Agência de intercâmbio fecha as portas e deixa 410 estudantes no prejuízo, entre eles potiguares

Em Natal, oito clientes estavam de 'malas prontas' para realizar o sonho de estudar fora do Brasil. Foto: Divulgação
Uma agência de intercâmbio que atua em oito países, com matriz em Dublin, na Irlanda, fechou as portas por motivos de falência, deixando clientes e funcionários sem nenhuma explicação. No Brasil, 410 estudantes que haviam comprado pacotes com a agência Intercâmbio BFA ficaram desamparados e, às vésperas de viajar, estão sem saber o que fazer. Na capital potiguar, oito estudantes vinculados à BFA estão inclusos na lista dos prejudicados.
A empresa pertence ao brasileiro Márcio Chaves, que trabalha há sete anos no mercado de intercâmbios com filiais na Irlanda e no Brasil. Segundo informações de ex-funcionários, após deflagração da crise, Márcio haveria se mudado de Dublin para a Espanha. Em nota de esclarecimento publicada na página oficial da empresa no Facebook, o empresário se declarou como “responsável legal” pela BFA, assumindo quaisquer responsabilidades futuras pelo fechamento da agência.
“Todas as operações da empresa no Brasil e na Irlanda, e, qualquer ação judicial que porventura for tomada contra as mesmas, serei eu o responsável”, disse. Márcio Chaves ainda esclarece que, ao longo destes mais de sete anos, “ofereceu serviços a alguns milhares de pessoas, sempre honrando compromissos assumidos com fornecedores, com clientes e com parceiros, tendo momentos turbulentos”, citando ainda uma crise enfrentada no ano de 2008, quando conseguiu superar “sem deixar nenhum compromisso financeiro ou de qualquer outra ordem a ser comprido”.
Ainda de acordo com a nota, o empresário alega que nunca sofreu condenação durante esses anos, sem nunca ter sofrido processo trabalhista, judicial ou de qualquer outra natureza no Brasil, na Irlanda, ou em outra nacionalidade. “Contamos com uma equipe de trabalho de jovens intercambista, que sempre colocaram o coração no que fizeram e que são verdadeiros heróis, principalmente neste difícil momento que estamos passando, liderado por Danniel Oliveira (ex-diretor comercial), que estão à frente na busca de amenizar os sofrimentos de todos, mesmo sem receberem por isto”, disse.
Com relação aos problemas hoje encontrados pela Intercâmbio BFA, o responsável pela agência disse que a situação é “fruto de uma flutuação de câmbio do Euro que se iniciou em maio de 2013, fazendo com que nossa empresa tivesse uma queda abrupta de faturamento naquele mês, gerando prejuízos altíssimos”. Márcio alegou que buscou ajuda financeira junto ao Banco Itaú, mas este apresentou uma negativa em função de restrições padrões do próprio banco à agência de viagens. A decisão de fechar a BFA foi tomada no último dia 5 de setembro.
“Estou pronto a ser julgado pela minha incompetência, de não conseguir gerir e solucionar nossos problemas. Porém, com toda a certeza, sei que dei o meu melhor e de forma alguma usei o dinheiro da empresa em benefício próprio de forma ilegal ou sem ética, pois deixo aqui a minha autorização de abrirem as minhas contas bancarias – não só minhas pessoais, como de todos meus familiares e das empresas – e verão que na verdade, nos últimos meses, o que houve foi injeção de todas as minhas reservas pessoais, na busca de reverter a situação e, como já disse, sem êxito”.
Falência deixa ex-funcionários e clientes desamparados
A falência da empresa pegou todos os funcionários e clientes da Intercâmbio BFA de surpresa. Jonathan Costa, ex-intercambista e funcionário da empresa em Natal, disse que ficou sabendo do fechamento da BFA na última quinta-feira (5) e desde então está fazendo o possível para não deixar os clientes que já haviam fechado pacote de viagem desamparados. Segundo ele, oito estudantes de Natal estavam com contrato assinado junto à agência.
“Há dois meses eu fechei a loja física daqui de Natal, mas continuei como representante. A loja em si não era responsável juridicamente pela empresa. Tínhamos uma loja física aqui apenas para atender melhor os clientes. O espaço era meu, mas eu tinha autorização de usar a marca da BFA, como prestar de serviço legalizado”, conta Jonathan Costa. “Na quinta-feira, através de um grupo de comunicação interna dos funcionários pela internet, nós fomos informados pela falência”.
“Nós, ex-funcionários, nos colocamos à disposição para ajudar todos os clientes que ficaram prejudicados a poderem concluir o processo de intercâmbio. Estamos em contato direto com alguns diretores e donos de escolas nos destinos contratados para ver descontos para nossos clientes. Estamos fazendo isso por conta própria, sem nenhum suporte da empresa”, explicou.
Para Jonathan, a surpresa do fechamento da empresa foi geral, devido à solidez da BFA no mercado. “Era uma empresa séria e conceituada. Por isso jamais esperamos por essa notícia. Porém, não podemos deixar as pessoas que confiaram em nós na mão. Eu mesmo já fui questionado por algumas pessoas, e, mesmo sem ter nenhuma culpa nisso, estamos tentando ajudar todo mundo. O dono da empresa simplesmente fechou as portas e não deu nenhum retorno com ninguém. Fora a Nota de Esclarecimento, nenhum contato com nós foi feito pelo Márcio”.
O ex-funcionário conta que não tinha carteira assinada, mais recebia comissões pelas vendas. “Tenho por volta de R$ 1 mil para receber. Mas sei que, dificilmente, verei esse dinheiro”, declarou.  Pela internet, o ex-diretor comercial da empresa, Danniel Oliveira, falou com a reportagem d’O JORNAL DE HOJE. Em Dublin, ele afirmou que está fazendo de tudo para não prejudicar as centenas de clientes com contratos já firmados. “Nós estamos tentando resolver todos os casos”.
De acordo com Danniel, um dos maiores problemas se dá naqueles casos em que as pessoas pagaram adiantado o valor total do intercâmbio ou boa parte do custo. As normas da BFA, conforme explicado pelo ex-diretor comercial, eram de repassar o dinheiro para os fornecedores um mês antes da viagem do estudante.
“Como as escolas ainda não tinham os dados de boa parte dos alunos, fizemos uma lista e estamos visitando escola por escola para negociar os valores que já foram pagos pelos estudantes à BFA e, quem sabe, conseguir bolsas de desconto. Já estamos conseguindo retorno para 85% dos casos”, disse. “Cada escola vai contribuir conforme puder. O ruim é saber que, aquele dinheiro já pago pelo cliente, não será devidamente aplicado. Acreditamos que único jeito de reaver esse dinheiro será o cliente entrando na justiça”, afirmou Danniel Oliveira.
Esse é o caso de Edilaíne Christine Paiva, de 26 anos, que comprou um pacote de intercâmbio em março deste ano e iria para Dublin em janeiro de 2014. Segundo ela, do investimento de R$ 5,9 mil, já foram pagos até o momento R$ 4.170. “Tenho o contrato assinado e os comprovantes dos repasses que já foram feitos. Ainda tenho a esperança de viajar, devido a ajuda dos ex-funcionários que estão dispostos a nos atender. Mas certamente isso desmotiva. Vou ver se vale a pena pagar novamente um pacote por outra empresa ou pagar individualmente”, afirmou.
Apesar de ainda querer encarar esse intercâmbio “furado”, Edilaíne disse que não ficará inerte diante do descaso. “Estou com toda a documentação para colocar a empresa na justiça e tentar reaver o meu dinheiro. Sei que será difícil, mas não tenho outra saída. O ruim é que o todo esse dinheiro que eu investi se perdeu”, disse.
Do JH

Nenhum comentário:

Postar um comentário