Pão, biscoito e macarrão são alimentos comuns a pessoas de quase todas as idades e classes sociais. Além do carboidrato, esses produtos têm algo em comum que os impedem de ser consumidos pelos portadores da doença celíaca: o glúten. Ou seja, pessoas que têm intolerância permanente a essa proteína encontrada no trigo, aveia, centeio, cevada e malte - subproduto da cevada -, não podem ingerir alimentos, medicamentos, bebidas industrializadas, assim como usar cosméticos e outros produtos que tenham o glúten em sua composição.
A doença celíaca se caracteriza por uma intolerância permanente ao glúten, que afeta principalmente o intestino delgado. A ingestão do glúten pelas pessoas que são diagnosticadas como portadoras da doença causa danos às vilosidades que revestem a parede do intestino. Por isso um dos principais sintomas da doença é a diarreia. A patologia pode acometer pessoas de qualquer idade, porém se manifesta mais em crianças com idade entre o primeiro e o terceiroano de vida.
A Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenalbra) estima que exista um celíaco para cada grupo de 100 a 200 pessoas nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, de acordo com a Fenalbra, não há número oficial sobre a prevalência da doença, embora uma pesquisa publicada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em 2005, com adultos doadores de sangue, apresentou incidência de um celíaco para cada grupo de 214 moradores do Estado.
Embora pouco conhecida da maioria dos potiguares, a doença celíaca vem sendo diagnosticada com mais frequência no Rio Grande do Norte, segundo a gastroenterologista pediatra Jussara Melo de Cerqueira Maia. Atualmente cerca de 100 crianças fazem tratamento da doença no Hospital de Pediatria Professor Heriberto Ferreira Bezerra (Hosped), que integra o complexo de saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Acredita-se que o número de portadores da doença celíaca no Estado seja bem superior, já que muitas pessoas na idade adulta têmsido diagnosticadas como portadoras. "A divulgação que tem sido feita sobre a doença nos últimos anos têm permitido que mais pessoas se informem dos sintomas e procurem os especialistas mais cedo para iniciar o tratamento", acredita a médica.
O tratamento da doença celíaca basicamente se resume a uma dieta livre do glúten. A nutricionista Rita Medeiros afirma que pouco tempo após alterar a alimentação o paciente sente uma melhora significativa. "Em uma ou duas semanas o paciente já sente a mudança no organismo com a diminuição dos sintomas. A partir daí é só levar uma vida normal, desde que longe do glúten", destaca a nutricionista.
Outro problema apresentado pelas especialistas é a sub-notificação dos casos diagnosticados nos estados. Na ánalise da nutricionista, um dos motivos para essa sub-notificação no RN é o fato de o estado não contar com uma unidade da Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra). "Os profissionais que lidam diretamente com a doença, como nutricionistas, gastroenterologistas e pediatras estão se reunindo para criar a associação. Um espaço importante para informação e discussão entre pacientes, familiares e médicos", destaca Rita Medeiros.
Dieta: o caminho para controlar o problema
A técnica de enfermagem Anne Patrícia Rodrigues Bertoldo, 39 anos, teve uma vida sem restrições até 2009, quando as intensas diarreias a fizeram procurar um gastroenterologista, que detectou que ela era portadora da doença celíaca. A descoberta da patologia não foi tão simples quanto parece, porque sintomas como dor no estômago e ânsia de vômito eram associados a outras doenças, como gastrite.
No início a diarreia era associada a comidas gordurosas, entretanto uma forte infecção intestinal fez Anne levar os sintomas a sério, até descobrir de que doença era portadora. Foi uma conversa com uma amiga que a fez perceber que os sintomas que a acometiam poderiam ser indícios da doença celíaca.
Anne então conversou com o gastroenterologista que a acompanhava e solicitou o exame de sangue específico em que é possível detectar a doença. "O exame constatou a alteração e imediatamente iniciei a dieta com restrição do glúten. Em poucos dias senti a melhora de alguns sintomas, mas só depois de quatro meses em que fiz umadieta severa melhorei da diarreia", conta Anne.
A mudança no hábito alimentar a fez perder 11 quilos em um ano. Além de emagrecer de forma gradativa, a técnica de enfermagem proporcionou indiretamente uma alimentação mais saudável à família. "Minha mãe ficava com pena de mim e, no início, não comprava alimentos com glúten, como pão, para eu não ficar triste. Depois de um tempo ela também passou a ingerir os alimentos sem glúten na alimentação", lembra. Anne diz que o único alimento de que sente falta é da pizza. "Ainda não encontrei pizza sem glúten, mas vou continuar procurando", diz.
Anualmente a técnica de enfermagem repete o exame de sangue e a biópsia do intestino delgado como forma de controle da doença. Segundo Anne, seu caso é reversível e de vez em quando ela "se dá ao luxo" de comer um pão comum. "Algumas pessoas ao comprar pão, por exemplo, precisam saber, inclusive, se o pão sem glúten foi assado em forno separado, porque qualquer resquício da proteína pode prejudicar. Nos locais em que não existem dois fornos o pão sem glúten deve ser assado antes do pão comum", explica.
Preços de alimentos "adaptados" podem ser acessíveis
Como o portador da doença celíaca não deve ingerir alimentos em que a composição ou processo de fabricação possuem glúten como pão, biscoitos, bolachas, macarrão, coxinhas, quibes, pizzas, cerveja, whisky e vodka, o número de estabelecimentos que comercializam produtos sem a proteína vêm aumentando a cada dia.
Produtos como coxinha, empada, quibes, biscoito, bolinho de mel e barra de cereal produzidos com soja, fécula de batata ou macaxeira, por exemplo, já são encontrados na capital potiguar. A nutricionista Rita Medeiros alerta que o portador da doença celíaca pode ingerir alimentos que às vezes ele não percebia a sua volta, como aqueles que são à base de milho. Os alimentos congelados estão sendo comprados de cidades do eixo Sul-Sudeste, como Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Blumenau (SC).
A nutricionista garante que os preços dos produtos sem glúten são acessíveis. "Uma empada custa em média R$ 2, praticamente o mesmo preço da comum", relata. A técnica de enfermagem Anne Patrícia disse que o preço dealguns alimentos são superiores, porém, se o paciente pesquisar, pode encontrar alimentos com valores mais baixos. "Hoje já consigo comprar um pacote de macarrão em que o preço é quase igual aos demais", confirma.
Para ter uma vida saudável
Pode ingerir
Soja
Batata
Macaxeira
Carnes em geral
Milho
Batata
Macaxeira
Carnes em geral
Milho
Não pode ingerir
Macarrão Pão
Bolos
Biscoitos
Pizza
Quibe
Vodka
Whisky
Cerveja
Bolos
Biscoitos
Pizza
Quibe
Vodka
Whisky
Cerveja
DN Online
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