No agreste, um grito em defesa da água

Sérgio Henrique Santos - Repórter
Agricultores e estudantes de onze municípios da Borborema Potiguar se reuniram na tarde de ontem em São Paulo do Potengi, a 75 quilômetros da capital potiguar, no Grito da Água do Potengi. O evento pede a ampliação da vazão da Adutora Monsenhor Expedito, que abastece os municípios da região, e também revive a luta do próprio Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros, ex-pároco do município, em prol da água para abastecer regiões que sofrem com a seca.  A caminhada reuniu, aproximadamente, 500 pessoas a partir da Praça Monsenhor Expedito até o Pavilhão do Povo, no centro da cidade. 
Júnior SantosCerca de 500 pessoas participaram, ontem a tarde, da caminhada pelas ruas de São Paulo do PotengiCerca de 500 pessoas participaram, ontem a tarde, da caminhada pelas ruas de São Paulo do Potengi

A região sofre principalmente com a escassez na oferta de água. Como a adutora foi criada há 14 anos, a vazão não dá mais conta da demanda. O município de São Paulo do Potengi, por exemplo, fica sem água cinco vezes durante a semana para que o fornecimento dos outros municípios possa acontecer. Nos dias em que há água em São Paulo do Potengi, as cidades vizinhas ficam sem o fornecimento. Hoje, a demanda foi triplicada por causa do aumento da população.

Atualmente, a Adutora Monsenhor Expedito atende uma população estimada de 82 mil pessoas em 30 municípios do interior do Estado, entre a Borborema Potiguar e a região do Trairi. Os maiores, São Paulo do Potengi (16,2 mil habitantes), Ielmo Marinho (13 mil) e São Tomé (11 mil) sofrem mais com o problema de abastecimento. 

"A adutora não está mais suportando o próprio sistema. Para você ter uma ideia, na época da criação tínhamos dois mil pontos de água. Hoje temos mais de seis mil. Mais de 30 municípios são atendidos por esta adutora, porque algumas cidades do Trairi recebem a vazão dela", relata João Cabral, coordenador do Fórum do Campo Potiguar (Focampo) e da Federação dos Trabalhadores em Agricultura Familiar (Fetraf-RN). "A nossa grande luta é pela falta d'água para beber, para cozinhar, para os animais e para produzir. Há um estancamento na adutora. A sociedade está se mobilizando em prol desta causa".

Não apenas o aumento da vazão da adutora está na pauta de reivindicação dos agricultores da região de São Paulo do Potengi. Eles pedem mais atenção aumento da frota de carros-pipa, para a instalação de poços tubulares e para a recuperação dos dessalinizadores. Hoje, 80 aparelhos estão danificados.

Movimento pede ampliação da vazão da adutora

Os impactos da maior seca dos últimos 30 anos são visíveis nos reservatórios. Na barragem de Campo Grande, localizada no município, a reserva de água está em 25% da capacidade. "A água não pode ser ofertada por causa da alta taxa de salinidade", constatou Johan Adonis, assessor territorial e secretário-adjunto de Agricultura de São Paulo do Potengi. Ele conta que por causa da estiagem, alguns proprietários de terra também usam a água da adutora para irrigar suas plantações, fazendo diminuir a pressão na adutora. 

"Isso afeta principalmente o abastecimento rural. Não temos reservas hídricas suficientes", asseverou. Em abril, a Focampo e a Fetraf pretendem construir um documento, reunindo as propostas levantadas durante o Grito da Água, para cobrar do Governo do Estado uma solução definitiva para o problema da baixa vazão da Adutora Monsenhor Expedito e da estiagem. Em abril, as entidades querem  fazer uma caminhada em Natal, que deverá ser finalizada na Governadoria. 

A mobilização também acontece em outros municípios potiguares. Veja a programação

Hoje, 14: Caicó
Amanhã, 15: Pau dos Ferros
Segunda, 18: Apodi
Terça, 19: Angicos

Abril: em data ainda a ser definida, a organização prevê realizar, em Natal, o Grito da Água Potiguar, reunindo agricultores, pecuaristas e moradores de todas as regiões do Estado afetados pela maior estiagem dos últimos 30 anos.

O QUE OS AGRICULTORES QUEREM CISTERNAS - Intensificação da ação dos carros-pipa nos municípios da região do Potengi. Atualmente existem 5.500 cisternas de placa, mas como não há carros-pipa suficientes para atender a demanda, algumas cisternas passam dois meses sem abastecimento. 

POÇOS - Instalação de mais de 200 poços tubulares, principalmente para irrigação.  Os poços foram perfurados mas nunc  a houve a instalação de bombas para retirar a água do subsolo. 

DESSALINIZADORES - Recuperação de 80 aparelhos para dessalinizar água. 

ADUTORAS - Em longo prazo, a solução definitiva para o problema no abastecimento é a ampliação 
da vazão da Monsenhor Expedito, que leva água da Lagoa do Bonfim aos 11 municípios da Borborema Potiguar.

Fonte: FOCAMPO

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