Empresas não repõem dias parados

Para cada dia de paralisação da coleta de lixo domiciliar em Natal  são necessários 10 dias para a regularização do serviço. A informação é do presidente da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana), João Bastos, que atribui à quebra da continuidade da coleta a quantidade de lixo espalhada pela cidade. "Se a coleta não tivesse sofrido uma quebra de regularidade ao longo do tempo não estaríamos tendo problemas com a limpeza da cidade hoje", afirma João Bastos. Três empresas são responsáveis pela coleta de lixo da capital potiguar: Trópicos, que atua na Zona Norte; Líder, responsável pela coleta da Zona Leste; e Marquise, das Zonas Sul e Oeste. Ao todo, 32 caminhões e 296 garis trabalham na coleta de lixo da cidade. "O número de garis e caminhões é suficiente para atender à demanda de Natal, mas as paralisações dos garis têm prejudicado a limpeza pública", reforça João Bastos. 

Basta circular pela cidade para perceber que os problemas são muitos: ruas sujas, canteiros tomados por sacos de lixo, mini lixões em terrenos baldios, e muitas reclamações. "A cidade está um verdadeiro lixão, imunda, e não é apenas dentro dos bairros, a principais avenidas da cidade também estão tomadas pelo lixo. É um absurdo", diz a professora Maria Aparecida Nunes, 52.

De acordo com a Urbana, a região mais afetada pela descontinuidade da coleta é a Zona Leste. Bairros como Alecrim, Santos Reis e Rocas sofrem com o acúmulo de lixo a falta de coleta regularmente. Na Avenida Presidente Bandeira, por exemplo, o lixo toma conta dos canteiros. Aproximadamente de 10 em 10 metros encontra-se montes de sacos de lixo. "Isso aqui é o retrato do abandono. A coleta quase não passa mais por aqui e quando passa não dá conta de levar todo o lixo, ou seja, esse monte de lixos aqui na frente da minha loja já faz parte do cenário", lamenta o empresário João Diniz, 45.
 
O presidente da Urbana explica porque são necessários 10 dias para recuperar um dia sem coleta de lixo. "O caminhão de coleta de lixo tem um roteiro a seguir, um tempo definido para cumprir esse roteiro, e ainda a quantidade de lixo que cabe no caminhão, tudo definido pelo plano de coleta. Nos bairros onde a coleta está programada para segunda, quarta e sexta-feira, por exemplo, se falhar na segunda-feira não será possível regularizar na quarta-feira porque o caminhão vai fazer o mesmo trecho e carregar a mesma quantidade de lixo. Ou seja, independente do acúmulo de lixo da segunda-feira, na quarta-feira  só serão feitas as duas viagens previstas. Por isso que quando se para um dia, necessariamente tem que ter dez dias para regularizar o serviço". 

Para João Bastos, a falta de confiança da população na prestação do serviço faz com que o hábito de colocar o lixo para fora somente nos dias de coleta não seja praticado. "Quando o morador vê que a coleta não passou na segunda-feira ele já coloca mais lixo para fora na terça, mesmo não sendo dia de coleta. Isso é um problema cultural. A prefeitura precisa cumprir os prazos sem a quebra do horário e do dia, se isso vier a acontecer de forma natural a população vai voltar a ter confiança no serviço e voltar a colocar o lixo no dia e na hora certa para fora".

Problema está em todas as regiões

A limpeza das praias urbanas de Natal também não está agradando à população. Até agosto deste ano a limpeza era das praias era de responsabilidade da Marquise e da Líder, mas os constantes atrasos no pagamento fizeram com que as empresas entregassem o serviço à Urbana. "Nós deslocamos garis que estavam na varrição das ruas para a limpeza das praias. Não houve prejudicialidade. Não mudou nada, foi mantido o mesmo número de trabalhadores para a limpeza das praias", explicou João Bastos. Segundo ele, a varrição das ruas também não foi prejudicada com o deslocamento dos garis para as praias. "A varrição não ficou prejudicada, nós apenas diminuímos a frequência em alguns trechos e concentramos nos principais corredores da cidade".

Atualmente, 70 garis da Urbana fazem a limpeza das praias da Redinha, do Meio e Ponta Negra.

Dívidas

Os constantes atrasos dos pagamentos das empresas responsáveis pela coleta de lixo domiciliar são os motivos que vêm causando as paralisações dos garis. A prefeitura não paga as empresas que não pagam os garis que decidem parar para pressionar. Na semana passada os garis da Líder fizeram uma paralisação de três dias, o que acabou causando um grande acúmulo de lixos nas ruas da Zona Leste. Na sexta-feira foi o dia da Marquise paralisar as atividades por falta de pagamento.

De acordo com a Urbana, a prefeitura deve hoje cerca de R$ 23 milhões para a Marquise, R$ 4,7 milhões para a Líder, e R$ 4 milhões para a Trópicos. "As empresas estão trabalhando, mas nós não estamos  satisfeitos com o serviço prestado. Mas aí cai naquela história de que o pagamento está atrasado e o serviço não é prestado com qualidade por isso, e nós acabamos caindo num circuito de descontinuidade dos serviços", disse João Bastos. 

Segundo ele, a Urbana está trabalhando para regularizar a coleta e a limpeza da cidade até o fim de dezembro. "Nós acreditamos e estamos trabalhando para no fim de dezembro estarmos em uma situação confortável em relação à limpeza pública".

Plano de coleta

Os dias, horários e frequência da coleta de lixo em Natal são definidos pelo Plano de Coleta que foi desenvolvido pela equipe da Urbana e coleocado em prática no início deste ano. Baseado na quantidade de habitantes, residências e comércios de cada bairro, e ainda na na quilometragem percorrida no bairro e a distância para descarrego, é definida a coleta de lixo domiciliar. Na maioria dos bairros de Natal a coleta é realizada três vezes por semana. Quando há um maior número de comércios há um destaque  especial para a frequência. "A coleta diária acontece nos centros comerciais: Alecrim e Centro, e em Mãe Luíza", esclarece João Bastos. 

Antes da confecção deste novo plano de coleta, o serviço era realizado com base em um plano de 1991. "Era extremamente precário, quem sabia o roteiro era o motorista. Se o motorista adoecesse ninguém sabia qual era o roteiro a ser seguido", disse o presidente da Urbana.

Zona Leste é a que mais produz lixo

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a média de lixo produzida por habitante em Natal é de 0,94kg por dia. A região que mais produz lixo é a Zona Leste, onde a produção é de 1,81kg por habitante por dia.

Enquete » Como está a coleta de lixo?

"Fazia uns quinze dias que a coleta não passava por aqui. O lixo vai se acumulando aí no canteiro e fica uma sujeirada para todos os lados". 
Francisco Bezerra, 41 anos, comerciante

"A Avenida 2 pode ser chamada de avenida do lixo. O canteiro todo está tomado por lixo, a coleta não passa, e aí tem de tudo aqui: barata, mosca, rato. É um absurdo o que está se tornando a nossa cidade".
José Dantas, 36, Empresário

"A coleta está irregular faz tempo, por isso estamos nessa situação, no meio do lixo. Já dá pra usar o lixão aqui da frente como ponto de referência porque está aí há um bom tempo"
Carlos Azevedo, 50, empresário

"A limpeza da praia está muito precária. Só não está pior porque a gente mesmo faz a limpeza das nossas áreas. Antigamente a limpeza funcionava aqui, mas hoje está uma tristeza".
Gênesis Ferreira de Arruda, 49, dono de um ponto na praia

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