Sem médicos, Samu Natal para por 12 horas

Sem médicos para compor a escala no Serviço Ambulatório Móvel de Emergência de Natal (Samu Natal), cerca de 300 atendimentos foram comprometidos com a paralisação dos serviços dos médicos ligados à Cooperativa Médica do Rio Grande do Norte (Coopmed/RN) ocorrida ontem. "Quem gosta de trabalhar sem receber? A falta de compromisso da prefeitura com o pagamento do serviço prestado pela cooperativa é que gerou todo esse transtorno", contou o coordenador médico do Samu Natal, Ariano José de Oliveira.
João Maria AlvesAmbulâncias do Samu Natal foram recolhidas por falta de médicosAmbulâncias do Samu Natal foram recolhidas por falta de médicos

Porém, no início da noite de ontem, os médicos cooperados que prestam assistência ao serviço básico de saúde do município (são 500 ao todo, dos quais nove ao Samu) receberam a notícia do envio da ordem bancária para o pagamento relativo ao último mês de setembro. De acordo com Cleide Fernandes, gerente administrativa da Coopmed, a cooperativa recebeu no final da tarde a cópia da ordem bancária e solicitou a volta imediata dos plantões para o atendimento à população. 

A intenção da Coopmed é de manter as negociações com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) com o objetivo de conseguir garantir o pagamento relativo aos meses de outubro e novembro ainda no mês de dezembro, antes do encerramento das atividades da atual gestão. O valor da dívida total chega a R$ 3,6 milhões. "Não podemos esperar para receber apenas na próxima gestão. Não temos condições de manter o pagamento dos médicos sem receber os repasses do município", ponderou Cleide.

A gerente administrativa da Coopmed também explicou sobre a renovação contratual, prevista para ocorrer até o próximo dia 03 de dezembro, data em que expira o atual contrato com a Prefeitura. Segundo Cleide, na noite da última segunda-feira, o presidente da Coopmed, Fernando Pinto, e a secretária municipal de Saúde, Maria Joilca Bezerra, acordaram que a renovação de contrato ocorrerá na próxima sexta-feira, dia 30 de novembro.

Hoje à noite, por volta das 19h30, está prevista uma assembleia entre os médicos cooperados para definir as negociações com a Prefeitura com relação ao pagamento do restante da dívida. Por volta das 16h30 de ontem, horário em que o Samu Natal voltou a operar, Ariano José entrou em contato e comunicou que mesmo não sendo o esperado pelos profissionais da Coopmed retomou o funcionamento imediato, alegando que "a população não pode ser mais prejudicada do que já tem sido".

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou contatar sucessivas vezes a titular da Secretaria Municipal de Saúde, Maria Joilca Bezerra, inclusive procurando-a no gabinete, mas não obteve sucesso.

PARALISAÇÃO

Com todo o imbróglio e dificuldades encontradas pelo coordenador médico, Ariano José de Oliveira, para dar continuidade a plena execução do Serviço Ambulatório Móvel de Emergência de Natal, todas as unidades móveis do Samu Natal voltaram para a garagem, na sede do serviço, na avenida Nascimento de Castro. Sem médicos, não houve atendimento através do 192. Três UTI's Móveis e nove ambulâncias básicas ficaram estacionadas, sem prestar nenhum atendimento, por mais de 12h.

A paralisação do Samu Natal se aliou à paralisação dos médicos cooperativistas que também prestam atendimento nas unidades básicas de saúde do município. 

De acordo com o coordenador médico do Samu Natal, a equipe é formada por nove profissionais da cooperativa e 35 estatutários.  Outros cinco médicos de contrato temporário existiam e atuaram até setembro de 2012. Porém, o contrato venceu e não foi passível de renovação. A escala de plantões foi, então, cumprida pelos médicos municipais até o último dia 26 de novembro. Sem os médicos da Coopmed para dar continuidade ao serviço, sucedeu a defasagem dos atendimentos.

Prefeito em exercício decreta calamidade na saúde municipal 

O prefeito Paulinho Freire decretou ontem calamidade na saúde de Natal. Segundo o decreto, os motivos foram o risco de descontinuidade no funcionamento da UPA de Pajuçara e nos ambulatórios médicos especializados, que funcionavam sob a gestão da Associação Marca, cujo contrato está no fim. Com isso, a Prefeitura poderá contratar de forma mais simples e rápida profissionais da área da saúde para substituírem os atuais funcionários. A Prefeitura decidiu pelo decreto de calamidade na saúde mesmo com a existência de  uma decisão judicial estendendo a intervenção judicial na Marca por tempo indeterminado. A decisão foi da juíza convocada ao TJ, Fátima Nunes, na semana passada. Segundo o procurador do Município, Francisco Wilkie, a decisão, concedida na semana passada, pode ser derrubada a qualquer momento. "É o que se chama de decisão "precária", que pode ser revista. Por isso, a decisão, tomada em conjunto com outros atores, como o MPE, foi de assumir o serviço", disse Wilkie.  Nos últimos meses, a UPA e os AMEs  estiveram sob o risco de não funcionar por conta do fim do contrato com a Marca. Como o Município não havia conseguido uma alternativa até o momento, havia risco de descontinuidade no atendimento. "Para evitar que uma futura decisão contrária derrube o que o Tribunal decidiu na semana passada, a decisão foi de estruturar o serviço de outra forma, com o decreto de calamidade", encerra Wilkie.

Atendimento obstetrício está prejudicado

Com as maternidades municipais das Quintas, Felipe Camarão e Professor Leide Morais, na Zona Norte, sem realizar partos e atendimentos obstétricos, em virtude da paralisação dos médicos da Coopmed, o Hospital José Pedro Bezerra (Santa Catarina), sentiu com o aumento no número de atendimentos este mês. Normalmente, a média mensal de atendimentos obstétricos gira em torno de 500. Em novembro, já foram registradas 100 mulheres a mais sendo atendidas pelo setor de obstetrícia da unidade. De acordo com o diretor técnico do Hospital Santa Catarina, Damião Nobre de  Medeiros, o crescimento de 20% se deu devido ao aumento da procura das mulheres natalenses, tendo em vista que as unidades municipais não realizavam procedimentos. O aumento interferiu no funcionamento da unidade, que estava com pacientes até mesmo no corredor do centro cirúrgico, visto que não havia lugar para acomodar os pacientes. Já na enfermaria, Mônica da Silva, de 21 anos, cuidava do seu primeiro filho, o pequeno Ítalo, com apenas um dia de nascido. Segundo Mônica, não havia médico na manhã de segunda-feira na Maternidade das Quintas, unidade onde procurou auxílio para o parto. "Lá disseram que só funcionava aqui no Santa Catarina. Graças a Deus, deu tudo certo e meu bebê está bem de saúde", finalizou.
da TN

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