Permissionários do transporte alternativo invadem a Prefeitura para cobrar a bilhetagem eletrônica unificada

Manifestantes fecharam as portas do Palácio Felipe Camarão com o lema “ninguém entra e ninguém sai”. Foto: Caninde Santos
Cerca de 100 permissionários, motoristas e cobradores das linhas do transporte alternativo invadiram na manhã desta terça-feira (24) a Prefeitura de Natal exigindo mudanças no sistema de bilhetagem eletrônica de Natal. Os manifestantes chegaram nos alternativos, pararam em frente à Prefeitura e entraram na sede do Palácio Felipe Camarão, pouco antes das 8h da manhã. Os guardas municipais não conseguiram deter a ação dos manifestantes, que logo assumiram o controle da situação e fecharam as duas portas que dão acesso às dependências da sede do Executivo Municipal.
Os permissionários ocuparam a Prefeitura com o objetivo de conseguir uma reunião com o prefeito Carlos Eduardo para discutir a unificação da bilhetagem eletrônica e inclusão do transporte alternativo na Licitação do Transporte Público que se encontra na Câmara Municipal de Natal, para apreciação dos vereadores. Eles querem que os cartões eletrônicos utilizados no transporte público também possam ser aceitos nos alternativos. Além disso, os permissionários pedem a redução da tarifa do transporte público para R$ 2. Os manifestantes também pararam os alternativos e cerca de 50 carros interditaram as ruas Ulisses Caldas e a Junqueira Aires.
Como o prefeito Carlos Eduardo está no Rio de Janeiro, acompanhando a visita do Papa Francisco ao Brasil, os manifestantes pretendem permanecer acampados no prédio até a volta do chefe do Executivo Municipal. Como forma de mediar o conflito, os manifestantes permitiram a entrada do secretário do Gabinete Civil, Sávio Hackrat, e dos vereadores Hugo Manso, Sandro Pimentel, Marcos Antônio, George Câmara, Fernando Lucena e Amanda Gurgel, além do presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Marcos Dionísio. Estes foram os únicos que conseguiram adentrar a sede da Prefeitura, pois os manifestantes sequer permitiram a presença da imprensa. Até o fechamento desta edição, os manifestantes estiveram reunidos com as autoridades e não chegaram a nenhum consenso sobre a saída do prédio.
Quando os manifestantes entraram, alguns servidores já estavam dentro da Prefeitura prontos para trabalhar. Os primeiros servidores só puderam sair depois das 9h da manhã. Justino Tavares trabalha no Protocolo da Prefeitura e conta que a invasão foi feita de forma pacífica. “Não houve quebra-quebra e nem violência. Eles entraram e ocuparam as salas e as portas da Prefeitura. Como eles estavam dentro, não tinha condições de ter expediente e eles nos escoltaram, com um cordão, até a porta. Eles estão no controle de tudo lá dentro”, afirmou o funcionário.
A jornalista Vilma Lúcia se recusou em sair da sala da comunicação da Prefeitura, que também foi ocupada pelos manifestantes. Ela disse que a maioria dos manifestantes agiu de forma normal, porém quando ela concedia uma entrevista para uma emissora de televisão foi surpreendido por um manifestante, que de forma grosseira, exigia que ela fechasse a janela imediatamente. “Vou permanecer aqui até o fim do meu expediente. Só saio quando eu quiser e se eu quiser sair e se não deixarem eu ligo para a polícia, pois será cárcere privado”, afirmou.
A copeira Francisca Copeira da Silva, de 67 anos, foi à última a ser liberada pelos manifestantes, por volta das 10h. Ela conta que os permissionários ocuparam todas as salas da Prefeitura, inclusive o gabinete do prefeito. “Tudo aconteceu muito rápido. Quando vimos, eles já estavam dentro e não podíamos fazer mais nada. Eles estavam tranqüilos e eu servi até café para eles para amenizar a situação”, destacou.
O permissionário Romildo Lino não entrou na Prefeitura. Ele chegou depois da invasão e se juntou à quase 50 pessoas que também estavam do lado de fora protestando. Ele conta que o sistema do transporte alternativo está quase falido, pois anos atrás eram 178 transportes alternativos e hoje pouco mais de 60 carros circulam na cidade. “Sem a unificação dos cartões não temos condições de operar, pois não temos demanda. O que ganhamos não está dando nem para o óleo, quem dirá para pagar a prestação dos carros, motoristas, cobradores e as multas que eles aplicam constantemente. Queremos apenas que o passageiro possa escolher o seu transporte”, disse.
Por volta das 11h, o motorista de transporte alternativo Erijackson Silva de Araújo saiu da Prefeitura. Ele conta que foi comunicado hoje pela manhã que não deveria cumprir a rota normal e que deveria seguir para a sede da Prefeitura, que ocupariam o prédio. “Não foi nada planejado. Fui trabalhar normalmente e soube no caminho do terminal que eu tinha que vir para a Prefeitura. Nosso sistema já está quase falido. Estávamos esperando a licitação do transporte público, mas a Prefeitura deixou a gente de fora de tudo”, afirmou.
Erijackson trabalha na linha 604 que faz o percurso Felipe Camarão / Centro e dos sete carros, apenas dois estão funcionando. “Vamos continuar até a unificação do sistema. Até isso, ninguém sai”, afirmou. Ele afirmou que os manifestantes não vieram preparados para acampar, mas que tem uma pessoa vendendo lanche dentro da Prefeitura.
O uso da bilhetagem eletrônica apenas pelos ônibus, segundo Maurízia Oliveira da Silva, tem causado enorme prejuízo aos alternativos, uma vez que os passageiros destes só podem utilizar o transporte se efetuar o pagamento em dinheiro. Ela possui um alternativo que faz a linha do loteamento José Sarney. Por dia, segundo Maurízia, o veículo faz seis viagens e transporta cerca de 200 passageiros, que pagam a passagem em espécie.
Levando as contas para a ‘ponta do lápis’, Maurízia explica que arrecada diariamente a média de R$ 440. Porém, os custos são muitos. Para o abastecimento do veículo a diesel, é gasto R$ 150 por dia, além dos pagamentos com a diária do motorista (R$ 70), do cobrador (R$ 60), do fiscal (R$ 30) e a alimentação dos funcionários (R$ 30). “‘Sobra R$ 100, mas ainda precisamos contar com a manutenção do veículo, com os impostos e com as multas, que são constantes”, diz, acrescentando que os fiscais da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) ficam até altas horas nas paradas para tentar flagrar possíveis infrações. “Apenas um pneu furado por conta da grande quantidade de buracos na cidade custa R$ 800″, completa.
O presidente do Conselho dos Direitos Humanos, Marcos Dionísio disse que será feita uma comissão entre os permissionários e com a presença de vereadores, para discutir junto à administração municipal o melhor caminho a ser trilhado para a resolução do conflito e que a normalidade seja restaurada.
Durante toda a manhã, além da guarda municipal, a Polícia Militar também esteve em frente à Prefeitura Municipal para garantir a segurança do patrimônio público. O tenente coronel Júlio Cesar conta que a Polícia Militar foi comunicada que um grupo de manifestantes adentrou a Prefeitura com o objetivo de serem recebidos pelo Prefeito. “Viemos para avaliar a situação. Já existe uma guarnição em frente à Prefeitura impedindo a entrada de novos manifestantes e até o presente momento na há nenhuma ação que justifique a entrada da Polícia Militar. Não fomos solicitados para isso, mas se for preciso, será avaliado pelos superiores”, destacou o tenente.

Semob
A secretária de Mobilidade Urbana de Natal (Semob), Elequicina dos Santos, explicou que já está previsto no projeto de licitação do transporte público a disponibilização de um bilhete eletrônico único que poderá ser usado tanto nas linhas de ônibus quanto nos transportes alternativos. A medida, porém, depende da aprovação do projeto de lei que autorizará a licitação nos transportes públicos de Natal. No projeto, de acordo com Elequicina dos Santos, ficarão definidas linhas “complementares” a serem cumpridas pelos transportes alternativos. A titular da Semob não detalhou quais seriam os trajetos das linhas.
No entanto, o vereador Marcos Antônio afirmou que o projeto, tal como foi apresentado à Câmara Municipal, quase que extingue o transporte alternativo. “Ele dá apenas uma brecha para a permanência do transporte alternativo, funcionando apenas como transporte suplementar, servindo como uma espécie de interbairros e isso não aceitamos”, afirmou.
do JH

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