Fernando Domingo
Repórter
Com a chegada de novembro, consumidores e comerciantes já iniciam preparação para o período natalino. Na prática, porém, itens como sidras, queijos especiais e panetones, tradicionais na ceia de Natal, são vistos de forma tímida nas prateleiras. E, aves da época, como peru e chester só devem chegar às gôndolas entre a segunda quinzena deste mês e o início de dezembro. A calmaria, segundo especialistas, é fruto da incerteza de mercado acumulada em 2015. Apesar disso, o setor garante um alinhamento de preços ao consumidor menor que a inflação (9,49%) e projeta um leve equilíbrio financeiro, com aumento real de 0,4% em vendas.
“Está todo mundo meio que ressabiado em apostar muito, sem saber o que vai ocorrer. Nesse período de Natal, procuramos olhar a realidade e projetar em cima disso, levando em conta a flutuação dos preços e o cenário econômico. Mas, os alimentos mais tradicionais, da ceia, não devem deixar de acontecer”, disse Eugênio Medeiros, diretor da Associação de Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn) e empresário do ramo, com supermercado associado à Rede Mais.
A posição da associação estadual reitera também dados divulgados em pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) nesta semana. De acordo com o estudo, essa expectativa mais fraca de vendas vem refletindo no estoque varejista. Das empresas ouvidas pela entidade, 50% afirmaram estar comprando a mesma quantidade de produtos adquiridos no ano passado e 33,9% disseram que os investimentos são menores. Em 2014, o setor cresceu 2,94% em relação ao período natalino de 2013, quando a previsão inicial era uma alta real de 7,2%.
Os resultados, contudo, vão depender do interesse do consumidor. E, em uma época de retração de consumo, desemprego e crise econômica, somados à alta do dólar, o diferencial poderá ser a oferta de marcas nacionais e produtos de melhor custo-benefício. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE percorreu algumas redes de supermercados, ao longo desta semana, e verificou a realidade das prateleiras. Para isso, foi utilizado como base pesquisa do Procon Natal sobre as variações dos itens natalinos nos últimos três anos.
Preços
Em geral, há preços semelhantes aos de 2014, com sidras na faixa de R$ 8,90, espumantes por R$ 9,80, queijos especiais de R$ 65,90 à R$ 80 o Kg, e panetones entre R$ 6,99 e R$ 14,99. Pelo observado, no entanto, há variações entre diferentes redes de supermercado e marcas. O mesmo vale para vinhos, onde as fabricações nacionais são mais baratas do que as importadas, influenciadas pelo dólar. Quanto as aves especiais, os principais produtores do país – BRF e JBS - afirmaram à TN que vão manter os preços de repasse ao varejo estáveis – abaixo da inflação - em virtude do cenário econômico.
Em nota, o Carrefour disse que suas lojas “se preparam para oferecer um mix completo de itens típicos e produtos mais demandados nessa época do ano”. Já a rede Bom Preço/Walmart projeta “um aumento de 15% na venda de itens decorativos e árvores de Natal”, assim como panetones de Marca Própria na faixa de R$ 8, “que devem alavancar as vendas da categoria”.
A proposta é compartilhada também por Eugênio Medeiros, da Rede Mais. “Como é feito na nossa padaria, a cada semana, o nosso panetone é mais fresco que os de marca, feito pelas grandes indústrias com qualidade, mas, para durarem até três meses e com custo 30% maior para o consumidor. Estamos apostando neste sucesso”, afirmou o empresário. A TN entrou em contato com outras redes de supermercados em Natal, ao longo da semana, mas, até o fechamento desta edição, não obteve respostas.
Bate papo com Daniel de Plá , professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
Qual o cenário econômico do comércio para o período natalino e de fim de ano?
Os comércios voltados para a população de menor renda, as lojas mais populares, devem empatar com o faturamento do ano passado. Mas, com a inflação, em termos reais, estará existindo uma perda considerável de faturamento. Já no comércio mais sofisticado, está acontecendo um fenômeno que a gente nunca viu no Brasil. De lojas fechando em outubro e novembro, na véspera do Natal, porque não estão aguentando mais. Nesses, o sofrimento é maior, porque, normalmente, os produtos são importados, e, com a alta do dólar, tiveram aumentos de custos de até 50%.
Os produtos nacionais também vão ter uma grande variação de preços?
“Nos produtos nacionais, os comerciantes estão, dentro do possível, contendo a suas marcas e valores, porque aumentou a concorrência, e estão reduzindo as compras, para não ter sobra. Ou seja, provavelmente, por exemplo, você não vai ter grandes liquidações em janeiro. O comerciante está sendo muito cauteloso em relação à composição dos seus estoques para o Natal. Ao longo deste ano, esses preços aumentaram de 10% à 15%, mas, parte desse aumento do fornecedor foi absorvido pelo comércio como um todo”.
De que forma o comércio pode absorver aumentos de fornecedores?
“O comércio é muito dinâmico e muito rápido se adapta. Um das situações são aqueles longos parcelamentos, sem juros. Isso, praticamente, está acabando. Cada vez mais o consumidor consegue enxergar que não existe 10 vezes, 12 vezes, sem juros. O consumidor está mais racional e o comerciante, então, tem que dar descontos. Mas, para produtos de preços mais elevados, como eletrodomésticos, por exemplo, é complicado. Neste fim de ano, inclusive, eles devem ser os mais afetados”.
E como os consumidores vão se portar? O que o comércio espera deles?
“As pessoas estão priorizando quitar as dívidas com os cartões de crédito, mas, as avós, as mães, não deixam de comprar no Natal. Os itens mais baratos e de maior custo benefício levam vantagem nesse quadro. Já os comerciantes, como um todo, reduziram muito as suas compras, por cautela e na intenção de não errar na questão do estoque. Com isso, é possível até que falte produtos em cima da hora. Podemos ter surpresas nesse sentido. Essa próxima semana, pós-pagamento de novembro, vai nortear muito o comércio. As pessoas receberam e os gastos feitos serão um forte indicador para o Natal”.
da TN
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