Padre Murilo.
Á beira da estrada o morto estava.
Morreu de desgosto, pois da morte vinha
Um dia na fila para receber o corpo do Senhor
No outro coberto do branco pó
Que de manhã a fumaça faz subir
Dos “desajustes[1]” de famílias arremediadas,
Pobres do centro do continente.
É a era da fumaça[2] nos bafômetros vazios!
Uma roda de amigos em pesar
Uns porque matam por pouco ou nada
Outros por inventários testemunhados
A bala fazer cair mais um por ali!
A utopia de correr atrás
Aos olhos do alto já bem na frente
Viver sem violência no povoado
E no centro da metrópole participar!
A utopia corre atrás
A começar da vontade dos meninos
- são filhos da sociedade do espetáculo
Somente sabem isso
Já que outras páginas não foram ensinadas!
Triste sina é a de sofrer
Em milhões de corpos que os urubus rejeitam!
Sobram - aos olhos desses peregrinos,
Somente os corpos estendidos no chão!
Quem os arrematou para o sorteio da morte?
Foi o espetáculo que a fumaça faz subir
Onde os que eram para servir brigam pelo poder
Ou o poder que atravessou a estola
Já nasceu destinada a brigar pelo poder?
E neste caso, os meninos que povoam as margens
São mais uns a serem utilizados para ter poder
Entre as cadeiras das cancelarias sagradas?
Se for verdade isso, como é triste!
Ainda bem que vem o tempo do natal!
Servirá para alguma coisa esse tempo?
Ou as estolas continuarão a esconder as manobras?
Bom! De uma coisa o natal tem por certa:
Os meninos serão sempre os primeiros a comer dos pães dos balaios
Que os lombos dos jumentos carregam
E os bagageiros das bicicletas fazem dormir o tão preciso alimento.
Se dobrarem as estolas atravessadas
Haverá outras de outras cores a servir!
O que deveria ser é simplesmente lombos tombados no chão!
Triste!
Quanto mais meninos tombados no chão
Mais missão social da sociedade do espetáculo.
Triste!
Transformar em alegria as manchas de sangues de milhões
Somente o faz o mistério redentor da noite de Belém.
Triste é que o menino Deus veio
Mas as estolas ainda continuam atravessadas
Nos guarda-roupas de milhares de sacristias
Esperando que ele volte!
Entre as duas eras, a do espetáculo e a da fumaça
Há uma estola atravessada!
Descosturá-la é a missão mais nobre dos pobres
Em qual presépio haverá lugar para uma nova estola?
As duas estolas querem o mesmo lugar
Por enquanto a hegemonia é da estola atravessada
No natal das rodas de Natal cobertas de lixo!
Padre Murilo.
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