Calorias vazias

Isaac Ribeiro - Repórter
Quem segue algum tipo de dieta, geralmente não quer nem ouvir falar em alimentos calóricos, temendo acréscimos indesejáveis na balança. Mas o que muitos não sabem é que existem dois tipos de calorias: as positivas; ricas em vitaminas, minerais e proteínas; e as vazias, sem nenhum componente nutricional — refrigerantes, biscoitos recheados, bebidas alcoólicas, salgadinhos, produtos à base de farinha branca e doces doces feitos com açúcar refinado.
Magnus NascimentoAs escolas em tempo integral já estão adotando alimentação mais saudável no lanche oferecido diariamenteAs escolas em tempo integral já estão adotando alimentação mais saudável no lanche oferecido diariamente

O consumo exagerado dessas calorias vazias, ou anti-alimentos, engana o organismo, fazendo com que ele não absorva os nutrientes realmente necessários e ainda acumule gordura no tecido adiposo. O resultado é o risco de uma série de doenças, como diabetes, hipertensão, aumento do colesterol e triglicérides, além de sobrepeso e obesidade.

Para evitar isso, o ideal é restringir o consumo de alimentos industrializados, apostando nas substituições por alimentos saudáveis, sempre que possível. Nutricionistas recomendam optar por pães, cereais e massas integrais, frutas, legumes, verduras, raízes, folhas, castanhas, sementes, carnes magras, leites e derivados magros ou desnatados, azeite de oliva extra virgem, óleo de canola e açúcar mascavo, entre outros.

Mas um dos grandes entraves para se ter uma alimentação mais saudável, longe das calorias vazias, é o apelo, quase que desleal, dos produtos industrializados na mídia. Daí, o grande sucesso das redes de fast food. Crianças e adolescentes são os principais alvos, os mais suscetíveis.

A nutricionista Fátima Nunes comenta ser o refrigerante um dos anti-alimentos mais conhecidos e mais consumidos pelos jovens. “Ele é campeão em calorias vazias. Seu gás rouba cálcio do osso da criança em crescimento,  do músculo do atleta e do osso do idoso, provocando osteoporose. Outro alimento considerado de calorias vazias é a gordura trans encontrada em muitos biscoitos recheados.”

Em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou pesquisa comparando a quantidade de açúcares em algumas bebidas e alimentos  industrializados. Os refrigerantes à base de cola e os guaranás contêm uma média de 10g de açúcar para cada 100ml. 

Para uma melhor compreensão, implica dizer que uma lata de refrigerante com 350ml possui cerca de sete colheres de chá de açúcar. Agora pense quantas latinhas de ‘refri’ seu filho toma numa festinha de aniversário...

Fátima Nunes questiona como estará a saúde das crianças de hoje, ávidas consumidoras de calorias vazias, daqui a vinte anos. “Só um programa de  educação alimentar aos pais e nas escolas e a proibição na mídia de propaganda de alimentos direcionados para  a classe infantil resolveria, pois a criança quer comer e quer que os pais comprem aquele do bichinho da propaganda por exemplo.” 



Cardápios saudáveis

As crianças são as mais afetadas pelo consumo de alimentos com alto índice de calorias vazias, já que a absorção dos nutrientes necessários para se tornar um adulto saudável fica comprometida. O que fazer se na hora das refeições o prato é pizza, batata fritas e ainda biscoito recheado de sobremesa? E aí que a escola passa a ter papel fundamental na reeducação alimentar. E a colaboração dos pais é fundamental.
Magnus NascimentoA nutricionista Jocélia Guedes acredita que, caso haja contato das crianças com alimentos saudáveis, os hábitos mudamA nutricionista Jocélia Guedes acredita que, caso haja contato das crianças com alimentos saudáveis, os hábitos mudam

Para a nutricionista Jocélia Guedes, a forma de estimular as crianças para o que elas vão comer é muito importante, pois mexe diretamente com o emocional. Se os pais exaltam o rodízio de pizza e são apáticos na hora da sopa, estão atrelando maior valor à primeira opção. Aí, quando a criança vai para a escola, fica difícil aceitar um lanche saudável, à base de arroz, feijão, verduras e carne.

Responsável por elaborar cardápios saudáveis para escolas de tempo integral, Jocélia Guedes reconhece a preferência das crianças por alimentos muito doces ou com um teor maior de sal em detrimento a frutas e verduras, alimentos realmente nutritivos.
No dia em que a reportagem do TN Família esteve no colégio onde Jocélia é nutricionista, o cardápio oferecido às crianças do tempo integral, na faixa de dois a três anos, era carne moída acrescida de soja, feijão carioca com jerimum, macarrão e salada (alface, tomate, couve-flor). Para beber, dois tipos de suco de frutas, e ainda melão como sobremesa. 

Prejuízos vitamínicos

A nutricionista Fátima Nunes ressalta o prejuízo causado às crianças pelos anti-alimentos, já que eles impedem a absorção dos alimentos realmente saudáveis, resultando numa deficiência acentuada de vitaminas e minerais — principalmente a vitamina B6  e o mineral magnésio, que nos alimentos refinados estão ausentes. “A falta desses nutrientes leva à fadiga, atraso no crescimento, sonolência, unhas fracas, cabelos quebradiços, déficit de atenção e memória, anemia, cansaço, entre outros fatores.”
Mas a preferência por alimentos de calorias vazias não é só de crianças. Muita gente não troca uma coxinha ou um pastel por nenhuma fruta. E há quem tenha já tenha começado a ensaiar mudanças. O comerciante MacGyver Alves, 25 anos, diz ter ingressado numa academia há dois meses e estar seguindo uma dieta “rigorosa”. Trocando massa e baganas por frutas e verduras, segundo ele.

“Os pais são peças fundamentais nessa mudança”

bate-papo / Jocélia Guedes - nutricionista
Magnus NascimentoJocélia Guedes, nutricionista, destaca a importância do papel dos pais na alimentação das criançasJocélia Guedes, nutricionista, destaca a importância do papel dos pais na alimentação das crianças

Como a escola pode trabalhar a alimentação saudável?

Justamente na estimulação: “Pessoal, vamos ver quem adivinha de qual fruta é o suco hoje?” Outra coisa é você pegar o copo e dar para a criança tomar.  É a forma que você vai conseguir envolver a criança no horário da refeição. Existe também o trabalho que pode ser feito com as culinárias, que geralmente é com brigadeiro, biscoito... nós estamos fazendo esse outro lado mais saudável. Hoje (quarta-feira), por exemplo,  a culinária foi espetinho de frutas no palito. Então, elas manusearam as frutas; e quanto maior o contato da criança com o alimento  mais fácil é esse trabalho de estimulação e a futura aceitação fica melhor. A escola abraçou essa questão da alimentação saudável, mas partiu dela. Mas alguns pais se preocupam muito com isso, mudaram completamente a alimentação dos filhos; inclusive perguntam o que vai ser oferecido na escola, pois trabalhamos com cardápio de alimentação saudável.  E tem outros que ainda não compraram essa ideia, até porque ficam temerosos e argumentam que o filho não come esse alimentos e para que ele não fique com fome vai dar o que ele quer.  E geralmente o que a criança quer é chocolate. Já vi criança de três anos, às nove horas da manhã, lanchando chocolate, batatas fritas de saquinho, que o teor de sal é muito alto.  

Qual o papel dos pais nesse processo?

Os pais são peças fundamentais nessa mudança de  pensamento das crianças. Sem eles, nosso trabalho fica retardado.  E quem perde com isso? A criança! E também os pais, lá na frente, porque algumas doenças são desencadeadas por alimentação irregular, incomum, não saudável ou realmente precária.    

E a questão da obesidade infantil?

Você vai pro shopping e vê crianças com excesso de peso, com obesidade... Não posso afirmar que é praticamente 50%, mas você vê que é crescente isso aí, seja no shopping, num passeio à praia. 
da TN

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