Natal está preparada para a Copa”

Entrevista - Maeterlinck Rêgo 
Médico do América e coordenador médico da Fifa em Natal

Médico mais antigo em atividade, prestando serviços em clubes do futebol brasileiro, Materlinck Rêgo, com 43 anos de carreira, foi o nome escolhido pela Fifa para ser o coordenador médico da entidade, em Natal, durante a realização da Copa do Mundo. Ele confessou que, em princípio, recusou o convite, mas depois resolveu atender às insistências dos amigos médicos e topou o desafio. Desde outubro de 2012, quando foi oficializado no cargo, que iniciaram os preparativos para preparação da área de saúde na capital potiguar. Conhecendo o sistema de saúde da capital potiguar como a palma de sua mão, e com a vasta experiência no meio esportivo, o profissional disse que não tem dúvida de que os potiguares poderão desempenhar um grande serviço durante o Mundial e diz não temer sequer a precariedade do sistema público, alvo de muitas críticas, mas que para ele, tem capacidade de atender bem os casos de urgência que surgirem durante os jogos.
Como se encontra a questão da prevenção médica para a Copa do Mundo, em Natal?
Em Natal eu fui escolhido como coordenador médico da Copa do Mundo, no total são 12, um para cada sede. O nosso primeiro grande teste da estrutura que está sendo montada foi no clássico América x ABC, no último dia 3 e, graças a Deus, foi tudo bem. Dez mil pessoas assistiram àquela partida e nós registramos cinco ocorrências apenas.

O atendimento ocorreu como vai ser nos dias dos jogos da Copa?
As ocorrências foram coisas fáceis de serem resolvidas. Todos os casos foram atendidos dentro da própria ambulância de UTI da Unimed, que será a operadora de saúde nos jogos da Copa do Mundo aqui em Natal. 

Que tipo de estrutura será montada para o atendimento de saúde?
A nossa responsabilidade maior, durante os jogos, será atuar diretamente com o pessoal que vai estar a serviço no campo, os atletas, dirigentes e convidados da Fifa. Sala médica dos jogadores, salas vips, além do atendimento no campo de jogo.

Como isso ocorrerá. O atendimento vai chegar também ao público?
Dentro de campo nós vamos atuar com duas equipes médicas, que deverão ficar postadas ao lado dos bancos de cada uma das seleções que estarão atuando. Cada uma delas irá contar com um profissionais médico, mais três paramédicos. Com relação aos serviços prestadores aos espectadores, eles ficarão a cargo do serviço de atendimento da Unimed, que será responsável pelos primeiros socorros.

Nos últimos anos, nós verificamos problemas com casos de mortes súbitas no futebol. Como é que o serviço de saúde da Fifa está se preparando ?
Na realidade a prevenção para tentar evitar casos desses tipos, não compete a Fifa, mas sim as próprias seleções que possuem um trabalho mais direto com os seus jogadores. Ao ser convocados eles são obrigados a passar por uma bateria de exames, podemos verificar isso na divulgação da programação da Seleção Brasileira, onde dos dias serão destinados apenas à realização de exames médicos e complementares nos atletas. Eles serão avaliados na parte ósseo-muscular e na parte cardiovascular principalmente justamente para evitar esse tipo de surpresa. Mas ainda assim, em acontecendo um acidente dentro de campo, em qualquer uma das 12 sedes, nossa equipe estará preparada para realizar os trabalhos de primeiros socorros e que estarão prontos para agir ao lado dos bancos das seleções.

Quais são as especialidades dos médicos que compõem essas equipes de primeiros socorros?
Cada uma delas é formada por um cardiologistas e dois intensivistas. Esses membros possuem uma larga experiência trabalhando em hospitais e saberão agir da melhor forma no socorro ao paciente.

Qual a importância do intensivista em estádio?
Ele é o profissional médico que trabalha nos hospitais atendendo especificamente os casos de emergência e urgências. Esses casos são principalmente de natureza cardiovascular. Nós deveremos ter ainda um bom número de ambulâncias, equipadas com aparelhos de última geração, para realizar o atendimento de primeiros socorros ao público. Ela assim como as equipes de campo, contarão com desfibriladores,  aparelhos usado para recuperação dos batimentos cardíacos, em caso de ocorrer algum caso de parada cardíaca.

A rede hospitalar que nós temos em Natal se encontra preparada para receber um evento ?
O exemplo que posso dar é o seguinte: Natal não participou da Copa das Confederações; foram seis sedes, e nós ficamos de fora. Mas os relatos e as estatísticas que possuímos da competição, que foi o primeiro grande teste da Fifa realizado no Brasil, não demonstra a ocorrência de casos alarmantes. Isso estamos nos referindo aos registros de casos fora do estádio, todos considerados corriqueiros. Já dentro das arenas, não houve qualquer tipo de registro. Também não foi verificado nenhum óbito. Mas uma equipe que está sendo preparada para trabalhar num evento dessa magnitude, não deve ter receio de enfrentar nenhum caso. 

Em termos hospitalares, como Natal está preparada?
Inicialmente, nós estamos com dois hospitais particulares de referência e mais os públicos que vão entrar na nossa lista de atendimento. O Walfredo Gurgel, o Santa Catarina e o Deoclécio Marques serão as nossas referências para os atendimentos de urgência e emergência ao grande público. O torcedor estrangeiro que vier com o seu seguro de saúde e, geralmente, todos vêm com os seus, terão atendimento também em nossa rede privada.
O horário dos jogos, não habituais para os jogos realizados no Brasil, preocupa a classe médica?
Isso é uma coisa que já foi verificada. Antes de marcar os jogos a Fifa consultou os serviços de meteorologia que informaram como deve estar o clima em cada uma das sedes no momento da realização das partidas. O mês de junho, em Natal, costuma ser chuvoso, então esperamos que nesse período, com a nossa temperatura em condição de inverno, tenhamos uma temperatura agradável. 

Mas não é a primeira vez que a Fifa oferece horários considerados impróprios nos países sedes para os jogos de futebol, não é verdade?
Quando a Fifa oferece esses horários, antes ela faz um levantamento nas centrais de meteorologia. Mas também acontece aquilo que vimos na Copa dos Estados Unidos, onde o Brasil realizou a final contra os italianos enfrentando uma temperatura de quase 40 graus, debaixo de um sol de meio-dia.  Isso é uma regra determinada pela Fifa e que somos obrigados a cumprir.

Há algum risco maior para os atletas jogarem numa temperatura tão alta, como costuma ocorrer em Natal nestes horário das 13 horas?
Existir, existe, mas no período da realização da Copa do Mundo o Brasil estará em sua fase de inverno, onde geralmente não temos temperaturas muito elevadas, então acredito que não devam ocorrer problemas neste sentido. Mas é claro que se o jogador vai correr o risco de atuar numa temperatura muito alta, o atleta e a seleção tem de contar com um departamento de fisiologia integrado com o departamento médico e previamente preparados para trabalhar os jogadores.
da TN

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