O histórico das pesquisas Datafolha de junho de 2015 a agosto de 2018 é a mais acabada demonstração da derrota cabal do golpe em meio ao povo brasileiro; leia a partir de hoje uma série de análises sobre as pesquisas feitas por Thaís Moya e Mauro Lopes, do 247; nesta, estão cruzadas as curvas de intenção de voto/popularidade de Lula com a de três dos principais protagonistas do golpe de 2015/16: Michel Temer, Aécio Neves e Geraldo Alckmin; o resultado é definitivo
Por Thais Moya e Mauro Lopes- O histórico das pesquisas Datafolha de junho de 2015 a agosto de 2018 é a mais acabada demonstração da derrota cabal do golpe em meio ao povo brasileiro. Cruzamos as curvas de intenção de voto/popularidade de Lula com a de três dos principais protagonistas do golpe de 2015/16: Michel Temer, Aécio Neves e Geraldo Alckmin (este com um protagonismo menor no momento da derrubada de Dilma mas que é relevante como herdeiro e candidato do golpe).
Aécio - É possível observar que a morte política de Aécio foi uma queda brutal de uma liderança isolada, com 35% da intenção dos votos presidenciais, em junho de 2015, para o lugar de nanico, que fugiu da disputa com Dilma ao Senado, e vai tentar timidamente uma vaga na Câmara Federal. Aécio dizimou seu patrimônio de 51 milhões de votos no segundo turno das eleições de 2014 ao aventurar-se como líder do rompimento com as regras elementares do jogo democrático. Seu lugar na pesquisa de junho de 2015 indica que ele poderia ser o líder da oposição do governo Dilma, se respeitasse o resultado das eleições. Mas preferiu o golpe. Como afirmou Lula, com sua genialidade cômica, o político mineiro inventou o “escondinho tucano”. Sua decadência começou ainda no período manifestações pró-impeachment, nas quais foi rechaçado pelos manifestantes que ele mesmo produziu, por meio do ódio ao PT e, consequentemente, da política. Literalmente, o feitiço virou contra o feiticeiro. Seu final dramático foi o escândalo do vídeo de seu primo buscando propinas da JBS e, pior, o áudio em que ele diz a Joesley, dono da empresa, que mandaria o primo, pois tinha que ser “alguém que a gente possa matar antes de delatar”, e a convicção popular de sua responsabilidade como líder do golpe. Um assombro que enterrou a vida política do tucano.
Alckmin - o ex-governador de São Paulo, sejamos sinceras, nunca foi uma “Brastemp” em nível nacional, mas surfou na onda anti-petista do período pré-impeachment, alcançando, em novembro de 2015, 20% das intenção de votos presidenciais. Porém, o ódio criado pelos golpistas também voltou-se contra ele, que começou a ser tratado com hostilidade pela classe média conservadora, que costumava ser seu eleitorado mais fiel. Além disso, o político paulista não resistiu a dois escândalos e à identificação com o governo Temer: a máfia da merenda e o vazamento das planilhas de propinas da Odebrecth, nas quais foi apelidado de “Santo”, devido à sua estreita relação com a Opus Dei. O apelido grudou e não saiu mais, substituindo o também famoso “picolé de chuchu”. O fato é que o período entre novembro de 2015 a abril de 2017 o tucano viu sua intenção de votos despencar 19 pontos percentuais, o que significa algo em torno de 29 milhões de eleitores. Outro fenômeno curioso a respeito de Alckmin é que, ao contrário do que tem sido afirmado, seus eleitores não migraram em massa apenas para Bolsonaro, o que explicaremos isso em uma coluna específica dessa série.
Temer - Aquele que traiu agora amarga a maior rejeição da nossa recente história política. Michel Temer, que viu sua aprovação cair dez pontos percentuais, em dois anos; hoje, tem menos de 5% de aprovação. As pesquisas sobre ele começam apenas depois de usurpar a Presidência, interinamente, em maio de 2018. A primeira pesquisa de julho, já o capturava numa posição constrangedora, com menos de 15% de aprovação. Para além da sua falta de carisma, o seu governo é impopular tanto pelas reformas que têm vitimado os mais pobres e os direitos trabalhistas e sociais quanto pelos inúmeros casos de corrupção, que derrubaram vários de seus ministros, e quase provocaram sua queda, quando o áudio dele com Joesley, gravado no porão do Jaburu, foi divulgado. Nada aconteceu, porque ele tem o Congresso na mão. Porém, sua imagem está na lama e ele dificilmente deixará o Palácio do Planalto pela porta da frente.
Lula - A consagração de Lula pode ser explicada por duas variáveis principais. A primeira, de caráter constante, é o péssimo governo golpista e a saudade cada vez maior que a população, especialmente os mais pobres, tem "dos tempos de Lula". A segunda é a atuação inescrupulosa e estabanada da Lava Jato, tanto de Moro, como do MPF, na pessoa de Dallagnol. Quanto mais o povo entendeu que a ação da Lava Jato, do Judiciário, do governo Temer, da Globo e das mídias conservadoras contra Lula configuravam uma injustiça, mais expressou seu apoio e adesão a ele.
Perceba no gráfico que o ponto de inflexão da queda de Lula aconteceu depois da sua condução coercitiva, fato que redundou em comoção popular em todo país. A coerção foi no dia 4 de março de 2016; no dia 18, 100 mil pessoas lotaram a Av. Paulista em apoio ao ex-presidente e contra o golpe. Desse ponto em diante o “jacaré” escancarou os dentes: Lula cresceu dezenove pontos percentuais em um ano e meio, enquanto o candidato tucano estacionava na sua margem constante entre 6 e 8 pontos.
É inegável que o show de horrores promovido pela Câmara e Senado durante o processo de impeachment começou a tirar uma parcela da população do transe antipetista, principalmente, porque quanto mais o tempo passou, mais evidente ficou a perseguição contra Dilma, Lula e o PT, enquanto políticos golpistas passaram ilesos aos escândalos cada vez mais explícitos. Um dos auges da perseguição anti-Lula foi a apresentação da denúncia do MPF contra Lula, que ficou estigmatizada pelo tom ridículo e amador do "powerpoint do Dallagnol", no qual Lula era o centro e mentor de quase todos os males do mundo.
Em novembro de 2017, Lula chegou a pontuar 36%. Depois das condenações de Moro e do TRF-4, começou a cair, mesmo durante as caravanas no Nordeste, Sul e Minas Gerais. Parecia que o golpe começava, então, alcançar seu objetivo, em junho de 2018, já há três meses preso, o petista havia perdido 6% do seu eleitorado, algo em torno de dez milhões de votos; porém, no dia 8 de julho, o jogo virou. Naquele domingo sofrível, a população brasileira acompanhou, ao vivo, a Lava-Jato, o governo Temer e mídia tradicional rasgarem a Lei para impedir que Lula fosse solto por meio da liminar expedida pelo juiz Favretto. Foi o dia em que o ultimo véu que disfarçava o golpe foi rasgado, ao mesmo tempo em que a deterioração das condições de vida dos trabalhadores e a ruína da economia se acentuaram.
Desde então, cada vez mais, a população tem acolhido Lula, que tem sido celebrado, ao som de trompetes, por meio de “lulaços” em todo país; outra festa, que figurou como um ritual de consagração do ex-presidente, foi o Festival Lula Livre, que contou com personalidades honradas e respeitadas. Não dá mais para negar. Lula – o sertanejo, pernambucano, metalúrgico, retirante, sindicalista que se tornou o melhor presidente do Brasil - alça vôo, literalmente, como uma fênix, deixando seus adversários moribundos nas brasas e cinzas que usaram para liquidá-lo.
O golpe foi vitorioso mas, paradoxalmente, liquidou seus líderes; Lula, Dilma e o PT foram derrotados em 2015/16 mas estão consagrados e têm apoio popular que lembra os momentos mais culminantes dos governos do metalúrgico.
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