Eles são jornalistas de grande visibilidade na mídia, são empresários, são aposentados, são estudantes, são madames desocupadas, são profissionais liberais e são, até, trabalhadores de classe social mais “baixa”, ainda que, neste segmento, existam poucos militantes do PSDB e do DEM.
Seja no mundo físico ou no virtual, os militantes desses partidos, em maioria, adotam discurso que pode ser o verdadeiro responsável por uma débâcle da oposição ao governo federal que se aprofundou após a derrota de José Serra para Dilma Rousseff, a despeito de que tal processo de desmoralização oposicionista venha se aprofundando desde 2006, quando a centro-direita demo-tucana perdeu a segunda eleição presidencial consecutiva para a centro-esquerda petista.
Entre o povão mesmo, restam cada vez menos simpatizantes da oposição conservadora ao governo petista. A centro-direita vai se mantendo viva – ainda que cada vez mais debilitada – graças a meia dúzia de impérios de comunicação que ainda conseguem fazer a cabeça de setores de classe média alta que mantêm alguma ascendência sobre setores populares das regiões Sul e Sudeste.
A ideia-força de que o PSDB e o DEM são partidos identificados com a elite branca dessas regiões, porém, não deveria vingar se dependesse do discurso desses partidos e dos seus candidatos nas três últimas eleições presidenciais. Tanto José Serra (2002 e 2010) quanto Geraldo Alckmin (2006) se apresentaram com discursos progressistas.
Na campanha eleitoral de 2010, Serra bem que tentou se inserir no coração da população mais humilde, entre essa classe C emergente que já é maioria do eleitorado brasileiro e que foi a responsável pelas três vitórias consecutivas do PT em eleições presidenciais. Mas enquanto ele fazia força para se mostrar progressista, o discurso da militância demo-tucana o desmentia.
Todos sabem que os eleitores do PSDB e do DEM mais afeitos à política – e que, portanto, falam do assunto amiúde – são declaradamente contra todas as políticas públicas que incluíram milhões na sociedade de consumo de massas que o PT construiu de 2003 para cá.
Senão, vejamos:
– A maioria esmagadora da população brasileira, que é afrodescendente, apóia as cotas étnicas em universidades, e a militância demo-tucana esbofeteia esse setor chamando de “racista” política pública que deve produzir, nos próximos anos, a primeira leva considerável de médicos negros na história da República.
– Enquanto Serra e Alckmin – bem como seus partidos – trataram, durante a década passada, de garantir que não acabariam com o Bolsa Família, a militância demo-tucana, na internet ou no mundo físico, ataca com força a política pública, que ainda chama de “bolsa-esmola” para “vagabundos”.
– Por mais que o PSDB e o DEM garantam que não reeditariam a privataria tucana, a militância desses partidos, tanto nas ruas quanto na imprensa, tece loas às privatizações, cometendo o desatino de atribuir a elas o êxito atual do país quando se sabe que a grande maioria dos brasileiros nutre profunda rejeição a tudo que foi privatizado, pois telefonia, energia elétrica etc. são hoje um inferno que tortura o consumidor.
– Por mais que a oposição negue que é um grupo político que representa exclusivamente o Sul e o Sudeste, sua militância nessas regiões adota um discurso racista e xenófobo, do que é exemplo a turba que atacou duramente os nordestinos nas redes sociais na noite da vitória de Dilma sobre Serra, em 2010, por considerar que foram os responsáveis pela derrota tucana.
– Por mais que demos e tucanos garantam que querem manter a inclusão das classes populares no mercado de consumo, vemos jornalistas de oposição ao governo petista e militantes desse grupo político nas redes sociais e até no mundo físico tecendo diatribes contra as políticas que permitiram aos pobres terem carros, tevês de plasma etc.
– Enquanto as massas deliram com o prazer e o conforto inédito de poderem se deslocar pelo país de avião, a militância demo-tucana está sempre reclamando de que, “agora, os aeroportos parecem rodoviárias nordestinas”…
Preciso dizer mais?
O que ainda sustenta a oposição, além da mídia, são grupos religiosos radicais que políticos demo-tucanos seduzem ao criminalizarem o aborto e ao caricaturarem os homossexuais. E, mesmo assim, são só alguns setores das igrejas evangélicas e da católica que se deixam seduzir pela direita apesar de serem beneficiários das políticas da centro-esquerda.
Falta à oposição (tanto à de direita quanto à de esquerda) e à mídia uma compreensão exata do fenômeno que levou a centro-esquerda ao poder. Nesse aspecto, comentário de um leitor, em post recente deste blog, explica o que esses grupos político-ideológicos, regionais e sociais não conseguem captar:
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Eduardo, boa tarde.
Posso citar como exemplo minha história de vida, nada trágica, mas também nada fácil. Fui morador do Bairro dos Pimentas, periferia de Guarulhos, de 1978 até 2002, quando me casei.
Por sinal, o último ano de FHC como presidente. Minha esposa, na época, era moradora da Brasilândia, periferia de São Paulo. Passou por momentos muito difíceis com sua família, chegando a morar em cortiço.
Casamo-nos no final do ano de 2002 e iniciamos vida nova em 2003, primeiro ano do governo Lula.
Em resumo: devido às políticas adotadas pelo governo, pude ter acesso a condições melhores para formar a minha família.
Duas delas foram crédito imobiliário farto, que me possibilitou a compra de apartamento em bairro de classe média em condições bastante favoráveis e o sonho do meu pai que consegui realizar ingressando na universidade através do PROUNI, via ENEM.
Hoje, estou no terceiro de Administração na FECAP, uma das melhores do país na área. Por conta da faculdade, já consegui uma ótima promoção no meu trabalho.
Em Guarulhos, cidade onde morava, o PT chegou ao poder em 2000 com Elói Pietá, com voto em peso do povo da periferia. E essa região, sempre desassistida, passou a receber investimentos maciços, com a construção de escolas, CEUs, hospitais e Terminais de Passageiros, fora outras benfeitorias.
Por tudo isso, não tenho motivo nenhum, pelo menos por enquanto, de deixar de votar no PT em favor do PSDB. Não sou louco de pôr em risco todas essas conquistas.
Abraços
Marcos Marques de Sousa Trindade
Enviado em 12/03/2012 às 15:41
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Marcos não é um militante, é um cidadão comum da nova classe C. Politizado, antenado, horroriza-se com o que vê a militância demo-tucana verter na internet, no trabalho, na vizinhança…
Enquanto os políticos do PSDB e do DEM e a mídia esforçam-se para apresentar Serra como um progressista que quer “ampliar” conquistas sociais, a militância desses partidos desmascara o tucano dizendo o que tenta negar reiteradamente, que ele e os partidos que o apoiam reverteriam a mobilidade social que os governos petistas inauguraram no Brasil.
Em outra escala e por outro viés, mas de forma análoga, a militância da oposição à esquerda, da qual o PSOL é o expoente máximo, também trata de fazer propaganda negativa do partido e de seus congêneres ao negar avanços que todos sentem. Apesar de prometer o paraíso para a nova classe média, a esquerda oposicionista erra ao tentar vender que não houve avanços.
Sempre fui um crítico desses partidos mais à esquerda, mas revi minha posição porque sei que abrigam políticos respeitáveis como o deputado do PSOL Jean Wyllys, um progressista que fez corar muito petista ao detectar o oportunismo das marchas demo-tucanas “contra a corrupção” e ao acusar a malandragem que gerou aquele movimento.
Para o bem do Brasil, PSOL, PSTU e PCO precisam se atualizar e enxergar quanto este povo ganhou com o PT no poder. E, a partir daí, precisam produzir um projeto viável que não produzem por falta de quadros com conhecimento da dinâmica política, econômica e social do país.
A oposição ao governo Dilma vai se desidratando devido a um fenômeno que há anos sintetizo com uma frase: ninguém precisa bater na direita porque ela se espanca sozinha a cada vez que abre a boca com sinceridade. E, como se sabe, a característica das militâncias é, justamente, a sinceridade.
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