‘O governo precisa captar recursos para investimento’

Aldemir Freire - economista
Com um orçamento apertado, do qual resta pouco menos de 2% para investimentos diversos, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte tem um grande desafio ao longo de 2015. Com uma produção industrial inferior a de unidades federativas vizinhas, o estado potiguar deverá crescer menos que o percentual previsto para a Região Nordeste, pareando seus resultados com os da economia do país, que deverá amargar índices próximos de 1% ao final deste ano.   

A pedido da TRIBUNA DO NORTE, o economista Aldemir Freire, que compôs a Equipe de Transição do governo Robinson Faria, analisou o cenário econômico local e apontou as maiores dificuldades, desafios e possíveis medidas para que o estado potiguar retome o prumo e navegue pelos mares do desenvolvimento e geração de divisas. A captação de recursos, a elaboração de projetos estruturantes e a correta aplicação do dinheiro público despontam como os maiores desafios da nova gestão governamental para que o estado saía da letargia econômico-financeira para o qual foi conduzido. 
O que é preciso ser feito para que o estado potiguar volte a crescer?
 Na verdade, nós não somos uma ilha. Dependemos  do crescimento e reaquecimento da economia brasileira. Nós dependemos, em grande parte, dessa retomada. Num curto prazo, não há muito o que fazer. Num longo prazo, basicamente, o setor público – Estado e Municípios – pode bancar um volume maior de investimentos, que acabam dinamizando a economia. Os investimentos públicos são o caminho para ajudar na retomada desse crescimento. 

Os Estados e Municípios acabam dizendo que tem dificuldade financeira de bancar isso...
Para o Estado, eu avalio hoje que as contas estão divididas em duas partes. Há o orçamento de custeio, que é apertado mesmo. É a parte que se paga fornecedor e pessoal. Com a junção dos fundos, deu uma folga de alguns meses à gestão da folha, Mas, depois voltaremos ao mesmo problema anterior. E tem a parte de investimentos. O governo Rosalba Ciarlini investiu cerca de R$ 250 milhões/ano. Se pegarmos um Orçamento Geral na casa dos R$ 10 bilhões, o investimento de 2,5% é muito baixo. Se não for o mais baixo percentual do Nordeste. A gente precisaria, de pelo menos, três vezes mais. A gente precisar investir uns R$ 750 milhões/ano. O governo Robinson Faria, talvez, tivesse que investir R$ 3 bilhões nesse primeiro ano de governo. Se olharmos o que existe de financiamentos pré-aprovados ou aprovados, convênios com o Governo Federal, empréstimos com o Banco Mundial e outros, até que você tem um volume de recursos parecido com esse. É possível o próximo governo trazer um volume de investimentos maior que o anterior. Claro que tem o grande problema que é o dinheiro para as contrapartidas.  Mas, é preciso que o Estado, no mínimo, triplique seu volume de investimentos.

Como isso seria possível?
De imediato, não vai conseguir aumentar a receita própria para triplicar o valor de investimento. Não é possível. Tem que captar recursos do Governo Federal, através de parcerias, ou toma emprestado. O empréstimo junto ao Banco Mundial ainda não surtiu efeitos de investimentos, pois ainda está na fase de contratação de consultorias. Obras, ainda não são vistas. Tem os empréstimos, mas é preciso ser capaz de captar recursos dos Ministérios, a fundo perdido, e complementar com recursos próprios. Aumentando o ritmo de investimento, vai melhorar o desempenho da economia e, consequentemente, aumentar a arrecadação do Estado.

Como é possível gerenciar o pagamento da folha, dos fornecedores e ampliar investimentos?
Se o Governo do Estado se concentrar em ser gestor da folha,  se acaba no primeiro ano. Se o Governo não promover investimentos, não tratar de captar recursos, acaba. Talvez o maior problema nem seja a capacidade de captar, mas de executar. 

Essa problemática envolve questões de gestão e políticas ou somente financeira?
Tem desde problema de não se ter recursos para a contrapartida, mas também questões de gestão e políticas, claro. É preciso, porém, aprender a se fazer gestão de caixa. È preciso aprender a fazer cortes coletivos e corretos. É um corte burro quando se corta tudo. Tem que se preservar os recursos de investimentos e contrapartidas. É fundamental que se gerencie esse volume de recursos e que seja capaz de captar mais de terceiros para complementá-los. A aplicação e a prestação de contas são de suma importância. É preciso uma gestão organizada, centralizada e controlada de todos os projetos para que não se tenha dificuldades de se contrair empréstimos ou assinar convênios.

Foram estes os problemas do governantes anterior?
Um dos problemas do governo Rosalba foi a captação de recursos. Foram captados poucos via convênios. O que foi captado, não tinha contrapartida. Existiram inúmeros episódios de devolução de dinheiro para a União pois não tinha a contrapartida. 

O que causa perdas além da falta de dinheiro para a contrapartida?
Muitas vezes faltam bons projetos. Além da capacidade da contrapartida. É preciso gente que acompanhe os projetos. O Estado tem dificuldade de executar por causa das desapropriações, por exemplo, que emperram na Justiça e algumas são absurdas. 

O que torna o Rio Grande do Norte um estado frágil economicamente?
Os outros Estados, proporcionalmente, investem muito mais que a gente. O Estado precisa retomar essa capacidade de investimento. Nosso setor industrial não tem evoluído significativamente nos últimos anos. A questão do Progás é um nó, porque a Petrobras cobra R$ 150 milhões da Potigás e o Estado está errado no processo e a Petrobras ameaça não renovar o contrato em abril. O Proadi precisa ser revisto de uma forma ampla. 

Quanto cresceremos em 2015?
 No geral, a economia do RN deve crescer, em 2015, não muito distante do que vai crescer a economia brasileira. Nos últimos anos, há um tendência do Nordeste crescer mais do que o Brasil. Mas o RN não tem acompanhado essa dinâmica. Eu acho que nós vamos crescer razoavelmente próximo do que vai crescer a economia brasileira, do ponto de vista real. Nós vamos crescer menos de 1%. Provavelmente, o Nordeste vai crescer mais que a gente. 

O Comércio amargou um 2014 com juros e inflação alta. O Que muda esse ano?
O crescimento em termos reais do Comércio do RN em 2014, até outubro, foi de 1,9%. Então, o crescimento do ano passado será em torno disso. A gente vendeu menos automóveis em 2014 do que em 2013. O emprego no Comércio ao longo de 2014 também não foi bom. Refletindo, justamente, esse descompasso. Embora tenha gerado saldo positivo, o Comércio esteve longe dos outros anos. Para 2015, eu espero um Comércio não crescendo de forma espetacular. Talvez haja uma recomposição, mas não acho que o crescimento se situe acima dos 5%. A gente vai continuar gerando empregos, vai continuar crescendo, mas não vai ser tão expressivo.

A economia natalense, por exemplo, gira em torno da prestação de serviços. Como está o cenário para este setor?
Continuará sendo o grande empregador do estado. Quem vai puxar a geração de empregos no Rio Grande do Norte em 2015, provavelmente, vai ser o setor de Serviços. Puxando, junto com ele, o Comércio. Mas o Comércio bem menos que o Setor de Serviços.

A Indústria vai receber um oxigênio na produção?
 A gente continuará padecendo. Assim como a Indústria brasileira. Eu não vejo, ainda, uma recuperação do setor industrial. Apesar de você ter um câmbio favorável, que talvez iniba um pouco a entrada de importados que concorrem um pouco com a gente aqui. Eu não vejo, porém, a Indústria do Rio Grande do Norte voltando a contratar em 2015.

O ritmo de construções caiu. Por qual razão?
A Construção Civil teve um ciclo muito bom, mas quando encerraram-se as obras da Copa do Mundo, teve um desaquecimento grande, que ainda não foi retomado. Precisaria de um pacote de investimentos públicos, desde o Minha Casa Minha Vida, mas também as famosas obras de mobilidade que tem programadas, mas que ainda não saíram. Desde a conclusão do Prolongamento da Prudente, as obras que estão previstas para complementar a BR-101, o gancho de Igapó e os acessos ao aeroporto num sentido mais geral e a duplicação não somente da Reta Tabajara, mas da BR-304. Se você tiver um pacote de investimentos deslanchando em 2016, você vai ter um reaquecimento do mercado de construção civil. Se não tiver esse pacote, a construção civil vai ser um setor que não vai gerar muito empregos.
da TN

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