Destruída por enxurrada há 1 ano, Itaóca, SP, ainda tenta se reconstruir

Itaóca tenta se reerguer após um ano da tragédia que matou 27 pessoas (Foto: G1)
Itaóca tenta se reerguer após um ano da tragédia que matou 25 pessoas  (Foto: G1)
A forte enchente que destruiu a cidade de Itaóca, no Vale do Ribeira, interior do Estado de São Paulo, completa um ano nesta terça-feira (13). Apesar de já terem se passado 365 dias, os vestígios de destruição e sofrimento continuam por todos os lados. Árvores, animais, pontes, casas e pessoas foram levadas por uma forte onda provocada por um deslizamento de terra que atingiu os rios da cidade. A tragédia deixou dezenas de famílias desalojadas e 25 pessoas mortas, além de duas crianças levadas pela enxurrada que nunca foram encontradas. Após um ano, as casas prometidas para os desabrigados não foram construídas, as principais pontes da cidade não foram refeitas e ainda há sinais visíveis do desastre natural nos bairros rurais.
Já na área rural, as famílias que conseguiram sobreviver deixaram as suas casas e foram morar com parentes em lugares mais seguros. No bairro Guarda Mão, que foi completamente devastado, ainda é possível ver enormes troncos de árvores e pedras que rolaram pelo morro no dia da enchente, iniciando todo o processo de destruição causado na cidade. Já o rio está bem mais tranquilo do que no dia da tragédia e pode ser atravessado a pé.O centro de Itaóca está bem diferente do jeito que foi encontrado pela equipe do G1 há exatamente um ano, já que o Ministério das Cidades destinou R$ 2,4 milhões para limpeza e recuperação das áreas atingidas pela chuva. A vida da maioria dos moradores voltou ao normal. Algumas casas, às margens do Rio Palmital, guardam as marcas da enchente, enquanto outras foram reformadas. Também houve casos de moradores que abandonaram as residências e foram morar em lugares mais altos. O cartório da cidade, que ficou cheio de lama, mudou de lugar e agora funciona na praça central. A base da Polícia Militar também foi invadida pela água e o atendimento passou para outra casa, de maneira improvisada.
Pedras deslizaram durante enchente e mataram família em Itaóca (Foto: Mariane Rossi / G1)
Pedras deslizaram durante enchente e mataram família em Itaóca (Foto: Mariane Rossi/G1)
Faustina Matos de Almeida e Rene Lopes de Almeida são sobreviventes do bairro Guarda Mão. A casa deles fica no alto do morro e por pouco não foi atingida pela enchente. “Começou a chuva, fomos na igreja, quando voltamos já estava com água na altura do joelho. Foi aumentando, pedra, chuva, raio. Foram quase três horas de chuva sem parar. As casas do bairro foram destruídas”, conta ela.  Apesar do nível da água ter voltado ao normal, a Defesa Civil os orientou a deixar a casa. Adão ainda visita o local diariamente porque tem criação de animais. Agora, porém, o casal está morando em uma casa alugada no bairro Lajeado. Eles receberam auxílio-aluguel do Governo Federal durante nove meses e aguardam uma solução, ou uma nova casa. “Ainda estão faltando três meses de auxílio-aluguel. A gente não sabe, eles fazem reunião e tem o projeto das casas. Falaram que vão começar a construir esse ano, mas até agora nem a terraplanagem fizeram”, reclama Faustina.
A enchente aconteceu em uma noite de domingo, dia 12 de janeiro, e se estendeu pela madrugada do dia 13, quando os estragos começaram a ser causados. Todos os 13 bairros de Itaóca foram atingidos, sendo que 12 ficam na zona rural do município, a área mais afetada. A forte chuva encharcou os morros e fez transbordar o Rio Palmital. Grandes pedras rolaram pelos morros e ajudaram a formar uma grande onda que atingiu casas, árvores, carros e animais. Ruas e estradas da cidade ficaram tomadas pela água, lama e enormes pedras e troncos de árvore.  
Dona Faustina ganha auxílio aluguel. Ela teve que deixar a casa dela no bairro Guarda Mão, após a enchente (Foto: Mariane Rossi / G1)
Dona Faustina teve que deixar a casa dela no
bairro Guarda Mão (Foto: Mariane Rossi/G1)

A casa da professora Ana Lucia Ribas Ferreira Martins, no Centro de Itaóca, foi invadida pela água da chuva e a situação só não ficou pior porque um imóvel atrás bloqueou a passagem de galhos e troncos. Ela abandonou a casa e está morando com os filhos e marido na casa do pai. ”Como o meu marido teve muito prejuízo na mercearia, nós tivemos que primeiro acudir lá e depois pensar na casa. Perdi tudo, ainda não consegui recuperar a minha casa, minha mobília. Esse ano foi bastante triste, mas a gente está conseguindo viver. Aos pouquinhos vamos voltar, se Deus quiser”, diz ela. A professora confessa que tem medo de voltar a morar na beira do rio, mas tem esperança de que uma enchente como aquela não aconteça novamente.  Até hoje, 25 corpos foram encontrados. Maikon Antonio de Oliveira Mota, de 13 anos, e José Gonçalves da Mota Neto, de 5 anos, permanecem desaparecidos. As duas crianças eram moradoras do bairro Guarda-Mão, um dos mais afetados. Eles eram parentes e toda a família dos dois acabou morrendo na enchente.
Casas ainda guardam marcas da enchente em janeiro de 2014 (Foto: Mariane Rossi / G1)
Casas ainda guardam marcas da enchente de
janeiro de 2014 (Foto: Mariane Rossi/G1)
Na época, a Prefeitura de Itaóca decretou estado de calamidade pública e o prejuízo foi calculado em R$ 23 milhões, duas vezes o orçamento anual da cidade, que é de cerca de R$ 12 milhões.
Famílias sobreviventes
De acordo com a Prefeitura de Itaóca, além dos mortos, 127 famílias ficaram desalojadas e 36 desabrigadas. As casas foram destruídas pela forte chuva ou estavam em áreas de risco e, por isso, os moradores tiveram que abandoná-las. Segundo o prefeito Rafael Camargo, 97 famílias receberam o auxílio-aluguel de R$ 400 do Governo Federal durante seis meses, sendo que 25 famílias tiveram o benefício estendido para janeiro deste ano.
Prefeito de Itaóca relata as dificuldades para reconstruir o município após tragédia (Foto: Mariane Rossi / G1)
Prefeito de Itaóca relata as dificuldades para
reconstruir município (Foto: Mariane Rossi/G1)

Durante esse tempo, seriam construídas novas casas, mas isso não aconteceu. “As casas não estão prontas. Vamos tentar buscar o recurso de novo, com a mesma dificuldade que tivemos para prorrogar para um ano. Vamos correr para ver se prorrogamos mais seis meses para dar tempo de fazer as casas para essas 25 famílias. O auxílio-aluguel é dado pelo Governo Federal. Não há previsão e não sabemos se eles vão liberar. Para a prefeitura pagar, é um valor muito alto”, afirma o prefeito.
Segundo Camargo, serão construídas 127 casas. Cerca de 14 famílias serão atendidas pelo Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) e o início das obras já foi autorizado. Outras 22 famílias receberão casas do Ministério das Cidades. A lista das famílias contempladas está sendo refeita e o prefeito aguarda a aprovação do projeto. Já as demais casas, cerca de 90, serão construídas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional (CDHU). O edital para uma nova licitação deve sair ainda no mês de janeiro. “Foi feita a licitação, mas não chegamos em um acordo com a CDHU. Teve atraso na obra em função disso”, diz ele.

Pontes

Uma das pontes destruídas pela enchente foi refeita pelos moradores da cidade (Foto: Mariane Rossi / G1)
Uma das pontes destruídas pela enchente foi refeita pelos moradores da cidade (Foto: Mariane Rossi/G1)
Além das casas, 10 pontes da cidade ficaram completamente destruídas. Após a enchente, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) visitou o município e autorizou a reconstrução da ponte que fica no Centro da cidade. O prazo de término da obra era dezembro de 2014, mas ela ainda não foi concluída. Segundo o prefeito de Itaóca, as obras não estão paradas e a ponte deve ser inaugurada entre o fim de fevereiro e começo de março deste ano.
Uma ponte que fica entre os bairros Lageado e Centro também foi destruída pela enchente. Os próprios moradores, cansados com a demora do governo, reconstruíram a ponte, que suporta a passagem de carros, motos e pedestres.  Outras três pontes atingidas serão refeitas em uma parceria entre a prefeitura e a Secretaria da Agricultura. A prefeitura está comprando o material para fazer as cabeceiras das pontes, que serão metálicas. “Duas ficam no bairro Guarda Mão e uma em Gurutuba” , destaca o prefeito. Já as outras ainda não foram recuperadas. De acordo com Camargo, o Ministério da Integração Nacional está calculando o valor estimado para a reconstrução de cada uma delas.

Estradas
A estrada que dá acesso à cidade e que liga Apiaí a Itaóca foi bloqueada por troncos de árvores depois da enchente. Após um ano, a rodovia foi totalmente limpa e está com o tráfego normalizado. Apesar disso, ainda necessita de obras, por conta dos trechos críticos onde ocorreram os deslizamentos. De acordo com o prefeito, a empresa já ganhou a licitação para realizar os reparos na rodovia. “A empresa fez essa semana as medições para o início das obras. Não será preciso interditar para fazer os trabalhos”, finaliza.
Um ano após enchente em Itaóca é possível ver as ruas limpas bem diferente do dia da tragédia (Foto: Mariane Rossi / G1)
Um ano após enchente em Itaóca, é possível ver as ruas limpas (Foto: Mariane Rossi/G1)Mariane RossiDo G1 Santos

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