"Ninguém me avisou que a aliança acabou", diz Micarla

Anna Ruth Dantas - Repórter

Aldair DantasPrefeita Micarla de Sousa disse que DEM não falou sobre possível fim de aliançaPrefeita Micarla de Sousa disse que DEM não falou sobre possível fim de aliança

A prefeita de Natal Micarla de Sousa dá início à segunda metade do mandato que recebeu em 2008 sob signos e pressões diversas. Há altos índices de rejeição popular, que pesquisas apontam mas ela não reconhece; há desacertos políticos e até indefinições na recém-formada equipe de auxiliares diretos, mas da qual ela exigirá pressa para “reconstruir” uma administração que pouco tem acertado; há pouco tempo para fazer qualquer coisa (restam 21 meses de mandato) e a prefeita não tem como e/ou evita assumir a reeleição. Instada a avaliar o que é apontado como “erros da administração”, Micarla tergiversa e aposta que ocorreram muito mais acertos. Apesar disso, acredita que o momento é de “reconstruir”. Eleições 2012? A gestora, presidente estadual do PV, mantém o discurso político de que só falará sobre sucessão no próximo ano. A pressão por resultados, o discurso indireto de críticas aos adversários e a aposta em uma “transformação de Natal” apontam que a tese da “reconstrução” atende, na verdade, a necessidade de  reverter os índices de rejeição da administração e, com isso, tornar-se mais competitiva para o pleito.   Micarla não discute números. Prefere alardear que “há uma orquestração” contra a sua imagem. “Acredito que foi feito um trabalho muito orquestrado em relação a questão da minha imagem. Quando estou nas ruas não é isso que sinto da população. Em todos os lugares que vou, onde passo, não sinto isso. Números são para serem vistos, não vou questionar”, observa a prefeita. Tenta evitar polêmica com a nova composição do secretariado, onde o presidente da Federação Norte-rio-grandesense de Futebol, José Vanildo, poderá recuar do convite, já que não aceitará ser adjunto de Esporte, quando, na verdade, foi convidado para ser titular. Mas Micarla de Sousa confirma que se José Vanildo não aceitar poderá fundir a Secretaria de Esporte e da Copa em uma só pasta.  Confira a entrevista de Micarla de Sousa à TRIBUNA DO NORTE:

A senhora, ao anunciar os secretários, falou muito em reconstrução. Por que a palavra reconstruir? O que a senhora construiu não estava certo?

Não. Acho que é um momento novo. Toda vez que a gente fala de construir e reconstruir esses momentos remetem a um novo momento, a um novo instante. Entre erros e acertos óbvios. Em todas empresas isso ocorre. Não há nada que acontece só com acerto. Há acerto e erro. Acho que acertos fizeram com que a gente pudesses avançar em vários sentidos. E os erros fizeram com que a gente pudesse aprender com eles. No momento que eu falo o que fizemos nos dois primeiros anos, muito me orgulho de termos erradicado seis favelas, conseguimos colocar 36 centros de educação infantil, 8 mil jovens no Proeduc. Conseguimos entregar três Ames, uma UPA e a segunda está em construção. Quando uso o termo reconstruir estou querendo dizer um novo momento, uma nova etapa. 

A ex-governadora Wilma de Faria cobrou coerência de Vagner Araújo e Cláudio Porpino que, embora sejam do PSB foram nomeados secretários... 

Eu não convidei nem Cláudio Porpino e nem Vagner Araújo por questões partidárias.Não tive contato com a cúpula do PSB para tratar de questões partidárias. Convidei os dois por entender que têm o perfil técnico que eu precisava para aquelas pastas. É inegável o trabalho que Vagner teve a frente da Seplam (Secretaria Estadual de Planejamento). É uma pessoa moderna, antenada com o uso de novas tecnologias, novos processos, a Segelm (Secretaria Municipal de Gestão de Pessoas, Logística e Modernização Organizacional) trabalha com desburocratização e modernização da máquina. Já o caso de Cláudio Porpino é ainda mais conhecido. Quem não conhece o trabalho que ele fez na Urbana? 

O presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, José Vanildo da Silva, não aceitará o convite feito pela senhor para ser secretário de Esporte, porque agora foi proposto a ele uma espécie de “interinidade” como adjunto. A senhora conversou com José Vanildo sobre isso?

Não posso nem falar porque não conversei com ele a respeito disso. Trouxemos para cabeça da Secretaria o Rodrigo Sintra que fazia um trabalho muito bom à frente da Secretaria da Copa na cidade de Salvador. Ele me foi trazido pelo vice-prefeito Paulinho Freire que é coordenador do Núcleo da Copa. O primeiro trabalho dele agora é para que possamos elaborar o Plano Diretor da Copa. 

Se ele (José Vanildo) não aceitar ser adjunto de Esporte até que seja criada a Secretaria Especial da Copa, a senhora cogita fundir a Secretaria da Copa e a do Esporte?

Existe sim essa possibilidade. Mas é algo que não gostaria de tratar agora porque não posso falar sobre algo que ainda não me foi apresentado. 

Esses núcleos criados pelo seu “reordenamento administrativo” criam “super secretários”?

Não. Muito pelo contrário. Pode até ser que isso venha a soar no primeiro instante. Na hora que a Copa foi viabilizada para cidade de Natal, temos um volume tão grande de projetos, de recursos que estão por vir que não tem como nós não trabalharmos como se a Prefeitura de Natal fosse uma empresa de grande porte. E as empresas hoje funcionam com esses núcleos. Esse tipo de núcleo criado é algo normal e natural em empresas que ao invés de usarem a verticalização do organograma usam a horizontalização, fazendo com que essas responsabilidades sejam mais divididas. Então na hora que eu coloquei e implantei esse sistema do Gabinete de Gestão Estratégica, cada representante, cada coordenador de núcleo, não é ser super secretário, é super coordenador. A Copa foi o motivo principal dessa mudança.

Algumas pesquisas foram divulgadas trazendo avaliação da sua administração, mostrando uma rejeição superior a 70%. Como a senhora avalia esse número?

Números não são para serem criticados ou analisados. Números são frios. 

Mas a senhora acredita nesse alto percentual de rejeição?

Acredito que foi feito um trabalho muito orquestrado em relação à questão da minha imagem. Quando estou nas ruas não é isso que sinto da população. Números são para serem vistos, não vou questionar. Eles existem e o que posso fazer no momento em que vejo números? Tenho que buscar fazer uma autocrítica. O que acontece? Onde foram os pecados? Se eles aconteceram ou foram criados... O que tenho a dizer é que hoje o meu único foco é no meu trabalho, é no que o povo de Natal, com tanta garra, fez ao eleger uma mulher jovem, de partido pequeno, que não pertencia a nenhuma família de política do Rio Grande do Norte. O povo teve coragem.  

A quem a senhora credita essa orquestração?

Não gostaria de ficar aqui falando sobre esse tipo de questão. Será que é tão complicado imaginar uma cidade que hoje tem a capacidade de estar trazendo todos os recursos que estão vindo para Natal? Esses recursos só chegaram porque tinha projeto e esses projetos foram feitos pela minha gestão, pelos nossos técnicos, pessoas que trabalham hoje na prefeitura. Mas depois que o filho está criado, que a Copa está consolidada, os projetos conseguidos, os recursos firmados, é fácil começar a fazer uma trabalho para que se tenha outra pessoa, que não uma mulher do Partido Verde. 

O que falar dos seus ex-aliados PSDB e PR? O deputado Rogério Marinho não aceitou indicar secretário para sua administração. O deputado João Maia anunciou o rompimento pela imprensa...

Não tenho nada a dizer tanto do deputado João Maia como Rogério Marinho. Bola pra frente e mais do que nunca minha aliança mais forte, que vai estar me ajudando nos próximos anos, é com o povo.

A senhora hoje é aliada do senador José Agripino Maia? 

Ninguém me avisou que a aliança acabou. Ninguém me avisou sobre isso. Ano passado eu fiz o que possível e impossível, fui a todos os recantos, conversei com o maior número de pessoas, levando nomes da governadora Rosalba e dos senadores José Agripino e Garibaldi Filho. 

No seu secretariado tem dois representantes do PSB e dois do PMDB (o deputado Henrique Alves indicou dois secretários). Mas esses dois partidos acenam para candidatos próprios em 2012. Isso lhe traz desconforto por ter no secretariado partidários de legendas que estarão em palanque contrário?

Eu já falei que Cláudio e Vagner não foram convites partidários. Sobre Dâmocles e Elizabeth, que já fazia parte da gestão, que fez um bom trabalho, eu conversei com o deputado Henrique Alves, somos aliados, fiz uma solicitação ao deputado para que pudesse conversar tanto com Dâmocles como com Elizabeth para que pudessem participar da minha gestão. Elizabeth deu provas de competência e talento. No caso de Dâmocles sempre vi como uma pessoa atuante quando esteve à frente da Companhia de Habitação e da Secretaria de Infraestrutura. Conversei com Henrique e ele disse que estaria me ajudando, ele é um parceiro em Brasília. Existe ansiedade de ano pré-eleitoral, mas para mim 2012 eu falo em 2012. O que vai acontecer em 2012, nesse instante, não me interessa e não me importa. Se existem políticos já pensando exclusivamente em eleição é porque, com certeza, deve faltar alguma atividade. No meu caso não me falta atividade. No meu tempo 24 horas está sendo pouco para cuidar de tantos afazeres em prol da minha cidade. 

Três políticos já se postam como pré-candidatos, Fernando Mineiro (PT), Carlos Eduardo (PDT) e Wilma de Faria (PSB). O que a senhora acha desses concorrentes?

Eu não tenho que achar nada.

Quem está em vantagem em disputa: o gestor que está na vitrine, mas não fala em eleição, ou aqueles que falam em eleição, mas não estão com mandato?

Isso quem pode dizer é o povo. Você está perguntando para a pessoa errada.

Mas a senhora também não é povo?

O que posso dizer é que, com certeza, não vou mudar meu foco  que é estar trabalhando e fazendo por onde o trabalho da minha gestão chegue até a ponta, às pessoas que mais precisam. 

O que irá diferenciar a primeira metade dessa segunda metade da sua administração?

Experiência. Acho que a experiência não tem escola maior. A gente só apreende fazendo. Não adianta falar como você vai fazer quando for mãe, só vai aprender quando for mãe. Mesma coisa é uma cidade. Hoje o que mais diferencia a primeira parte da gestão dos próximos anos é a experiência que adquiri na rua, ouvindo, aprendendo, fazendo projetos. Mais do que nunca estou pronta e preparada para fazer nessa cidade, que tem oportunidade ímpar de receber a Copa do Mundo, um choque de desenvolvimento. Digo que nós cristãos temos só AC (antes de Cristo) e DC (depois de Cristo), mas os natalenses terão também um AC e DC, antes da Copa e depois da Copa. 
TN RN

Nenhum comentário:

Postar um comentário