Comunidades Quilombolas do RN mantêm viva resistência histórica, cultural e social

O Rio Grande do Norte tem cerca de 50 grupos de Comunidades Remanescentes de Quilombos. Apenas 21, porém, são oficialmente reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A realidade na maioria dessas comunidades ainda é de carência, mas, ao mesmo tempo, os territórios se afirmam como espaços de resistência histórica, cultural e social.

Uma das comunidades reconhecidas é o Quilombo Capoeiras, localizado no município de Macaíba, cidade da Região Metropolitana de Natal (RMN). Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, nossa reportagem visitou o local a fim de conhecer mais sobre seu cotidiano. Lá, conhecemos a tradição do “pau furado”, que nos foi apresentada pelo Mestre Deba.

“A cultura mais rica é o zambê [pau furado]. Antes eu passava e diziam ‘lá vai o neguinho de Capoeiras’, mas hoje não me chamam assim. Hoje eu sou reconhecido como Mestre Deba”, contou, orgulhoso, sobre o reconhecimento da manifestação cultural típica daquela comunidade quilombola.

Manoel Santos, morador da comunidade, explicou que o surgimento da tradição remonta ao tempo dos bisavós deles, que se juntavam para fazer as festas locais, quando ainda havia poucas casas no quilombo. “Era o divertimento que existia naquela época”, contou.

O reconhecimento das comunidades é essencial para que as famílias que lá residem possam adquirir a titularidade das terras. Além disso, estabelecer historicamente o espaço geográfico quilombola significa assegurar a continuidade dessa cultura herdada dos antigos escravos, que, além de riquíssima, nos ensina muito sobre a constituição da nossa sociedade, do nosso estado e do nosso país.

As dificuldades das famílias quilombolas não se resumem à demora na obtenção do título das terras, à dificuldade para se inserir no mercado de trabalho e à luta diária para ter acesso aos serviços básicos de saúde, educação e moradia. O racismo ainda é um estigma contra o qual precisam lutar diariamente.
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A jovem Gizellya Marques, outra moradora de Capoeiras, relatou sofrer preconceito na internet, o que ela classificou como “absurdo”.

“A gente não tem o direito de se expor por causa da nossa cor?”, questionou. “As pessoas têm que ter ‘a cabeça’ de aceitar a gente como a gente é. Não podemos nos esconder, mas mostrar mesmo nossa cara preta”, desabafou.

Ana Cleide lembrou que “educação é a base” de tudo. Ela falou do orgulho de hoje em dia ver negros e negras entrarem para a universidade.

“Pra gente, é um privilégio muito grande ver um negro chegar à universidade, porque antes a gente não via isso acontecer. Nós das comunidades quilombolas temos que ocupar nossos espaços. Antes a gente era só um pedaço do palco. Hoje, a gente quer o palco inteiro”, comentou.

Andréia Santos, moradora da Comunidade Quilombola de Grossos, na cidade de Bom Jesus, também falou sobre o papel emancipador da educação. “A gente tem que botar essas crianças pra estudar, temos que mostrar que tudo acontece a partir da educação, de uma graduação, de uma pós-graduação; se não, vamos ficar na mesmice”.

É assim, mantendo acesa a chama das tradições culturais, vivenciando um cotidiano com base na solidariedade e enxergando um futuro de dias melhores através da educação que as comunidades quilombolas seguem na luta no Rio Grande do Norte.

Fotos: Vlademir Alexandre.

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