Custo mensal do Hospital Regional de Canguaretama é de aproximadamente R$ 684 mil por mês. Foto: José Aldenir |
Distante 70 quilômetros de Natal, o Hospital Regional Professor Getúlio de Oliveira Sales, conhecido como Hospital Regional de Canguaretama, é o retrato da saúde pública do interior do Estado. O Hospital dispõe de uma estrutura física com 60 leitos, além de salas de pré-parto, de parto, de esterilização, de pequenas cirurgias, lavanderia, centros cirúrgico e obstétrico, além de centro de recuperação operatório (CRO). Os 60 leitos do Hospital estão cadastrados no Sistema Único de Saúde, divididos em Clínica Cirúrgica (10), Clínica Obstétrica (16), Clínica Médica (20) e Pediatria (14). Os leitos de obstetrícia foram desativados desde o mês de maio. Os leitos, apesar de prontos para receber os pacientes, estão, em sua maioria, vazios. Na manhã de hoje (12), dos 60 leitos disponíveis havia apenas cinco pacientes internados, sendo três de clínica cirúrgica e dois de clínica médica. Apesar da estrutura física, o Hospital padece com a falta de profissionais.
Na manhã desta quinta-feira (12), apenas um ortopedista e um ultrassonografista estavam de plantão no Hospital Regional de Canguaretama, exclusivo para atendimentos ambulatoriais. Por plantão, era necessário, pelo menos um médico clínico geral e um pediatra, mas a quantidade de profissionais é insuficiente para fechar a escala do mês e faz com que, durante alguns dias do mês, um clínico atenda toda a demanda da urgência e emergência ou vice-versa, ficando o pediatra responsável por todo o atendimento do plantão do hospital. O clima na manhã de hoje era de apreensão entre os funcionários, pois se chegasse alguma ocorrência grave não havia médico no Hospital para realizar os primeiros socorros.
De acordo com a direção, o Hospital está habilitado para oferecer à população serviços de ambulatório, anestesiologia, cirurgia, cardiologia, clínica médica, farmácia, ortopedia, nutrição, pediatria, psicologia, enfermagem, urgência e emergência, esterilização e serviços de apoio diagnóstico e tratamento (SADT) como ultrassonografia, radiologia e raios-X e laboratório clínico. Apenas da gama de serviços que o hospital está habilitado, a realidade, na prática, é outra. A falta de profissionais e ausência de material e equipamento tem comprometido a maioria dos serviços.
O corpo clínico do Hospital conta com cinco médicos clínicos gerais, sendo que três estão afastados por licença médica, e cinco pediatras, sendo que dois também estão afastados pela Junta Médica. Toda segunda-feira era dia de atendimento com o cardiologista, mas o profissional está afastado por problemas de saúde. O otorrinolaringologista que trabalhava na unidade está de licença prêmio.
O Hospital dispõe de apenas um cirurgião geral que realiza cirurgias todas as quartas-feiras. O Hospital realiza uma média de dez cirurgias eletivas, de esterctomia, vesícula, hérnia, vasectomia, por semana. O aparelho de raios-X está quebrado há mais de dois anos e quem precisa do exame tem que ser deslocado para o Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena, no município de Parnamirim. O Hospital conta com dois ultrassonografistas. Hoje, um estava de plantão e cerca de 30 pessoas esperavam por atendimento. O detalhe é que o hospital não dispõe de aparelho de ultrassonografia e os próprios profissionais que tem que levar o equipamento para realizar os exames.
A enfermaria infantil conta com oito leitos, mas não havia nenhuma criança internada, pois não havia médico para acompanhar os pacientes. O mesmo acontece nas diversas salas de enfermarias: os leitos vazios à espera de pacientes. A sala de parto ainda está à espera de uma parturiente. Os oito leitos de observação obstétrica estão desativados. Na urgência, o médico divide a sala do consultório com a sala de pequenas cirurgias.
O setor de esterilização do Hospital de Canguaretama funciona em condições precárias. O aparelho de autoclave está quebrado e todo o material está sendo esterilizado em outras unidades sem o transporte adequado, segundo relata alguns profissionais. O Hospital dispõe de uma nova autoclave que ainda está na caixa, mas ainda não está em funcionamento, pois precisa ser feito modificações na estrutura física da sala. Na sala de medicação da urgência, a situação não é diferente. Os medicamentos são acondicionados em condições precárias, próximos a uma parede com mofo.
Mudança
Desde o ano passado que a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) vem implementando mudanças no funcionamento do Hospital Regional de Canguaretama. Inicialmente, quatro anestesiologistas foram transferidos para o Hospital Santa Catarina, na zona Norte de Natal. Em maio, a Sesap fechou o serviço de obstetrícia do Hospital de Canguaretama e transferiu os profissionais, quatro obstetras, para o Hospital Regional Monsenhor Antônio Barros, no município de São José de Mipibu. Agora, a Secretaria pretende transferir o único cirurgião que trabalha no Hospital de Canguaretama para o Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena.
O enfermeiro Jardson de Oliveira relata que hoje, quem precisa fazer o parto precisa se deslocar até o município de São José de Mipibu, distante 40 quilômetros do município, ou para Natal, distante 70 quilômetros. No entanto, é comum acontecer de pacientes chegarem à unidade hospitalar em período expulsivo (em trabalho de parto) e os médicos não quererem realizar o parto por não existir as mínimas condições de realizá-lo, pois além dos profissionais, toda estrutura física também foi transferida para São José de Mipibu. Como não há mais sala de parto, o enfermeiro conta que, por vezes, tem que fazer o parto na sala do centro cirúrgico.
“Isso é um absurdo. A paciente hoje chega parindo na calçada e não tem quem atenda. Semana passada, eu tive que realizar o parto da paciente dentro da ambulância, pois o bebê já chegou prestes a nascer. O problema é que o serviço mais próximo é muito longe e se houver qualquer intercorrência pode colocar em risco tanto a vida do bebê, quanto da parturiente. Esse hospital tinha tudo para funcionar a contento, bastava apenas vontade política para fazer as coisas acontecerem. Mesmo com estrutura precária, conseguiríamos dar uma boa assistência à população”, afirmou o enfermeiro.
O Hospital Regional de Canguaretama atende, além do próprio município, as cidades de Canguaretama, Baía Formosa, Vila Flor, Montanhas e Pedro Velho, com uma população estimada de 70 mil habitantes. Antes de o setor de obstetrícia ser fechado, o hospital realizava uma média de 30 partos por mês.
Reunião
Nesta sexta-feira (13), representantes da direção do Hospital Regional de Canguaretama participarão de uma reunião com técnicos da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) para discutir e traçar um novo perfil de atendimento do Hospital. A ideia da Secretaria é fazer uma pactuação com os municípios da região para que os gestores assumam a responsabilidade pela gestão e funcionamento do Hospital.
De acordo com informações da Sesap, o custo mensal do Hospital Regional de Canguaretama é de aproximadamente R$ 684 mil por mês. Dados referentes ao mês de maio apontaram que o Hospital realizou 23 internações, cinco cirurgias, 14 partos (no último mês que se realizou parto na unidade), 9.814 atendimentos ambulatoriais e 1.225 diagnósticos laboratoriais clínicos. Em 2012, Canguaretama encaminhou cerca de 300 parturientes de parto de risco habitual (responsabilidade dos municípios) para a rede hospitalar de Natal.
Pacientes temem pelo fechamento
O clima de indefinição sobre o futuro do Hospital Regional de Canguaretama preocupa tanto os funcionários, quanto a população. A agricultora Francisca Raimundo da Silva, de 48 anos, se mostrou preocupada com a possibilidade de fechamento do serviço. “Isso aqui não pode acabar, pois mesmo com a situação precária é o único serviço de saúde que funciona na região. Já não realiza mais partos aqui, agora vão querer acabar com o hospital? Isso é uma vergonha”, afirmou Francisca Raimundo, que mora na zona rural de Canguaretama.
A dona de casa Simone da Silva Lima mora no distrito de Cuité, no município de Pedro Velho, distante 18 quilômetros de Canguaretama. De dois em dois meses ela vai ao Hospital de Canguaretama com a filha que faz um tratamento ortopédico. “Não podemos ficar sem esse serviço, pois não tenho condições de ir para Natal sempre que precisar de um ortopedista. Seriam quase R$ 200 para cada viagem e sairia muito caro. Não é interessante para ninguém que esse hospital feche. Ao invés disso, o governo deveria resolver esse hospital e oferecer melhores serviços à população. Pagamos impostos tão altos e o mínimo que merecemos é o retorno disso”, destacou Simone Lima.
do JH
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