As manifestações que tomam conta das ruas e das infovias, têm características particulares. São movidas pela rapidez e por uma comunicação horizontal. Jovens que vivem na era fluida, encontraram na interatividade telemática o exercício da combustão rebelde. Como polegarzinhas com seus touchscreens, dedilham seus smartphones e disparam rebeldias por Whatsap, Twitter e Facebook. Reivindicam visibilidade e reconhecimento! É como se dissessem: “não podem ser vistos apenas os BBBs e outras celebridades mediáticas e políticas. Queremos lugares ao sol e fama política”.
Nessa trama, media e políticos tradicionais podem sair desgastados. Prova disso tem sido o comportamento da Rede Globo durante a cobertura dos protestos. Parece defensiva, gera imagens aéreas e não mostra manifestantes que ocupam a sede da rede em SP. Os manifestantes a elegeram como inimiga autoritária e como aquela que tem interditado suas mensagens ou caricaturado o evento ao mostrar cenas isoladas de vandalismo para carimbar nos manifestantes a pecha de baderneiros. Assim gritam: “O povo não é bobo. Fora a Rede Globo”.
Corpos convulsos e românticos liberam suas barricadas de desejo e tentam fazer da política também o espaço da alegria, da criatividade e da mudança de atitude. Esta forma de expressão é própria do momento político que tem vivido o Brasil nos últimos 10 anos. A esquerda com Lula e Dilma chegou ao poder e fez mudanças, mas os jovens continuam insatisfeitos. Não basta só Reuni, Prouni, Ciência sem Fronteiras, mais Institutos Federais e mais Universidades. Eles querem mais! Querem comida, bebida, cinema, livros, transportes decentes e soberania libertária convocada a partir do ciberespaço.
Definitivamente, a juventude polegarzinha (Michel Serres) pautou as autoridades e a media. Certamente a multiplicidade apresenta infinitas singularidades. Há militantes da esquerda tradicional e também uma imensa maioria sem partido. Podem ser aqueles de gostos variados. Certamente há aqueles que apreciam a leitura de 50 Tons de Cinzas e também aqueles que lêem Toda Poesia-Paulo Leminsky. Há certamente católicos, espíritas, evangélicos, adeptos de cultos afro-brasileiros, ateus, etc. Esta aparente babel de jovens tem praticado uma política do comum. Mais do que massa tem sido uma multidão de diferenças singulares que configuram um corpo político potente em praça pública. Paris teve suas barricadas da geração de 1968, que abriu brechas civilizadoras (Edgar Morin), hoje a juventude brasileira se religa com aquele maio parisiense de utopia difusa e também abre brechas definitivas no imaginário político brasileiro.
Aqui em Natal, berço que gerou os rebentos da revolta, eles deram um recado nas eleições para prefeito e vereadores em 2012. As votações de Mineiro e Amanda Gurgel expressaram germes de mudanças políticas substantivas para a cidade. Foi o primeiro recado: nas urnas! Mas também em 2010 quando vestiram camisetas estampando foto da presidente Dilma da época de jovem militante.
Esta geração que aqui denomino de polegarzinha e adepta de Flash mobs, paradoxalmente, também é uma geração da slow mob, pois já prolongam seus protestos em praças e avenidas com bandeiras consistentes e tem ganhado a simpatia da imensa maioria dos brasileiros. Sei que corro o risco de produzir uma análise ao calor da hora e cometer equívocos. Ok.
Não quero afirmar verdades. Quero expressar também sentimentos de rebeldia e solidariedade com os filhos da pressa e da mobilização. Eu, que como militante de esquerda que antes foi às ruas protestar contra aumentos de passagens, imaginava um tempo de júbilo mais distante. Era um tempo mais lento e de uma felicidade futura distante. Diferentemente, os polegarzinhas rebeldes querem tudo-ao-mesmo-tempo- agora! Querem uma utopia de fluxos imediatos e sem a intermediação de secretários gerais. São aqueles que, involuntariamente, constroem uma potência molecular (não fixa) e demonstram que lutar com um "nada de vontade" não é o mesmo que lutar com uma "vontade de nada".
Também sairei da minha slow mob e irei para as ruas lutar por um nada de vontade. Levarei meu IPad e IPhone e me misturarei à multidão de polegarzinhas numa imensa Flash Mob. Todos às infovias e avenidas de Natal: a rebeldia tem pressa!
Alex Galeno
Professor da UFRN.
Professor da UFRN.
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