Julgamento começa com tumulto

Belo Horizonte (AE) - Após uma manhã completamente tumultuada e três horas de atraso, o Judiciário mineiro começou ontem a julgar o goleiro Bruno Fernandes pelo sequestro, cárcere privado, assassinato e ocultação de cadáver de sua ex-amante Elisa Samudio, de 24 anos. Também estão sendo julgados seu braço direito, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, acusado dos mesmos crimes; a ex-mulher do jogador Dayanne Rodrigues do Carmo, processada pelo sequestro e cárcere privado do bebê que Elisa teve com o amante; e uma namorada do atleta, Fernanda Gomes de Castro, acusada de sequestro e cárcere privado da criança e da mãe.
alexandre brum/agência o dia/estadãoMacarrão chega para julgamento, em Belo HorizonteMacarrão chega para julgamento, em Belo Horizonte

Apesar de bem mais magro e do semblante abatido, Bruno permaneceu todo o tempo de cabeça erguida, sentado ao lado de Dayanne, mas sem conversar com a ex-mulher com que tem duas filhas. O goleiro também não conseguiu trocar qualquer palavra com a noiva, a dentista Ingrid Calheiros, que saiu do Rio de Janeiro para acompanhar o julgamento no fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O grupo será julgado por um júri popular composto por um homem e seis mulheres: Roberto Severo, Ana Lídia Costa Gouveia, Tania Márcia Caetano Moreira, Ivone Bispo Dias, Elizangela Rosilene Costa, Lilian Queiroga e Ana Lúcia de Oliveira.

A primeira testemunha a ser ouvida foi Clayton da Silva Gonçalves, amigo de infância de Bruno e Macarrão e que chegou a ser preso no início das investigações em torno do desaparecimento de Elisa, vista pela última vez no início de junho de 2010 e cujo corpo nunca foi localizado. Foi na casa da namorada de Gonçalves que foi encontrado o bebê filho de Bruno com Elisa após a polícia receber denúncia de que a criança e a mãe haviam sido vistas em um sítio do goleiro em Esmeraldas, também na região metropolitana da capital.

Gonçalves alegou ter sofrido "pressão psicológica" e "ameaças" por parte da Polícia Civil, mas confirmou os depoimentos nos quais narrou conversa na qual Sérgio Rosa Sales disse que "Elisa já era". Sales era o único acusado do assassinato que aguardava o julgamento em liberdade, mas foi morto em agosto próximo a sua casa, na região norte de Belo Horizonte. 

A testemunha, porém, entrou em uma série de contradições. Uma delas ao ser questionada sobre o motivo de ter aconselhado Bruno a "não matar" Elisa e a "assumir logo" a paternidade do bebê da jovem, conforme consta em um de seus depoimentos. Apesar de ter confirmado seus depoimentos, Gonçalves disse "não se recordar" do conselho nem de tudo que foi falado à polícia porque "já se passaram dois anos". Questionado pelo promotor Henry Wagner Gonçalves, a testemunha confirmou também que ouviu Sérgio Sales contar que Elisa havia sido "jogada para os cachorros" cerca de duas semanas antes de essa denúncia vir à tona. 

Advogados de Bola deixam o Tribunal 

Além do goleito Bruno, Macarrão, Dayanne e Fernanda, o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, estava entre os réus do julgamento. Mas seus advogados, liderados por Ércio Quaresma, abandonaram o plenário criticando a "falta de imparcialidade" do processo pelo fato de a juíza Marixa Fabiane Lopes ter limitado o tempo para cada defensor apresentar verbalmente questões preliminares, antes mesmo do sorteio dos jurados. Bola recusou-se a ser representado por um defensor público e a magistrada desmembrou o processo e deu prazo de dez dias para que o ex-policial, acusado de ser o executor de Elisa, indique novo advogado.

Antes disso, o plenário do Tribunal do Júri havia sido palco de uma série de discussões, a maioria com a participação de Quaresma - que chegou a defender Bruno no início das investigações mas deixou o caso para se internar para um tratamento de dependência de crack. Logo no início da manhã, Quaresma e Rui Pimenta trocaram empurrões em meio a uma discussão por causa do local onde cada um se sentaria durante o julgamento. "Não põe a mão, não", disse Pimenta, empurrando Quaresma em reação a um tapa no ombro que recebeu do colega.

Sorteio
Quaresma também protagonizou um bate-boca com Marixa, que queria dispensar os sete jurados que participaram, há duas semanas, de um julgamento em que Bola foi absolvido do assassinato do carcereiro Rogério Martins Novelo, em 2000. Quaresma protestou contra a decisão e ameaçou recorrer ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para anular uma eventual formação do conselho de sentença com esses jurados excluídos do sorteio.

Para acabar com a discussão, a magistrada decidiu questionar os próprios jurados. "Os que compuseram o conselho de sentença no júri anterior, caso se sintam intimamente influenciados, que se digam impedidos", indagou Marixa. Os seis ainda presentes que se enquadravam no caso - um já estava ausente por motivo de saúde - alegaram se sentir impedidos e deixaram o plenário para dar lugar a suplentes. A magistrada convocou suplentes para as vagas e a expectativa é de que o julgamento comece ainda durante a manhã.

Logo no início da manhã todo o entorno do fórum de Contagem já era palco de um tumulto. Um forte esquema de segurança foi montado, com o trânsito interditado na região. Grande quantidade de curiosos foi para o local, onde passou o dia na expectativa de ver o goleiro e os demais réus. Porém, os acusados chegaram sob forte escolta desceram das viaturas apenas na área interna do fórum, cujo funcionamento foi mantido, mas estava acessível apenas a pessoas que comprovassem, por meio de documentos como intimações, a necessidade de estar no tribunal.

Dos presos apenas Bruno permaneceu no local, pois, além de Bola, que teve o processo desmembrado, Macarrão passou mal e foi levado de volta para a Penitenciária Nelson Hungria. O julgamento continua na terça-feira e a previsão é que dure de duas a três semanas. 
da TN

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