Fraudes no Tribunal de Justiça levam cinco para a prisão

Isaac LiraMarco Carvalho e Ricardo Araújo - repórteres

Os suspeitos de desvios na divisão de precatórios do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte foram presos ontem pela manhã numa operação do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil, denominada Operação Judas. Foram presas cinco pessoas, entre elas Carla Ubarana, ex-chefe do setor de precatórios do TJ, e seu marido, George Leal. Um dos suspeitos - Carlos Alberto Fasanaro Júnior - está foragido. Além disso, a operação, que contou com sete equipes compostos por promotores, delegados e agentes, realizou busca e apreensão em sete locais.

Folha de PernambucoCarla Ubarana foi presa ontem pela Polícia Militar de PernambucoCarla Ubarana foi presa ontem pela Polícia Militar de Pernambuco

Além da prisão, foi decretado a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos seis suspeitos e o seqüestro dos bens, incluindo as contas bancárias, casa em Natal e na praia de Baía Formosa, carros de luxo, entre outros. O Ministério Público Estadual solicitou todas essas medidas à Justiça na última quarta-feira, como noticiou com exclusividade a TRIBUNA DO NORTE. O juiz da 7a. Vara Criminal, Armando Pontes, atendeu os pedidos do MPE. O processo, contudo, corre em segredo de Justiça. Estão detidos, suspeitos de peculato, que é o desvio de recursos públicos, Carlos Eduardo Palhares, Cláudia Neli Silva e Pedro Luís Neto, esse último funcionário do Banco do Brasil.

A Operação Judas foi embasada por uma série de suspeitas acerca do setor de precatórios do TJ. O desvio de recursos é algo constatado. Agora é necessário comprovar quem se beneficiou desses desvios. Com os depoimentos realizados hoje - e as informações coletadas anteriormente - é possível divisar qual a linha de suspeita investigada  pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual. Esses indícios confirmam as informações divulgadas na última sexta-feira, com exclusividade, pela TRIBUNA DO NORTE.

Pelo que foi investigado até então, Carla Ubarana e George Leal são suspeitos de serem os mentores do suposto esquema. Carla seria a responsável por fraudar o processo de pagamento dos precatórios. Haveria laranjas encarregados de receber o dinheiro desviado no Banco do Brasil - através de saque ou transferência bancária. Além disso, um funcionário do Banco do Brasil é suspeito de "facilitar" a liberação desses recursos dentro da instituição financeira. Os supostos laranjas confirmaram o saque de dinheiro de suas contas - no intuito de repassar para Carla Ubarana e George Leal - mas negaram saber a origem desses valores. Cláudia Sueli, espécie de governanta do casal Ubarana Leal, disse à Polícia Civil que "cumpria ordens".

Esses saques e transferências tinham valores variados, segundo as investigações da Polícia Civil. Há registro de saques entre R$ 25 mil e R$ 90 mil. Uma fonte da TRIBUNA DO NORTE contou que um dos suspeitos confessou ter sacado até R$ 700 mil. O período que compreende essa parte da investigação, ainda preliminar, vai de 2008 a 2011. Tudo isso seria possibilitado por "falhas no sistema de pagamento" de precatórios do Tribunal de Justiça.
 
Carla Ubarana tinha a delegação, por parte da presidência do Tribunal, de operacionalizar esses pagamentos, junto da secretaria-geral do TJ. Após todo o trâmite burocrático, os processos para pagamento continham listas de beneficiários. Para cada uma dessas pessoas havia uma conta aberta no Banco do Brasil. O esquema consistiria em duplicar as contas e guias de pagamento. Ao invés de uma, eram abertas duas contas para o beneficiário. Uma das contas receberia o dinheiro de fato devido, enquanto a outra era abastecida com o dinheiro desviado. Há casos de contas duplicadas e até triplicadas. Os valores eram movimentados mediante ofícios assinados por Carla Ubarana e pela Secretaria Geral do TJ,  segundo o Ministério Público.

A partir disso, "laranjas", pessoas estranhas a qualquer processo de pagamento de precatório existente no TJ, sacavam o dinheiro no banco, ou recebiam os valores via transferência bancária. Depoimentos dão conta do repasse do dinheiro, em espécie, para Carla Ubarana e George Leal. Os promotores não descartam a utilização de empresas e outros artifícios para a "lavagem de dinheiro", tendo em vista que valores vultosos desviados precisam ganhar a aparência de legalidade para não atraírem suspeitas facilmente.

MP investiga participação de outras pessoas

Todas as suspeitas da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual serão aprofundadas após a análise do material apreendido e dos sigilos quebrados. Com isso, várias linhas investigativas serão esclarecidas, como a possibilidade de "lavagem de dinheiro" e de envolvimento de mais pessoas. "Ainda não temos como fazer nenhum julgamento de valor porque as informações são todas preliminares. Não estamos acusando e nem pré-julgando ninguém", disse o procurador-geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, em coletiva de imprensa realizada em conjunto com o delegado-geral, Fábio Rogério, o delegado do caso, Marcos Dayan, e os promotores do Patrimônio Público.

O Tribunal de Contas do Estado afirmou que irá continuar a inspeção extraordinária instaurada na última semana. "A prisão dos acusados não anula a inspeção extraordinária do TCE. O processo está sendo formatado e será executado", disse Fábio Sarinho Paiva, assessor jurídico do gabinete do conselheiro Carlos Thompson. O procedimento do TCE foi apontado pelo MPE, durante a coletiva, como fundamental para chegar ao número final de desvios de recursos.

O Banco do Brasil, que tem um de seus funcionários implicado na investigação, enviou uma nota à TRIBUNA DO NORTE: "O Banco vai colaborar com as investigações do Ministério Público e do Tribunal de Justiça e é o maior interessado no esclarecimento do envolvimento do funcionário Pedro Luiz Silva Neto no suposto esquema de desvio de recursos". 

Carla e George ficam em silêncio durante depoimento

O casal Carla de Paiva Ubarana Araújo Leal e George Luís Araújo Leal Costa, presos no início da manhã de ontem numa pousada em Recife/PE, chegaram em Natal à noite, por volta das 22h. Os acusados de serem os mentores do esquema de fraudes no Setor de Precatórios do Tribunal de Justiça, foram trazidos para Natal pelos delegados Normando Feitosa e Sheila Freitas, com o auxílio de mais seis policiais civis. Além dos acusados, os veículos - uma Pajero de placas NNV 7977 e uma Mercedes SLS/AMG PFF 2611 também conhecida como "Asa de Gaivota" - pertencentes ao casal  foram trazidos a Natal por agentes da Polícia Civil. Os acusados não comentaram a Operação Judas, que culminou com a prisão de ambos. 



Aldair DantasJá em Natal, o casal George Araújo Leal e Carla Ubarana é interrogado na sede da DeicotJá em Natal, o casal George Araújo Leal e Carla Ubarana é interrogado na sede da Deicot

 De acordo com os policiais que realizaram o traslado do casal, não ocorreu resistência à prisão e o trajeto entre Recife e Natal foi tranquilo. A principal acusada, Carla Ubarana, segundo relatos dos policiais, permaneceu a maior parte do percurso dormindo. "Ela estava completamente alheia ao que estava acontecendo. Sempre que ela acordava tomava comprimidos e voltava a dormir sem falar nada", disse um dos policiais. Na chegada à Delegacia Especializada em Crimes Contra a Ordem Tributária (Deicot), no Centro Administrativo, Carla permaneceu dentro do veículo da Polícia Civil por cerca de 15 minutos, com a cabeça refestelada sobre o encosto do banco dianteiro.

 George Luís de Araújo Leal Costa chegou num veículo conduzido pelo delegado Normando Feitosa. Sem comentar as acusações que recaem sobre ele e sua mulher, ele seguiu para a Delegacia escoltado por um policial civil. Em seguida, visivelmente abatida, Carla Ubarana deixou o veículo amparada pela delegada Sheila Freitas. Carla se deslocou até à Deicot sempre com o auxílio de uma ou mais pessoas. Em alguns momentos, ela parecia estar com os olhos fechados sendo conduzida pela voz de quem a ajudava. "Eu não sei se elá terá condições de prestar depoimento neste estado. Os promotores irão analisar", comentou o delegado Normando Feitosa. 

 Ele disse, ainda, que durante a viagem, George Luís comentou que era formado em história, filosofia e psicologia e que teria publicado alguns artigos sobre ética. A formação de Carla Ubarana não foi confirmada. Ela aparece, porém, como aluna de um curso de pós-graduação em Ciências Penais. "Ele não conversou muito. Disse somente que não sabia por quais motivos aquilo tudo estava acontecendo", relatou Feitosa. A chegada dos acusados em Natal estava prevista para às 20h30min.  De acordo com os policiais civis, um engarrafamento na saída de Recife a demora na liberação de uma guia de abastecimento em João Pessoa, atrasou a viagem. O comboio só conseguiu sair da capital pernambucana por volta das 19h.

 
Frankie MarconeCarla Ubarana chega a Natal abatida e é amparada por policiaisCarla Ubarana chega a Natal abatida e é amparada por policiais
Os veículos trazidos pelos policiais civis - a Pajero que era conduzida frequentemente por Carla Ubarana e a Mercedez "asa de gaivota" guiada por George Luís - passaram a noite de ontem no Centro Administrativo, no estacionamento da Secretaria de Tributação. Os documentos e itens pessoais apreendidos com o casal em Recife, foram encaminhados pelos delegados para a Delegacia Especializada em Investigações e Combate ao Crime Organizado (Deicor) onde foram juntados aos demais itens apreendidos nos imóveis dos supostos envolvidos no desvio de recursos do Setor de Precatórios do Tribunal de Justiça.

No depoimento que prestou ao delegado titular da Deicot, Marcus Dayan Teixeira Vasconcelos,   George Luís Araújo Leal Costa e Carla Ubarana ficaram em silêncio. O interrogatório foi acompanhado pelos promotores de Defesa do Patrimônio Público, Flávio Sérgio de Souza Pontes Filho e Alexandre Frazão, do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Nenhum deles, porém, comentou a prisão de Carla de Paiva Ubarana Araújo Leal e de George Luís Araújo Leal Costa. 

 A expectativa do delegado Normando Feitosa era de que os acusados realizassem os exames de corpo de delito no Itep durante a madrugada de hoje. Após os exames, eles seriam encaminhados para o Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, onde permanecerão custodiados. 

Casal foi preso em Pernambuco

Desde as primeiras horas da manhã de ontem, equipes da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual deram cumprimento a mandados de prisão e de busca e apreensão. Imóveis em Natal, nos bairros de Tirol, Lagoa Nova e Ponta Negra, foram invadidos para a realização das buscas e detenções. A polícia também apreendeu objetos em uma casa localizada na praia de Baía Formosa, a cerca de 95 quilômetros da capital do Estado. No total, sete equipes da Polícia Civil - formadas cada uma por um delegado e outros quatro agentes - participaram da operação denominada de "Judas".
Aldair DantasVeículo Mercedes-Benz foi apreendido junto com o casal em RecifeVeículo Mercedes-Benz foi apreendido junto com o casal em Recife

Em Natal, uma movimentação foi percebida na rua Maria Auxiliadora, no bairro do Tirol. A porta da residência de nº 842 foi arrombada e uma busca era coordenada por equipes da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), chefiada pela delegada Sheila Freitas.

A residência é uma das propriedades de Carla Ubarana e George Araújo. De lá, foram levados documentos, computadores e cofres para auxiliar a investigação em andamento. 

A principal suspeita de operar o esquema de desvio de dinheiro dos precatórios do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Carla Paiva Ubarana de Araújo Leal, foi presa ontem em uma pousada em Casa Forte, bairro nobre do Recife. O marido dela, George Luiz de Araújo Leal Costa, também foi preso sob força de mandado. 

Oito homens do Grupo Tático Itinerante do 11º Batalhão da PM de Pernambuco cumpriu os mandados de prisão, e os acusados foram encaminhados sem resistência para a Delegacia de Polícia Interestadual de Capturas (Polinter), no Recife. A PM retornou ao local para realizar a apreensão de dois veículos de luxo. De lá, os acusados foram levados para Natal por uma equipe de polícia do Rio Grande do Norte.

Suspeitos são encaminhados para unidades prisionais

Depois de serem submetidos a exames de corpo de delito no Itep, a secretária particular de Carla Ubarana, Cláudia Suely, e o amigo da suposta mentora do esquema de corrupção na Divisão de Precatórios do TJ, Carlos Eduardo Palhares, foram deslocados para unidades prisionais do Rio Grande do Norte durante a tarde de ontem. O funcionário do Banco do Brasil que também foi preso na operação Judas, Pedro Luís da Silva Neto, aguarda decisão sobre pedido de prisão domiciliar. 

Depois de serem submetidos ao exame, Cláudia Suely e Carlos Alberto Palhares não deram declarações. Conduzidos em um carro da Polícia Civil, a secretária foi encaminhada para o CDP de Parnamirim, enquanto Palhares seguirá para o presídio provisório Raimundo Nonato Fernandes, na zona Norte. 

Pedro Luís da Silva Neto aguarda a decisão sobre o pedido de prisão domiciliar. O argumento do suspeito é que não está em condições de ir para uma unidade prisional devido a uma recente cirurgia bariátrica. Até a decisão, o suspeito permanece na Delegacia Especializada em Investigação a Crimes Contra a Ordem Tributária (Deicot). 

Pedro Luís é funcionário do Banco do Brasil. Durante a realização dos depoimentos, a assessoria jurídica do banco acompanhou os procedimentos realizados pela polícia e pelos promotores de Justiça. 

Estes três foram os primeiros a chegar, ainda durante as primeiras horas da manhã de ontem, à Deicot, localizada no Centro Administrativo. Permaneceram lá até às 15h, quando foram deslocados para o Itep, e logo após para unidades prisionais.

Operação une novamente MP e Civil

A Operação Judas, deflagrada durante a manhã de ontem,  representou o estreitamento das relações institucionais entre Ministério Público Estadual e a Polícia Civil do Rio Grande do Norte. Pela primeira vez após a realização de quatro grandes operações, a PC voltou a ter participação direta na investigação, cumprimento de mandados e colheita de depoimentos dos acusados presos em parceria com promotores de Justiça. A investigação iniciada sobre a Divisão de Precatórios do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte é a primeira parceria desde que o procurador-geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, declarou à TRIBUNA DO NORTE que a Civil chegava a atrapalhar a condução de inquéritos, colocando barreiras no caminho dos promotores.

Ontem, o clima sentido foi diferente. Desde o início da entrevista coletiva, na qual o delegado-geral Fábio Rogério Silva sentou-se ao lado do procurador-geral de Justiça, percebia-se a tentativa de demonstrar o estreitamento das relações entre as partes. Para isso, ambos garantiram o esforço e contato com o Governo do Estado no sentido da reativação da Delegacia Especializada em Defesa do Patrimônio Público (Dedepp). Segundo o informado por eles, já está sendo procurado um lugar para a instalação da estrutura física.

Hoje, existem cinco promotorias de Defesa do Patrimônio Público e outras duas de Combate à Sonegação Fiscal. Em contraste com a estrutura do Ministério Público, a Polícia Civil possui apenas a Delegacia Especializada na Investigação de Crimes Contra a Ordem Tributária (Deicot), com um delegado à frente - Marcos Dayan.

Conflito de ideias

Os atritos entre o Ministério Público e a Polícia Civil começaram a ser expostos no início deste mês. O motivo: a divergência de opiniões quanto a aprovação da PEC 37. A Proposta de Emenda Constitucional faz referência à limitação dos poderes de investigação do MP, reservando este exercício apenas para as polícias judiciárias. O secretário de segurança do RN, Aldair Rocha, mostrou-se favorável à PEC. Como resposta, o procurador-geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, contestou a independência e competência da Polícia Civil em investigar crimes, principalmente no tocante à corrupção na administração pública. Na oportunidade, Onofre chegou a declarar que Civil colocava barreiras no caminho das investigações do MP. A questão parece começar a ter sido resolvida.

Precatórios

O que é e como funciona esse tipo de pagamento:

1. Quando a Justiça determina o pagamento de uma dívida de algum ente do poder público (municipal, estadual ou federal), o desembolso não segue os padrões fixados para a iniciativa privada e pessoas físicas. As causas de valores "menores" (de até 40 salários mínimos no caso do Governo do Estado, por exemplo) são pagas em até 90 dias. As dívidas de valores mais altos têm um procedimento mais demorado.

2. Depois que não cabem mais recursos à sentença que obriga o pagamento da dívida, o Tribunal de Justiça, após unificação das listas de precatórios, requer do ente público a inclusão daquele valor no orçamento público. Se essa requisição chegar até o dia 30 de junho do ano corrente, o valor deve ser incluído no orçamento geral do ano seguinte. Essa regra foi instituída em 2009 e nem sempre é cumprida à risca.

3. Os precatórios acumulados em anos anteriores entram num regime especial. O poder público tem um prazo de 15 anos para quitá-los sendo obrigado a depositar anualmente 1% das receitas correntes líquidas no caso dos municípios e 1,5% das mesmas receitas no caso dos Estados. Por mês, a Prefeitura do Natal deposita em média R$ 850 mil. Em 2011, o Estado repassou R$ 22,5 milhões ao Tribunal de Justiça para o pagamento dos precatórios. 

4. Com a inclusão no orçamento, o poder público deposita o valor a ser pago por precatórios numa conta administrada pelo Tribunal de Justiça, que irá gerir o pagamento desses valores. A maior parte dos processos diz respeito a dívidas trabalhistas, por perdas acumuladas e descontos indevidos na folha de pagamento, além de desapropriações de imóveis.

5. O pagamento deve ser feito por ordem cronológica, ou seja os processos mais antigos precisam ser quitados primeiro. Contudo, há outros critérios. Pessoas com mais de 60 anos de idade ou doença grave, têm preferência. Da mesma forma, precatórios que dizem respeito a salário, aposentadoria, pensão e alimentação, no geral, têm prioridade.

Bate-papo

Felipe Cortez, advogado de Carla Ubarana

"Antecipação de pena. É isso o que a Justiça está fazendo"

Qual a opinião da defesa acerca das prisões?

São desnecessárias. A defesa vem sendo leal com a Justiça e por isso eu não esperava uma prisão como essa. Já tínhamos informado à Justiça o endereço de Carla, já tínhamos anexado os atestados médicos de Carla, já tínhamos inclusive marcado com o promotor Flávio o depoimento para a próxima sexta-feira. Para que a prisão? Para que ela seja ouvida. Mas esse depoimento já estava marcado, então é desnecessário. Nós abrimos o sigilo de Carla, a boa fé da defesa está demonstrada, mas mesmo assim a Justiça decretou a prisão.

O que o senhor vê nisso?

Uma antecipação de pena. É isso o que a Justiça está fazendo.

Qual será a estratégia da defesa? Vai pedir habeas corpus?
Não. A estratégia é a mesma utilizada com Cláudia e Carlos Alberto. Eles foram ouvidos e só então pedimos a revogação da prisão. O juiz deu um prazo de 24 horas para posicionamento do Ministério Público e após esse prazo ele decidirá. Farei o mesmo com Carla e George. Se o juiz não acatar, entro com habeas corpus no Tribunal de Justiça.

O senhor está defendendo todos os suspeitos?

Não, apenas Carla e George. Quanto aos outros, fiz somente os pedidos de revogação. Não sei se vou defendê-los até porque não se sabe se eles serão acusados. Não há denúncia ainda, não há nenhum acusado.

Júnior SantosOntem, promotores e representantes da Polícia Civil concederam entrevista detalhando a operaçãoOntem, promotores e representantes da Polícia Civil concederam entrevista detalhando a operação
Memória


As irregularidades na Divisão do Setor de Precatórios do Tribunal de Justiça do  Rio Grande do Norte começaram a ser investigadas pela chefe da Corte potiguar, a desembargadora Judite Nunes. A magistrada começou a ficar desconfiada de que alguma irregularidade  estava em curso no setor após solicitar determinados processos à então chefe da Divisão, Carla Ubarana.

A servidora, por sua vez, alegava que os  processos solicitados estavam sob análise dos advogados das partes envolvidas ou na sua própria residência para um estudo mais completo. Com isto, desvincilhava-se da obrigação de apresentar a documentação à magistrada. Entretanto, as investigações internas do Tribunal de Justiça progrediram e os desvios foram confirmados em seguida.

Veja a cronologia dos fatos envolvendo o desvio de recursos do Setor de Precatórios do Tribunal de Justiça.

Setembro de 2010

A desembargadora Judite Nunes analisa processos oriundos do Setor de Precatórios, como uma de suas premissas como presidenta do Tribunal de Justiça e detecta a duplicação de guias de pagamento a credores e a ausência de documentos importantes em determinados processos. Desconfiada de que alguma irregularidade estava em curso no Setor, a magistrada solicita mais processos para confrontar informações. A análise de Judite Nunes se estendeu pelos últimos meses do ano passado até a primeira semana deste ano. 

10 de janeiro de 2011

A desembargadora Judite Nunes exonera a chefe da Divisão do Setor de Precatórios, Carla de Paiva Ubarana Araújo Leal. A magistrada não alega, entretanto, suspeita de prática de atos ilícitos no período em que a servidora ocupou o cargo de chefia da Divisão. No mesmo dia, nomeia uma Comissão de Sindicância para apurar supostas irregularidades no pagamento de precatórios.

O desembargador Caio Alencar é nomeado o presidente da Comissão de Sindicância e o desembargador Cláudio Santos, corregedor-geral.

19 de janeiro de 2011 

De acordo com determinação da desembargadora Judite Nunes,  os processos e demais documentos sobre os precatórios e Requisições de Pequeno Valor (RPV) referentes aos cinco últimos exercícios financeiros (entre 2007 e 2011) serão alvos de investigação. Para cada ano, a desembargadora determinou o prazo de 30 dias para que fosse realizada a análise pela Comissão. 

Ao fim de cada período, o grupo deverá encaminhar relatório explicando o que foi encontrado e as possíveis irregularidades. Além disso, recorre ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado, para realizar inspeções no Setor de Precatórios. Pela primeira vez, o Tribunal de Justiça seria investigado por um órgão externo. 

21 de janeiro de 2011

O Ministério Público Estadual entra na investigação sobre irregularidades na Divisão do Setor de Precatórios do Tribunal de Justiça. A presidenta do TJ, desembargadora Judite Nunes, apresentou à Procuradoria-Geral de Justiça e aos promotores de Defesa do Patrimônio Público, um relatório preliminar dos fatos sob suspeita, confeccionado pela Comissão de Sindicância. No dia anterior, a assessoria de imprensa do TJ publicou nota oficial confirmando a existência de uma investigação iniciada com a exoneração da chefe do setor de precatórios, Carla Ubarana, no  dia 10 de janeiro.

24 de janeiro de 2011

Em nota oficial, a presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte sinalizou a dimensão da gravidade e a abrangência das fraudes cometidas no setor de pagamentos dos precatórios. Além de admitir "fortes indícios de desvio de recursos", a comissão de sindicância, presidida pelo desembargador Caio Alencar, sugeriu a imediata "judicialização" da investigação com abertura de inquérito pelo Ministério Público, a ajuda do TCE para auditar as contas do setor de precatórios e a comunicação do caso ao Conselho Nacional de Justiça. 

25 de janeiro de 2011

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJ/RN) não tem ideia de quanto foi desviado em recursos através das supostas fraudes aplicadas na Divisão do Setor de Precatórios. O Poder Judiciário irá aguardar o relatório final da auditoria que será realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e da análise dos processos no âmbito administrativo, que será conduzida pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público. Além disso, a Comissão de Sindicância nomeada pela presidenta do TJ,  desembargadora Judite Nunes, está realizando um levantamento interno para só então dimensionar os valores relacionados às irregularidades. 

27 de janeiro de 2011

O pedido de prisão e para a quebra dos sigilos constitucionais (telefônico, fiscal e bancário) dos suspeitos de fraudes nos precatórios do Tribunal de Justiça , formulado pelo Ministério Público Estadual chegou à Justiça. A identificação dos "suspeitos" pelo MPE não está disponível. A TRIBUNA DO NORTE obteve informações sobre como as fraudes eram operadas no setor de precatórios do TJRN: guias de pagamentos acordados nos processos eram duplicadas e sacadas por laranjas. A principal suspeita é a ex-chefe do Setor de Precatórios, Carla Ubarana.

28 de janeiro de 2011

O advogado Felipe Cortez, que faz a defesa de Carla Ubarana, principal suspeita no suposto esquema de desvio de recursos no setor de precatórios do Tribunal de Justiça, colocou à disposição da Justiça os sigilos fiscal, bancário e telefônico da cliente dele. A petição foi protocolada após uma reportagem da TRIBUNA DO NORTE noticiar o pedido de prisão e quebra de sigilo por parte do Ministério Público Estadual. O pedido do MPE entrou em "segredo de justiça" e ainda não se sabe quantas pessoas a ação atinge.

31 de janeiro de 2011

O MPE, com auxílio dos agentes da Polícia Civil, deflagra a Operação Judas, em alusão à quebra de confiança do personagem bíblico Judas Iscariotes. Seis mandados de prisão, busca e apreensão foram expedidos pelo juiz Armando Pontes, em substituição na 5ª Vara Criminal, contra a servidora do TJ, Carla de Paiva Ubarana Araújo Leal; George Luís de Araújo Leal, esposo de Carla; Cláudia Suely Silva de Oliveira Costa; Carlos Eduardo Cabral Palhares de Carvalho; Pedro Luiz Silva Neto, servidor do Banco do Brasil, e Carlos Alberto Fasanaro Júnior, amigo do casal. Todos foram presos, com exceção de Carlos Alberto Fasanaro Júnior, que segue foragido. 


Fonte: TN Online

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