pedro ladeira/aeLuiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff participam da abertura do 4º Congresso Nacional do PT
"A única legitimidade, no limite, defensável da existência do Senado brasileiro é a sua participação em decisões de caráter nitidamente federativo", dizia o texto. "A sua função revisora quebra nitidamente o princípio da soberania popular." A defesa de um sistema unicameral não é nova no PT, mas o governo avaliou que uma ponderação nesse sentido causaria atrito desnecessário com o Senado, comandado pelo aliado José Sarney (PMDB).
Na versão preliminar do documento, o PT também pregava mudanças no Banco Central, prática recorrente em quase todos os encontros do partido. No pacote das "iniciativas populares" para as chamadas "leis cidadãs", o partido propunha "uma nova regulamentação republicana do capital financeiro no Brasil, através da mudança da composição do Banco Central, de seus procedimentos, operações e do grau de sua subordinação ao poder soberano".
O parágrafo foi limado da versão final, mas o PT manteve a cobrança para que as questões dos juros e do câmbio sejam enfrentadas com "medidas mais ousadas". O presidente do PT, deputado Rui Falcão, negou qualquer interferência do governo na proposta de resolução. O texto começará a ser debatido amanhã, receberá emendas e irá à votação no domingo. "Esperem o documento final para analisarem o conteúdo. O que vocês têm é uma proposta de resolução política, que receberá emendas dos delegados", disse ele.
Em sintonia com a presidenta Dilma Rousseff, a cúpula do PT também decidiu reforçar a cobrança por mais recursos para a saúde, com a criação de uma fonte de financiamento. Na primeira versão do documento, o tema era citado apenas de forma genérica. "O PT reafirma seu compromisso histórico com a aprovação da Emenda Constitucional 29 e o consequente retorno ao orçamento da saúde pública dos recursos a ela negados pela oposição ao governo Lula, que extinguiu a CPMF para impedir a plena consolidação do SUS no país", diz o texto da proposta.
Além disso, o PT destaca no documento a orientação para que as bancadas na Câmara e no Senado busquem "suplementares fontes de recursos necessários para a recomposição do orçamento do SUS e viabilização da Emenda 29, resolvendo as carências de financiamento do sistema".
Ex-presidente sinaliza apoio à reeleição
Brasília (AE) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou, durante a abertura do 4º Congresso Nacional do PT, que apoiará a candidatura à reeleição da presidenta Dilma Rousseff em 2014. "Oito meses de governo é muito pouco para quem vai governar esse País por oito anos", afirmou, dizendo-se "muito orgulhoso" de sua sucessora e pedindo à população tempo para que apareçam as realizações do governo Dilma.
Sobre os confrontos com aliados - que levou à saída do PR da base de apoio do governo - Lula citou as lideranças presentes de outros partidos, como o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. E avisou a Dilma que ela não estará sozinha, apesar dos desentendimentos com alguns aliados: "Tenha certeza de uma coisa, Dilma, aqui neste palanque não tem mar revolto, não tem vendaval, não tem vulcão que você não possa vencer, conte conosco".
José Dirceu é aclamado no Congresso
Durante a abertura do 4º Congresso Nacional do PT, na noite de ontem, quando o apresentador do evento chamava os ex-presidentes nacionais e os ministros do partido, o ex-ministro José Dirceu foi aclamado de pé pelos militantes. Dirceu foi recebido aos gritos de "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro".
Reportagem da revista Veja revelou, no último final de semana, que José Dirceu - apontado pelo procurador-geral da República como "chefe da quadrilha" do mensalão - mantém uma espécie de gabinete paralelo num hotel de luxo em Brasília, em que recebe ministros, senadores, deputados e até lideranças da oposição.
Compõem a mesa ao lado de Dirceu os ex-presidentes do PT José Genoino, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), as ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e o presidente do PT, Ruy Falcão.
Lula insiste para acabar com sistema de prévias
Brasília (AE) - Pressionada por pré-candidatos às eleições de 2012, a cúpula do PT deverá desidratar as mudanças mais radicais previstas no anteprojeto de reforma do estatuto do partido. O principal recuo vai ocorrer na proposta que prega o endurecimento dos critérios para a realização de prévias. Diante do impasse, a tendência do 4º Congresso do PT, que começou ontem e vai até amanhã, é diminuir as exigências planejadas para restringir as prévias, tradicional mecanismo de escolha dos candidatos, com voto dos filiados.
Em reunião marcada para hoje, as três correntes que detêm a hegemonia no PT (Construindo um Novo Brasil, Partido de Lutas e de Massas e Novos Rumos) tentarão se unificar e encontrar um meio termo para evitar que disputas na seara petista deixem sequelas na campanha eleitoral. Agora, a ideia é que, para se habilitar à prévia, o pré-candidato tenha o apoio de 20% do total de votantes no último Processo de Eleição Direta (PED). Instituído em 2001, o PED é o instrumento pelo qual os filiados escolhem as direções partidárias em âmbito nacional, estadual e municipal.
Seja qual for a decisão, porém, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuará trabalhando para barrar as prévias nas principais capitais, em 2012. Seu argumento é que a luta "do PT contra o PT" é incompreensível para o eleitor, deixa um rastro de mágoas na campanha e pode surtir efeito contrário, beneficiando o adversário.
Em São Paulo, Lula quer uma "cara nova" para enfrentar o PSDB do governador Geraldo Alckmin, o PSD do prefeito Gilberto Kassab e o PMDB do vice-presidente Michel Temer. Confiante em seu plano para ultrapassar os 30% de votos do PT na capital paulista, ele já prepara a estrutura da campanha do ministro da Educação, Fernando Haddad, à Prefeitura, e espera a desistência da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Ex-prefeita de 2001 a 2004, Marta trava uma luta pela indicação do PT à cadeira de Kassab. Há ainda as pré-candidaturas dos deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, que eram do grupo de Marta e se descolaram, e do senador Eduardo Suplicy.
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