Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), "dois episódios demonstram isso. No celular apreendido na casa do Eduardo Cunha em dezembro de 2015, tem uma conversa entre o Funaro, que era o operador de Cunha, e Fábio Cleto sobre o Geddel. O Funaro reclama que não aguentava mais o Geddel, pedindo dinheiro. Lá pelas tantas, o Funaro fala: se o Geddel não parasse, 'vou foder ele com o Michel' (...). Na apreensão da última sexta-feira, surge outra situação envolvendo uma polêmica com o Geddel. E de novo a inferência é a mesma. Se ele não parar, nós vamos ao Temer"; em entrevista ao blog Viomundo, o parlamentar afirma sobre Geddel e Derziê Sant´Anna: "Qualquer um dos dois que for preso, vai abrir a boca, vai entregar. E se falarem, o Temer cai"; leia a íntegra
do 247
por Conceição Lemes, do Viomundo
10 de dezembro de 2015. Fábio Cleto, recém-exonerado da vice-presidência da Caixa Econômica Federal pela presidenta Dilma Rousseff, é preso na Operação Catilinárias, uma das etapas da Lava Jato.
Cleto faz acordo de delação premiada e afirma que o doleiro Lúcio Bolonha Funaro e o então deputado federal e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), comandavam o esquema de cobrança de propinas de empresas interessadas em obter empréstimos do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS).
Diz também que, embora tivesse o poder de indicar os projetos nos quais a Caixa deveria investir, suas decisões, na verdade, se pautavam pela conveniência de Cunha.
Em dezembro de 2015, a Catilinárias cumpre também mandado de busca e apreensão na residência oficial e no gabinete de Eduardo Cunha.
Em 1º de julho de 2016, Funaro é preso. Em 19 de outubro, Cunha também.
13 de janeiro de 2017, sexta-feira passada. Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) é alvo da Operação Cui Bono?, deflagrada pela Polícia Federal, que faz busca e apreensão em imóveis do ex-ministro na Bahia.
Geddel deixou a Secretaria de Governo de Michel Temer em 25 de novembro de 2016, acusado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, de fazer pressão para a liberação de um empreendimento imobiliário em Salvador, no qual tinha apartamento.
A Operação Cui Bono? (“a quem beneficia?”, em latim) é um desdobramento da Catilinárias, realizada em dezembro de 2015. Na época, a PF apreendeu um celular em desuso na casa de Cunha que, após ser periciado, acabou por revelar o esquema de fraudes na Caixa.
O aparelho continha intensa troca de mensagens eletrônicas entre Cunha e Geddel, que era vice-presidente da Caixa Econômica Federal de Pessoa Jurídica entre 2011 e 2013.
Relatório da Polícia Federal aponta que Geddel atuava “em prévio e harmônico ajuste” com Cunha, para facilitar a liberação de empréstimos da Caixa Econômica Federal a empresas e, em troca, receber propina.
Relatório da Polícia Federal da Operação Cui Bono? cita outro aliado de Michel Temer: o atual vice-presidente de governo da Caixa, Roberto Derziê de Sant´Anna.
Ele é apontado como participante do esquema de concessão de financiamentos do banco que funcionava mediante pagamento de propinas.
Derziê aparece na parte do relatório que detalha a operação para a liberação de um crédito de R$ 50 milhões para a empresa Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, vinculada ao grupo Comporte Participações. O Comporte pertence à família Constantino, controladora da Gol Linhas Aéreas.
Detalhe: embora Geddel e Derziê sejam muito próximos de Michel Temer, a mídia se comporta como se o presidente não tivesse nada a ver com eles.
Conversei com o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) a respeito. Confira a entrevista exclusiva:
Viomundo – Por que essa blindagem?
Paulo Pimenta — Essa operação [Cui Bono?, que fez busca e apreensão nos imóveis de Geddel] chega direto no Temer, ele é o chefe da quadrilha.
Viomundo – Em que o senhor se baseia para fazer essa afirmação?
Paulo Pimenta – Dois episódios demonstram isso. No celular apreendido na casa do Eduardo Cunha em dezembro de 2015, tem uma conversa entre o Funaro (codinome Lucky), que era o operador de Cunha, e Fábio Cleto (codinome Gordon Gekko) sobre o Geddel.
O Funaro reclama que não aguentava mais o Geddel, pedindo dinheiro. Lá pelas tantas, o Funaro fala: se o Geddel não parasse, “vou foder ele com o Michel”.
É tal quando você pega uma criança fazendo algo errado e ameaça: “vou contar para o teu pai”.
Ou, quando se quer pressionar uma pessoa, você se refere sempre a alguém superior a ela.
Então a maneira que eles tinham de pressionar o Geddel para pedir menos dinheiro, era ameaçá-lo de contar tudo ao Temer.
Na apreensão da última sexta-feira, surge outra situação envolvendo uma polêmica com o Geddel. E de novo a inferência é a mesma. Se ele não parar, nós vamos ao Temer. No primeiro caso, era sobre o FGTS. Agora, é sobre empréstimos na Caixa Econômica, da qual Geddel foi vice-presidente de pessoa jurídica de 2011 a 2013.
Então, são duas operações, onde há referências expressas do Funaro que demonstram que o Temer é o chefe. Do meu ponto de vista, a simples análise das transcrições da Polícia Federal já demonstra isso.
Viomundo – É suficiente para dizer que o Temer é o chefe?
Paulo Pimenta – Se isso não é suficiente, vamos ao seguinte. No relatório da Polícia Federal sobre a Operação Cui Bono? aparece o nome do Roberto Derziê de San´Anna, atual vice-presidente de governo da Caixa.
O Derziê surgiu trabalhando com o Moreira Franco (PMDB-RJ). Depois, foi alçado a uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal.
Quando Dilma convidou Temer [em 2015, era vice-presidente] para ir para a SRI [Secretaria de Relações Institucionais], ele levou o Roberto Derziê, para ser o secretário-executivo.
Como o Temer acumulava a vice-presidência com a SRI, na prática, era o Derziê quem fazia toda a relação com os deputados, senadores, liberação de emendas.
Quando Temer sai da SRI, o Geddel é exonerado da Caixa, quem é colocado de volta?
É o Derziê, no lugar do Geddel.
Então, o Derziê trabalhou com o Moreira Franco, com o Geddel e com o Eliseu Padilha (PMDB-RS) na SRI.
Quando o Temer assumiu, por que o Derziê não foi nomeado logo vice-presidente da Caixa?
Porque ele ficou até o final, foi demitido pela Dilma e ficou em quarentena. Por isso, ele só pode ser nomeado no final do 2016.
Ele volta para a Caixa para ocupar a vice-presidência de pessoa jurídica, que é justamente a que vai lidar com as empresas.
Viomundo – O que demonstra isso?
Paulo Pimenta — Seletividade. Com todas as informações que constam no relatório da PF, por que o Derziê não foi preso ou levado coercitivamente? Por que também o Geddel não foi preso nem levado coercitivamente para depor?
Afinal, eles não têm foro privilegiado e pessoas com muito menos envolvimento estão presas em Curitiba e Brasília.
Viomundo – Por quê?
Paulo Pimenta — É uma proteção da própria Justiça.
Se pegarem o Geddel ou o Derziê, automaticamente eles vão pegar o Temer.
Por que a mídia não pediu a cabeça do Geddel ou do Derziê?
Por que ninguém – inclusive a mídia — achou estranho o Geddel, a quem Funaro se refere sempre como “boca de jacaré”, não ter sido levado coercitivamente?
Qualquer um dos dois que for preso, vai abrir a boca, vai entregar.
E se falarem, o Temer cai.
Veja bem. Se eu, um deputado, tenho condições com as informações disponíveis de apresentar para ti esse caminho, imagina a Polícia Federal, a Lava Jato.
Viomundo – Tudo isso seria do conhecimento tanto da Polícia Federal quanto da Lava Jato?
Paulo Pimenta – Claro! Se eu, sem os instrumentos que eles têm, simplesmente me baseando nos relatórios, estou fazendo as conexões, é evidente que eles sabem. Tudo o que estou te dizendo aqui eles sabem: o Derzié é o elo da quadrilha, e o Temer o chefe.
Viomundo — Eles têm o potencial para serem um novo Cunha?
Paulo Pimenta — Não. O Cunha é outro esquema. O Geddel e o Derziê faziam a ponte do Temer com o Cunha.
Tem três grupos. Um grupo é o do Senado. Quem comandava a relação do Senado com o Temer era o Jucá [Romero Jucá, PMDB-RR] e o Eunício [Eunício Oliveira, PMDB-CE], mas principalmente o Jucá. O Renan [Renan Calheiros, PMSD-AL] corre em faixa própria.
O núcleo da Câmara era comandado pelo Eduardo Cunha.
O Geddel, o Moreira Franco e o Padilha se articulavam com os interesses desses dois grupos dentro do executivo. Eles já eram instrumentos do PMDB quando o Temer era vice-presidente. Vieram do PMDB com Temer para dentro do palácio.
Viomundo — O Temer comanda os três grupos?
Paulo Pimenta — Quem administrava esses três grupos dentro do PMDB era o Temer, que presidia o partido. O Padilha era presidente da Fundação Ulisses Guimarães. Jucá, o vice-presidente. O Renan era presidente do Senado e o Eduardo Cunha, o presidente da Câmara.
E o Temer administrava isso tudo. Garantia o Geddel num cargo importante. O Moreira Franco, noutro.
Quando ele vem para o núcleo do golpe, ele monta um núcleo com os três caras mais próximos dele: Moreira Franco, secretário especial, Padilha, chefe da Casa Civil e o Geddel, secretário-geral. Foi para esse núcleo que ele trouxe os grandes projetos de privatização.
Viomundo –O silêncio da mídia é mesmo para blindar o Temer?
Paulo Pimenta — Exatamente. Como se o Temer não tivesse nada a ver com esses caras. Se a PF tivesse um mínimo de coerência com a conduta que tem tido com situações muito menos graves, ela teria pelo menos levado coercitivamente para depor o Geddel e o Derziê.
Para mim é mais uma prova robusta da seletividade, da falta de critério e da utilização política do poder judiciário no projeto do golpe.
Da mesma forma que o STF sabia que se afastasse o Renan do Senado, desarranjaria o golpe. Eles sabem que se pegarem o Geddel ou o Derziê, eles avançam o sinal muito próximo ao temer.
Viomundo – Isso vale para a PF, Lava Jato, STF, MPF?
Paulo Pimenta — Claro, para o comando de todos os setores do Judiciário capturados pelo projeto do golpe.
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