População relata a rotina em áreas de violência

Daísa Alves e Valdir Julião
Repórteres
da TN
“O vandalismo tomou conta. É droga, roubos.. as autoridades não dão jeito mais”, desabafa Juberlita Miguel, 54, desempregada. Ela está desacreditada. Moradora de Nossa Senhora da Apresentação, Zona Norte de Natal, como segurança ela se apega a fé e evita transitar em localidades mais “perigosas”, onde notícias de crimes violentos são frequentes.

Com 218 homicídios ocorridos no ano passado, segundo dados oficiais do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), a Zona Norte responde por 41,4% dos assassinatos em  Natal. Dentre os sete bairros de lá, Nossa Senhora da Apresentação é o bairro com maior número absoluto de assassinatos, 78 em 2013, o que presenta  35,8% dos homicídios oficialmente registrados naquela área administrativa da cidade.

Chefe de investigação em exercício da 9ª DP e sob qual jurisdição está o bairro de Nossa Senhora da Apresentação,  a agente policial Elaine Miranda Canella, disse sua área de atendimento “é muito grande” e não tem outra delegacia que auxilie na investigação. “Existe a Deam aqui, mas só investiga crimes cometidos contra mulheres”. Eliane Canella admite que a falta de estruturas das delegacias também contribui para a impunidade, afora outros fatores. Na 9ªDP, exemplificou ela, só tem nove agentes de Policia Civil e para a locomoção de duas viaturas, “só disponibilizam 40 litros de combustível por semana”.

Já na Zona Oeste, que é dividida em dez bairros, foram assassinadas 208 pessoas no ano passado ou 39,5% das mortes ocorridas nas quatro regiões administrativas da cidade. Felipe Camarão é, numericamente, o segundo bairro recordista de homicídios (52) em Natal ou responsável por 11,5% desses assassinatos.

Mas, para o delegado titular do 14º Distrito Policial, Luiz de Pontes Lucena, Felipe Camarão é, relativamente, o bairro mais violento de Natal, considerando que tem uma área de 6,54 quilômetros quadrados contra  10,25 km² de Nossa Senhora da Apresentação.

Nessa situação, um momento que poderia ser de lazer, na calçada em frente de casa, pode ser o camarote para um crime. Paulo Ferreira, 59, mora em Mãe Luíza há mais de 40 anos. Ele conta que há dois meses estava olhando os netos jogando bola na rua quando ouviu tiros um quarteirão a frente, na mesma via. Todos correram para dentro de casa, e em seguida motos passaram em alta velocidade. Dois haviam sido baleados. “Na minha rua isso não é sempre, mas no bairro, o tiroteio é constante”, relata. 

A Zona Leste contabiliza cerca de 22% dos homicídios ocorridos no ano passado. O bairro de Mãe Luíza lidera o ranking entre os quatro bairros na lista desta zona, com um total de 23 assassinatos registrados. Ele credita ao tráfico de drogas as altas constatações do crime. “Qualquer preço é o valor da vida”, afirma Ferreira, relacionando as dividas de compra de substâncias de drogadição como motivo principal para as mortes. “A população sofre com isso, até na saúde somos atingidos”, diz. Ele mora em frente ao Posto de Saúde do bairro e relata que no final de semana é mais difícil encontrar médicos que temem a insegurança do local. 

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