“Muitas Marias Claras ainda vão morrer de dengue”, desabafa mãe do bebê morto no Rio Ela diz que médicos não estão preparados para lidar com a dengue hemorrágica

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Bebê de quatro meses morreu de dengue hemorrágica


“Muitas Marias Claras ainda vão morrer de dengue”, disse com tristeza Maria das Graças Silva Martins, de 45 anos, mãe deMaria Clara, o bebê de 1 ano e nove meses que morreu de dengue hemorrágica na última segunda-feira (21). Ela também afirma que os médicos não estão preparados para lidar com a doença e que o governo do Estado não cumpriu sua função de instruir os profissionais do Estado do Rio de Janeiro sobre a doença.
- Os médicos não estão preparados. Muitas Marias Claras vão morrer. O governo não está preparado para lidar com a Dengue e não preparou os médicos. A minha filha poderia até morrer, mas não do jeito que foi, não com dor.
Maria Clara morreu após ficar dois dias internada no hospital particular Cemeru, em Santa Cruz, zona oeste.
- Depois que os doutores chegaram à conclusão que era dengue hemorrágica, simplesmente explicaram que é uma doença traiçoeira, que médico nenhum teria como prever.
Na sexta-feira (18), o bebê foi levado pela mãe à unidade com 40ºC de febre. Segundo a mãe, a médica receitou anti-inflamatório para uma infecção na garganta, que deveria passar em três dias.
No sábado (19), Maria das Graças lembrou que o bebê vomitou após tomar a dose do remédio durante o dia e à noite. Por volta das 4h da madrugada de domingo (20), a família levou Maria Clara ao hospital novamente. Dessa vez, a médica teria constatado desidratação e aplicado soro e uma injeção para diminuir a febre, além de pedir um exame de sangue.
Na troca de plantão, o outro médico afirmou à mãe da criança que o vômito era apenas uma reação ao anti-inflamatório e, portanto, bastava o soro e remédio contra enjoo. Às 14h, a mãe de Maria Clara observou que os olhos da filha estavam inchados e às 16h ela gritava com muita dor.
- Quando a minha filha começou só a gemer e a não se mexer mais, comecei a gritar por ajuda, por alguma explicação. O médico veio e disse que deveria ser apenas gases e, portanto, deveria levar a Maria Clara para fazer um raio X. No caminho, ela começou a vomitar sangue. Fiquei desesperada. Segundo uma médica que estava comigo, ela deve ter perdido 850 ml de sangue. Naquele momento, já sabia que ia perder a minha filha. Ela já morreu ali, nos meus braços.
Na segunda-feira (21), Maria Clara já estava na UTI, com um tubo que a ajudava a respirar, mas com o quadro estável. Às 21h30, o bebê não sobreviveu a uma segunda parada cardíaca. Para Maria das Graças, que tem outros quatro filhos, não há como reparar a perda.
- A única justiça que posso pedir é que aquele médico nunca mais atendesse nenhuma criança, pois o ser humano que não pode falar precisa de cuidados. Quem não ama a profissão, não pode ser médico. Eu não tenho diploma de medicina, então se o doutor diz que eu posso levar a minha filha para casa, eu levo. Gostaria também que a clínica avaliasse melhor os profissionais que contrata.
O corpo de Maria Clara foi enterrado na terça-feira (22) no cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, zona oeste.
Hospital nega erro médico
O hospital nega que tenha havido erro médico e informou, por meio de nota, que, em relação aos custos financeiros, "a paciente tinha um plano de saúde ambulatorial sem direito a internação. Mesmo consciente da dificuldade de remuneração por parte dos familiares, a instituição em momento algum criou qualquer tipo de dificuldade, colocando à disposição da paciente todos os recursos possíveis para reverter o quadro, o qual não foi possível obter êxito".
Quanto ao relato da família, de acordo com a nota divulgada pelo hospital, "a cobrança do exame de sangue é feita porque o serviço é terceirizado e se reporta diretamente ao cliente ou familiares para cobrança dos seus honorários, o qual não impediu que o sangue necessário fosse transfundido mesmo sem cumprimento das obrigações financeiras por parte da família".
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, a subsecretaria de Vigilância em Saúde realiza capacitações no manejo clínico de pacientes com dengue e com os profissionais de saúde, o que inclui médicos e enfermeiros, das redes públicas e privadas desde 2008 - quando ocorreu a epidemia de dengue no Estado.
Em três meses, Rio tem mais casos de dengue do que o total de 2009 e 2010 juntos
Em apenas três meses, a cidade do Rio de Janeiro teve 8.315 casos de dengue, mais que o total dos anos de 2009 e 2010 juntos (5.843), segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, divulgados nesta terça-feira (22).
O alerta da dengue já chegou à zona sul do Rio de Janeiro. O bairro Cosme Velho, onde vivem cerca de 7.300 pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apresenta proporção de 314 casos por cada 100 mil habitantes. A taxa acima de 300 já é indício de surto. Porém, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a evolução de estado de alerta para surto é avaliada de acordo com os números de casos da doença nas últimas cinco semanas. O bairro apresentou uma queda neste índice, de 15 notificações em fevereiro para oito em março. Por isso, segundo a secretaria, não dá para afirmar que há surto de dengue no Cosme Velho.r7

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