Hospital continua com pacientes nos corredores

Dayane Lima e o filho, nascido ontem ao meio-dia, ficaram no corredor por falta de vaga
O cenário ainda não mudou. Mesmo com a retomada do atendimento na Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), o setor de obstetrícia no Hospital Dr. José Pedro Bezerra (HJPB), o Santa Catarina, continua superlotado. Na tarde de ontem, 39 parturientes dividiam o espaço que comporta apenas 20 pacientes. Com o excesso de parturientes, os partos são realizados em ambientes improvisados. Locais destinados a exames e curetagem, por exemplo, se transformam em salas de parto. Pacientes e profissionais reclamam da situação.
A realização de partos na MEJC foi retomada na última segunda-feira depois de seis dias de suspensão devido à falta de pediatrias para cobrir os plantões. O problema foi parcialmente resolvido. Dos oito pediatras que seriam contratados em processo seletivo simplificado, somente sete foram efetivados. São realizados em média 15 partos na maternidade diariamente, sendo 450 por mês. De acordo com o diretor da unidade, Kleber Morais, o processo seletivo foi reeditado na última segunda-feira, com término previsto para a próxima sexta-feira. “Com esses sete médicos que assinaram o contrato garantiremos o atendimento pleno”, afirmou.

Mesmo com o “atendimento pleno” na MJEC na segunda-feira e ontem, a situação caótica no Santa Catarina não sofreu alteração. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve no local à tarde e presenciou a realização de um parto na sala destinada à curetagem. O procedimento foi realizado dessa forma porque as salas de parto estão fazendo as vezes de enfermagem. Sem leitos adequados, as parturientes ficam  em repouso nas camas cirúrgicas. 

Era o caso da jovem Vanessa do Nascimento, 18 anos. Ela deu à luz ao filho na noite da última segunda-feira e, quase 24 horas após o parto, continuava no mesmo lugar. “É muito ruim essa situação. Fico aqui sozinha com meu filho. Não pode ficar ninguém da família. Nem sei quando vou receber alta”, disse.  

Além das salas de parto, a falta de leitos faz com que as mães ocupem outros setores do hospital. A estudante Dayane Lima, 20 anos, ocupava uma maca no meio do corredor. O filho, nascido ao meio dia de ontem, estava ao seu lado, dividindo o pequeno espaço. “Eu acho que isso é uma irresponsabilidade do Governo. A assistência é muito ruim”, desabafou.

A obstetra Walkiria Caldas relatou que a situação é estressante tanto para pacientes como para os profissionais que trabalham no hospital. “É uma situação complicada. Trabalhamos sem uma estrutura adequada. Mesmo com a retomada do atendimento na MEJC, o problema continua. Ainda recebemos pacientes de outros municípios e o problema só persiste”, disse.
Vanessa continuava na sala de parto desde a noite da segunda
O diretor da MJEC ressaltou a importância de que o atendimento na unidade não chegue aos níveis anteriores e pediu a cooperação do Estado e do Município, já que a maternidade é uma escola para os cursos graduação e pós-graduação da área da saúde. “Esperamos não ficar com um caso grave de lotação. Se o atendimento deixa a equipe exaurida, não tem condições de ensinar”, argumentou Kleber Morais.

Memória

A situação no setor de obstetrícia no HJPB é decorrente da suspensão do atendimento na Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC). No dia 17 passado, a MEJC suspendeu a realização de partos devido à falta de pediatras. Além desse problema, a Maternidade Leide Moraes, na zona Norte de Natal, está fechada e a previsão de reabertura é o mês de novembro.  

O titular da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), Luiz Roberto Fonseca, citou ainda que a principal causa do cenário é a demanda oriunda do interior. “A superlotação é decorrente do grande número de encaminhamentos de baixo risco (partos de risco habitual), oriundos de municípios do interior do Estado que não têm ofertado a suas munícipes o acesso ao serviço de assistência ao parto de baixo risco”, informou.

Os problemas no HJPB são de responsabilidade de um novo diretor. O médico Jaime César de Melo, que estava à frente do Hospital Ruy Pereira, assumiu a direção da unidade localizada na zona Norte de Natal, na manhã da última segunda-feira.
da TN

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