A democracia precisa da escola – Por Sofia Cavedon

Nesse momento que começa o ano letivo renova-se a esperança na educação. Longe de reproduzir o senso comum, que resume a um problema de educação (...ou de polícia) todos os males que nos afligem, é preciso reafirmar o papel estratégico que ela cumpre e animar professoras e professores.
A instituição Estado, que buscamos construir ao longo dos anos para assegurar os direitos da pessoa, sua liberdade e segurança não conseguiu ainda cumprir suas promessas de libertar o indivíduo das arbitrariedades, das injustiças e da repressão.
Chegamos ao século XXI com 1% da população detendo cerca de 50% da riqueza mundial e os restantes 99% enfrentam epidemias letais, crise de abastecimento de água e de energia, violência.
Para a filósofa Marilena Chauí, só a democracia pode instituir uma sociedade justa. A democracia se apoia na noção de direito, permite o reconhecimento do conflito, opera o processo político de criação de direitos de forma aberta e permeável.
Na democracia, o Estado é gerido por governantes que detém o poder emanado do povo. Isso significa que o poder pertence ao cidadão e à cidadã que delegam-no sem, no entanto, abdicar do direito da participação direta, através de conselhos, plebiscitos, etc.
Nesse Estado está inserida a escola que se destina a atualizar, com cada sujeito, a construção histórica de sua condição, do contrato social que organiza sua vida.
Uma sociedade, por ser histórica, diz a filósofa, não é estática, não cessa de trabalhar suas divisões, suas tensões - assim também os homens e as mulheres, o conhecimento, os valores.
Há um mal-estar na escola: carente de suporte, de recursos e de respeito, vigiada por todos, tensionada pela disputa de hegemonia que permeia os distintos interesses sociais e a sucessão de governos. A superação desse mal-estar está no desafio de entender, junto com alunos e comunidade, que Estado estamos construindo, que regras e práticas constituem sua gestão, a serviço de quem está o desempenho das gestões que estiverem destituídas de participação popular.
Já conseguimos avançar na compreensão de que a sociedade é produto e produtora da instituição Estado, de que meninos e meninas, quanto mais democráticos e participativos aprenderem ser, mais protagonistas de uma sociedade democrática serão.
Se a matemática explicar melhor a economia, a inflação, a tributação que financia as políticas públicas, explicitando os mecanismos pelos quais quem tem pouco contribui mais do que os poucos que têm muito; se os corpos das crianças, dos jovens e das adolescentes estiverem aprendendo e se libertando, porque a educação física ensina que não há separação de corpo e mente e que o corpo reprimido não aprende e gera violência; se pela história, geografia, ciências for possível compreender o quanto há de produzido pelo ser humano e se a escola aprender e ensinar que é possível fazer diferente – a educação encontra seu sentido estratégico. Passa a fazer mais sentido para meninos e meninas. Volta a ser instigante e realizadora para os profissionais. Torna-se mobilizadora da comunidade do entorno para a produção de uma escola melhor e de mundo melhor.
Então podemos dizer sim: que bom que voltaram as aulas!
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