Missão americana está chegando


O Brasil receberá nos próximos dias a maior missão de universidades americanas de todos os tempos na tentativa de atrair estudantes brasileiros para seus quadros de alunos. De amanhã até o dia 5 de setembro, 66 universidades americanas participarão de feiras estudantis em Brasília, São Paulo e Rio - dez a mais que o grupo que viajou recentemente para a Indonésia e o Vietnã, até então a missão mais numerosa.
Alex RégisAmericanas estão interessadas em intercâmbio de bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras
Americanas estão interessadas em intercâmbio de bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras

Toda esta movimentação se deve ao crescimento econômico do país e melhoria do poder aquisitivo do brasileiro. Considerado à posição de 6ª maior economia do planeta, recentemente, e com uma população de poder aquisitivo crescente que precisa e estar disposta a investir em qualificação da mão-de-obra e inovação, o Brasil tornou-se alvo da estratégia de atração de talentos de instituições de ensino estrangeiras.

Não apenas os EUA, como outros países têm buscado o intercâmbio. Universidades canadenses estiveram por aqui, em maio, e nesta semana a prestigiosa Universidade de Oxford, na Inglaterra, enviou um grupo do alto escalão a São Paulo para anunciar a concessão de uma nova linha de bolsas integrais financiadas com dinheiro do governo federal brasileiro.

A visita dos próximos dias está sendo capitaneada pela agência de promoção de exportações americana isto porque, para o governo americano, este intercâmbio corresponde a um serviço exportado pelos Estados Unidos e adquiridos por estudantes do nosso país.

A intensa agenda educacional responde diretamente aos esforços, no norte e no sul do continente, para agregar valor à relação bilateral das duas principais economias hemisféricas.

Para se ter ideia, as trocas entre Brasil e Estados Unidos somaram US$ 60 bilhões em 2011 e corresponderam a cerca de 12% do total de intercâmbios do Brasil com o mundo. Foi um valor menor que o trocado com a China (US$ 77 bilhões).

Entretanto, por trás destes números estão agendas comerciais bem diferentes. Enquanto a relação comercial do Brasil com a China se baseia principalmente no comércio de commodities, com os Estados Unidos é mais forte a presença de produtos agregados, uma tendência que o governo brasileiro pretende estimular.

No acumulado de janeiro a julho, as exportações do Brasil para o vizinho do norte cresceram 16%. Já somam quase US$ 35 bilhões. Ao mesmo tempo, as exportações totais do país para o resto do mundo registraram uma pequena queda de 1,7%.

Em um ano marcado por uma crise internacional aguda, em que o comércio mundial cresce num ritmo bastante lento, esse crescimento das exportações do Brasil para os Estados Unidos é bastante expressivo.

Mesmo excluindo-se o petróleo, item de commodity que teve alta no mercado internacional, as demais exportações subiram 13%.

Durante o mesmo período, o déficit comercial do Brasil se reduziu de US$ 4,6 bilhões para US$ 2,5 bilhões, mostrando que as exportações brasileiras, entre as quais estão manufaturados como motores para gerar energia eólica, mantiveram seu valor.

Meta brasileira é custear 100 mil bolsas

A área educacional foi a que mais recebeu atenção durante a visita da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos em abril.

A presidenta enfatizou o programa Ciência Sem Fronteiras, cuja meta é custear 100 mil bolsas de estudo nas áreas científicas até 2015, a maioria para estudantes e pesquisadores brasileiros no exterior. Os Estados Unidos querem receber entre um quinto e metade desses bolsistas.

No período letivo que começou no outono de 2010 e terminou no verão de 2011, as universidades americanas tinham cerca de 8,7 mil brasileiros matriculados. O número representa um aumento de 23% em relação ao número de cinco anos antes, mas tem permanecido quase inalterado nos últimos três.

Em comparação, o número de chineses não parou de subir: aumentou 89% em cinco anos, saltando de menos de 68 mil estudantes para quase 128 mil.

Já os indianos, que um dia já tiveram a maior presença nas universidades americanas, tiveram um aumento de 25%, para 104 mil matriculados. O maior número de chineses e indianos nas nossas universidades é explicado pela questão demográfica. 

Desde 2009, Estados Unidos e China mantêm uma iniciativa bilateral chamada 100.000 Strong (algo como 'Fortes como 100 mil', em tradução livre), cujo objetivo é levar 100 mil alunos americanos a estudar no país asiático.

Em maio de 2011, o presidente Barack Obama anunciou a mesma parceria para as Américas, com o objetivo de ter 100 mil alunos americanos estudando nos países latino-americanos, e mesmo número de estudantes viajando no sentido contrário.

A expectativa é de que o maior volume de intercâmbios educacionais reforce esta dinâmica.

No curto prazo, as iniciativas reforçariam a 'conta' americana de educação e treinamento, que já estão na lista dos dez principais produtos de exportação dos Estados Unidos.

Há mais de 690 mil estudantes estrangeiros matriculados nas universidades americanas, que contribuem com um valor estimado em US$ 21 bilhões para a economia, entre gastos com mensalidades e custeio de vida. Estima-se que os brasileiros contribuam com US$ 257 milhões deste total.

Entretanto, no longo prazo os intercâmbios têm efeitos que vão além da questão educacional. São parcerias científico-tecnológicas, parcerias de negócios que se abrem, oportunidades de investimentos que surgem.
da TN

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