Fim das exportações na Del Monte impacta o porto

Plantação de bananas no RN: com dificuldades para exportar, a Del Monte só vai vender no Brasil
As consequências da não exportação de banana no RN pela multinacional Del Monte Brasil  devem ser sentidas com maior intensidade no Porto de Natal, visto que toda a produção da fruta da empresa, até então, é exportado pelo Porto de Natal. Um logística de mais de 10 mil conteinêres ao ano. 

De acordo com Otomar Lopes Cardoso Júnior, especialista em comércio exterior e professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Potiguar, “embora não seja um valor expressivo, cada vez que se perde uma carga o Porto perde competitividade”, declara. 

Ele explica que se torna desinteressante para o navio realizar uma viagem com menor quantidade de carga. “O custo da viagem fica mais caro, e a competitividade com outros estados mais acirrada. É ruim para o nosso estado”. A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) foi procurada pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE, no entanto, até o fechamento desta edição, não respondeu aos nossos questionamentos por e-mail.

Há outros efeitos no mercado, além das negociações no Porto de Natal. “É um efeito cascata. Se ele deixa de exportar, deixa de contratar mais gente, de pagar frete de caminhões transportando o produto da área de plantio à exportação, e mais difíceis de mensurar”, relata Cardoso.

O produto a deixar de ser exportado pela Del Monte no estado, a banana, em 2013 se encontrava na sexta colocação dos principais produtos exportados no RN, com um volume financeiro de U$$ 10.863.099. Distante consideravelmente da primeira colocação, ocupada por outra cultura frutífera, o melão, que movimentou U$$ 58.230.174 ano passado. A castanha de caju, considerada fruta seca, está colocada em segundo lugar, com um total de U$$ 23.820.414 em exportação.

Nos últimos oito anos a empresa oscilou entre as posições no ranking de exportações no estado. Em 2007, ela ocupava a terceira colocação com um total de U$$ 27.347.646 em exportações. A colocação mais baixa foi em 2008, no ano seguinte, se posicionando em décimo primeiro, e movimentando U$$ 14.282.680.

Mesmo o Brasil sendo o terceiro país com maior volume de exportação, se encontrando atrás apenas da China e da Índia, outras empresas de fruticultura também enfrentam dificuldades em manter suas atividades, segundo Roberto Barcelos, presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX). “Temos entraves para o mercado da fruticultura, na tributação e no registro de defensivos”, relata. Altas taxas de impostos que desfavorecem a competitividade - taxa de 40% de imposto sobre o produto, banana, exportado  -, e lentidão no processo de registro junto aos órgãos federais.

NÚMEROS
10,86 milhões de dólares foi quanto o RN exportou em banana em 2013.
27,34 milhões de dólares foi quanto a Del Monte exportou em 2007.
14,28 milhões de dólares foi quanto a Del Monte exportou em 2008.

MEMÓRIA

Não é a primeira vez que a Del Monte Brasil enfrenta problemas com a sua produção. Em maio de 2008, a produtora e exportadora de frutas anunciou a demissão de cerca de mil funcionários no Rio Grande do Norte, devido aos “inúmeros prejuízos” causados pelas enchentes no Vale do Açu, onde concentra sua produção. As demissões ocorreriam principalmente em Carnaubais e na Zona Rural de Assu.

Na época, entre as 12 fazendas da companhia, pelo menos quatro tiveram o acesso comprometido por alagamentos. E estimaram perda de metade da produção prevista para o ano, de 4,5 milhões de caixas (81 mil toneladas).

Ano passado, a empresa não conseguiu conter a queda nas exportações no primeiro semestre. A área de plantio foi ampliada em 150 hectares, chegando a 1,4 mil apenas no estado, mas ainda assim o volume exportado foi 28% menor que o exportado no mesmo período de 2012. A razão foi a seca. O quadro fez a empresa repensar investimentos e cogitar a possibilidade de enxugar o quadro de funcionários.
Presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (Coex)falou sobre a situação
Bate-papo - Luiz Roberto BarcelosPresidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (Coex)

Como o Coex analisa a saída da Del Monte do mercado internacional?
O Brasil é o terceiro maior exportador de frutas do mundo, depois da China e da Índia, então a gente vê que alguma coisa está errada. Isso demonstra que a exportação de fruta precisa ser mais incentivada. No panorama atual, isso pode acontecer com outras empresas também.

A Del Monte relatou “dificuldades com o alto custo do mercado europeu, e condições internas desfavoráveis”. Essa situação é comum às demais empresas do setor?

São dois problemas que nós do setor temos, que acredito que a Del Monte está tendo, e isso se solucionaria com um acordo de livre comércio entre o Brasil e a União Europeia. Para exportação na União Européia hoje existe uma taxação, um imposto sobre as frutas brasileiras. Para os concorrentes, outros exportadores (de outros países), o imposto é zero, porque eles têm acordo de livre comércio. Isso tira a competitividade da gente. Esse possivelmente é um dos motivos pelos quais a Del Monte está sofrendo. Isso afeta as outras frutas também, não só a banana. 

Qual o segundo problema?
O segundo problema é a parte de registro de defensivos agrícolas. São muito lentos e caros, se não o tem, a empresa não pode exportar. Respondemos a três Ministérios, o da Agricultura, do Meio Ambiente, por meio do Ibama e da Saúde, pela Anvisa. O ideal seria  uma agência que concentrasse esse processo, com mais agilidade e menos custos.

Qual o impacto essa saída pode gerar para o Estado?

Se todo mundo começar a tomar essa mesma atitude, nós vamos ter uma oferta de frutas no mercado interno maior, os preços vão baixar e não vai dar para cobrir os custos de produção. Então, a gente estaria deixando de explorar o mercado externo, gerando muito mais emprego. 
da TN

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