Partido Comunista do Chile celebra 100 anos de fundação com seminário internacional


Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo (Foto: Arquivo/PT)

Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário do Foro de São Paulo, participa do evento e fala sobre a esquerda chilena


O Partido Comunista do Chile realiza a partir desta quarta-feira (5) até a sexta (7) um seminário para celebrar o seu centenário de fundação. Diversas lideranças políticas e delegações estrangeiras participarão das atividades que serão realizadas na capital Santiago durante o seminário internacional “Cien años de historia, cien años de lucha, cien años de ideas”.
Da programação constam painéis que tratam de temas importantes para o fortalecimento dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda e com relação ao desenvolvimento e a integração da América Latina.
O dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, participa do Seminário e será um dos painelistas na abertura do evento sob o tema “América Latina, alternativas de desarrollo socioeconómicas. Desafíos para la integración de los pueblos, experiencias y luchas”.
Em entrevista ao Portal do PT, o dirigente Valter Pomar falou sobre a história política do Chile, o governo Allende, a experiência do governo de centro-esquerda (Concertación) que ficou no poder durante 20 anos e a situação da esquerda chilena no cenário político atual do País.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Quando falamos de Chile, lembramos logo de Neruda e Allende, além dos vinhos, das empanadas e dos Andes. Neruda era comunista, Allende era socialista. Como era isto, na época?
O Partido Socialista de Allende e o Partido Comunista de Neruda, junto com outras organizações, lutaram durante décadas pela hegemonia na esquerda e na sociedade chilena. Em 1970. compuseram a Unidade Popular, coligação que venceu as eleições presidenciais e governou o Chile, até o golpe de 11 de setembro de 1973. Allende morreu no ataque ao Palácio de La Moneda, Neruda faleceu logo depois do golpe.
A experiência do governo Allende nos ensina algo, para nós que vivemos noutro século e noutro país?
A esquerda latinoamericana de hoje enfrenta dilemas estratégicos equivalentes aos da Unidade Popular chilena. Por isto, é muito importante conhecer o que os socialistas, os comunistas e os miristas disseram a respeito do projeto encabeçado por Allende, a chamada via chilena para o socialismo. Curiosamente, as novas gerações estudam muito Che e Fidel, mas conhecem muito pouco de Allende. Há uma bela coleção de vídeos a respeito, chamada A Batalha do Chile.

Aqui muita gente critica iniciativas como a Comissão da Verdade. Como este assunto foi tratado no Chile?
A ditadura Pinochet foi muito violenta, pois só a extrema violência permitiria esmagar o processo de transformações empreendido pelo governo da Unidade Popular. Basta lembrar como foi o golpe de 11 de setembro, os mortos no Mapuche, o palácio presidencial sendo bombardeado por aviões, o comportamento horripilante dos partidos de direita, da maior parte dos meios de comunicação e da burguesia chilena. Ou de economistas badalados, que diziam preferir a liberdade do que a democracia, leia-se, preferiam o livre mercado. Paradoxalmente, ao menos até agora a luta pelo direito à memória teve mais êxitos lá do que no Brasil. 

Depois da ditadura, veio a Concertación. Que avaliação as esquerdas chilenas fazem desta experiência?
A Concertación, aliança de centro-esquerda entre a Democracia Cristã, o Partido Socialista e outras organizações, venceu quatro eleições presidenciais seguidas e depois perdeu para um candidato da direita. Não há um balanço comum, na esquerda chilena, acerca desta experiência. O principal problema, na minha opinião, é que eles governaram o país, mas não conseguiram alterar parâmetros fundamentais da herança pinochetista. nem na política, nem na economia. Com isso, descontentaram parte de sua base social, não empolgaram as novas gerações, não eliminaram os fatores de poder da direita, que nas últimas eleições presidenciais chegou a se apresentar como portadora da “mudança”. Hipocrisia, mas eficaz.

Hoje, como está a esquerda chilena?
O governo de direita vai mal, tendo sofrido uma grande derrota nas eleições municipais ocorridas recentemente. A oposição tem tudo para ganhar a próxima eleição presidencial. Mas isto não quer dizer que a esquerda, as idéias de esquerda, os partidos de esquerda, as perspectivas da esquerda estejam necessariamente bem. Até porque grande parte do eleitorado, especialmente da juventude,parece desanimada com todas as alternativas político-partidárias. Espero que a esquerda chilena seja capaz de vencer as próximas eleições presidenciais, com um programa e uma estratégia que supere os problemas vivenciados pela Concertación. 

O Partido Comunista do Chile é um dos partidos de esquerda mais antigos da América Latina. Um século depois, valeu a pena?
Evidentemente, cabe a eles responder. Mas posso te dizer algo não especificamente sobre eles, nem sobre nenhum partido concreto, mas que penso a respeito de todas as organizações comprometidas com o socialismo e que hoje estão se tornando centenárias. Por um lado é muito bonito ter uma história tão rica, tão prolongada, com tantos erros e acertos, mas buscando sempre manter-se do lado dos trabalhadores, do socialismo. Por outro lado, a esquerda não é uma igreja, não é uma religião, não lutamos aqui para garantir a entrada no paraíso, não queremos ter mil anos, um grande passado pela frente. A esquerda é um movimento de luta por outra sociedade, queremos esta sociedade o mais rápido, o mais cedo que for possível. Temos pressa, temos urgência. Por isto, ao mesmo tempo que fico emocionado quando vejo o centenário do Partido Comunista do Chile ou do Partido Socialista do Uruguay, também penso no outro lado da moeda, naquilo que deveríamos ter feito e naquilo que poderemos fazer, para que no aniversário de 100 anos de fundação de outras organizações, elas não sejam mais necessárias, porque já atingiram seus objetivos. O PT, por exemplo, vai fazer 33 anos. Não estarei vivo para ver nosso centenário, mas espero que antes disso tenhamos um Brasil socialista.
(Geraldo Ferreira - Portal do PT, com informações do Foro de São Paulo)

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