar o cansaço após um dia inteiro de muito surfe em Maresias. A decisão de se tornar surfista profissional partiu dele, ainda criança. Aprendeu desde cedo a se privar de programas comuns aos jovens de sua idade. Com uma pitada de ciúmes, Simone dizia que este ainda não era o momento para o surfista namorar, e sim de brigar pelo título mundial. 
Nicole Bahls dá selinho em Gabriel Medina após eliminação do WQS de Maresias (Foto: Divulgação)
- O Gabriel tinha horário para tudo, porque ele já tinha decidido que queria ser um atleta. Nós perguntamos: "Você tem certeza? Se você for um atleta, precisa abrir mão disso e daquilo...". Atletas tem vários, o que faz a diferença são aqueles que não fazem tudo o que os outros fazem. E o Gabriel era muito jovem para tomar essa decisão, mas sempre teve muita determinação. Ele sempre teve uma vida diferente dos amigos. Na adolescência, teve que se privar de ter namoradas e de ir para baladas, ou seja, fazer tudo o que um menino da idade dele, com os hormônios à flor da pele, faria. Em relação às mulheres, acho que ainda não é hora para namoro. O mais importante do ano era levar esse título para casa.  

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