Estado poderá intervir em favor dos clubes


Vicente Estevam - Repórter
Mesmo com o cronograma do projeto da Arena das Dunas adiantado em torno de 60 dias, o secretário da Secopa, Demétrio Torres, afirmou que não terá pressa para inauguração da nova praça esportiva natalense. Ele disse que não pretende cometer os mesmos erros vistos em Belo Horizonte e no Ceará, onde questões de má operação acabaram ofuscando um pouco a inauguração. A boa notícia é que no próximo dia 31 de dezembro, data marcada pela Fifa para entrega do projeto, o estádio estará pronto para entrar em operação e que o Campeonato Estadual do próximo ano poderá ter algumas partidas realizadas naquele que será o principal palco do esporte potiguar. Torres garantiu que o governo também terá como interferir nos contratos negociados com os clubes locais que desejem utilizar a nova praça, uma vez que o custo pela manutenção da estrutura será bancado pelo Estado e não poderá ser repassado aos clubes.
Adriano AbreuSecretário da Secopa garante que a Arena das Dunas será utilizada por todos com o aval do governo que ficará responsável pelo custo da manutenção do localSecretário da Secopa garante que a Arena das Dunas será utilizada por todos com o aval do governo que ficará responsável pelo custo da manutenção do local

Como está a situação da Arena das Dunas?

Está muito bem, a gente hoje está comemorando um momento bom porque, primeiro não somos mais os últimos na escala da construção das arenas, nosso projeto já adiantou bem. Natal já deixou de ser preocupação para Fifa e pelo que tenho visto, Cuiabá está com a situação mais complicada em relação as sedes. Eles parecem estar enfrentando problemas com o financiamento do projeto.

Isso não pode ocorrer com Natal?

O que eu dizia antes de dar início à construção da nossa arena, que tínhamos de iniciar a obra sem qualquer pendência de ordem legal está nos ajudando agora. Iniciamos e não precisamos mais parar para nada. Foi muito importante a participação dos órgãos fiscalizadores, acompanhando tudo previamente, bem como várias pessoas foram importantes nesse processo. É o caso do Promotor Federal, Rodrigues Teves, que fiscalizou tudo e nos fez trilhar  o caminho correto.

Então o atraso teve um motivo justo?

Foi importante a gente observar o que as demais sedes haviam cometido de erro, para que pudéssemos consertar e nos prevenir em relação a eles. Tanto na formatação do processo quanto na própria contratação da empresa responsável pela obra. A nossa obra tem uma coisa importante, existe um item em nosso contrato que não permite que a obra seja reajustada e nem permite aditivo de prazo. Isso a empresa vencedora já chegou sabendo e em função dessas exigências a OAS tem cumprido rigorosamente com o prometido e obtido até um certo avanço.

Que parte da construção da Arena das Dunas está para iniciar e que deverá causar mais impacto na população?

Agora o grande impacto vai ser a cobertura. Ela já está sendo fabricada, a gente deve começar a receber as peças no final de maio para iniciar a montagem no início do segundo semestre. A montagem das peças é bem simples e nos garantirá um avanço significativo na obra. Muita coisa está sendo feita ao mesmo tempo, tanto que o canteiro de obras reúne hoje 1.800 funcionários e trabalha em sua plenitude. Dentro da obra já existem funcionários trabalhando na instalação de ar-condicionado, implantação da rede elétrica e hidráulica e tubulação para som. O serviço não para, pois os operários estão trabalhando nos três turnos. A obra está acelerada, mas sem o estresse tipico dos projetos que estão fora do cronograma.

Nós estamos vendo casos como o do Grêmio, que tem negócio com a OAS, mas vem enfrentando dificuldade no acerto financeiro.

Tendo de pagar inclusive R$ 1 milhão ao mês para que seus sócios possam ter gratuidade na arena pertencente ao clube. Essa questão pode ser idêntica em Natal?

A gente tem dito que isso é um fato novo para o estado, não é tão novo para empresa mas a OAS está apenas iniciando neste tipo de trabalho de administrar praças esportivas. Temos buscado observar isso e no contrato firmado com a empresa colocamos cláusulas de garantia para que os clubes do nosso futebol não fiquem descobertos no momento de sentar à mesa.

A arena será multiúso, mas já existem empresas interessadas em se instalar por lá?

Nós levamos uma grande vantagem em relação as demais arenas que estão sendo construídas no país. A nossa fica numa região central da cidade, encravado entre bairros de classe média-alta, com avenidas largas, acesso fácil e muito valorizada na questão de comércio e serviço. A utilização da nossa arena será mais fácil e posso antecipar que, nos próximos dias, deverão ser anunciadas algumas boas surpresas neste sentido. Só não estou autorizado a revelar o que será. A questão está sendo mantida em sigilo, porém a expectativa é muito boa em função justamente dessa localização, que é a mais privilegiada e valorizada possível.

Com relação ao custo que o governo do RN terá de repassar mensalmente a empresa, o senhor poderia explicar melhor como ele irá funcionar?

A prestação está dividida em duas partes: a fixa a que irá pagar a construção e a parte  de operação e manutenção, que irá variar de acordo com o nível de zelo que a operadora apresentar com a Arena das Dunas. Se os equipamentos não estiverem funcionando bem, faltar água nos banheiros, a iluminação estiver precária, a tudo isso será atribuído uma nota que irá indicar o valor que deveremos pagar por esse item. Inicialmente o teto será de R$ 2 milhões, se tudo estiver funcionando em sua plenitude. Se a empresa não tiver um bom desempenho poderá até chegar a perder o contrato de operação e manutenção, cabendo ao estado pagar apenas o preço do custo da obra (R$ 7 milhões/mês).

Quer dizer que o governo irá pagar pela manutenção da arena. Mas isso irá ajudar de alguma forma os clubes locais?

Esse dispositivo tem a intenção de desenvolver o futebol do RN. Com o governo se responsabilizando pelo custo da manutenção, o estádio poderá ser alugado aos clubes por um preço bem inferior. Se é o governo que banca essas despesas, nós temos o direito de intervir nessa negociação dessa forma. Isso já foi feito com essa intenção.

O custo para jogar na Arena das Dunas então será bem menor que, por exemplo, para se jogar na Arena Fortaleza?

Sem dúvida. Esse contrato foi pensado e voltado para nossa realidade. Uma coisa que é importante mostrar é que embora o nosso futebol seja mais modesto que os de algumas outras sedes do Mundial, o nosso estádio é sem sombra de dúvida um estádio de primeiro mundo, mas que terá um custo do tamanho que os clubes potiguares puderem pagar. Essa é a condição do contrato.

Assustou o preço que vem sendo cobrado para se abrir as arenas da Copa nos demais estados?

A manutenção da nossa está dentro da nossa prestação, a grande vantagem daqui é que nada será mais visível em Natal que a Arena das Dunas. Isso tem um custo, como se trata de um estádio multiúso,  a pessoa que tiver um negócio lá pode muito bem ser encarado como um privilegiado e o preço será equivalente.

O estacionamento será explorado comercialmente?

Ele vai ser explorado comercialmente. Hoje já existem grandes empresas buscando informações para se instalar na nossa arena. Mesmo o momento exato para realização desse tipo de negócio não tendo chegado ainda.

Se o lucro obtido com a exploração da Arena das Dunas será dividido entre o consórcio e o governo, o RN poderá angariar algum lucro desse negócio?

A expectativa é que dentro de cinco anos, no máximo, o negócio se torne viável e já esteja se pagando.

Aquela previsão de que o governo teria de pagar a empresa cerca de um bilhão pela Arena pode não se concretizar então?

A obra vai ser paga, mas como metade da receita da arena voltará para o estado, o valor será abatido daquele repasse fixo que nós teremos de realizar pela construção da obra. Se o volume de negócios for muito bom, além de termos os gastos cobertos, nós ainda poderemos auferir algum lucro com a Arena das Dunas.

O senhor esperava esse tipo de resistência que os clubes estão impondo para assinar contrato e jogar nas arenas da Copa?

Não. Mas também a gente não pode tornar os desiguais iguais. No nosso caso específico eu considero vantagem por que o estado irá pagar para operar a arena e manter. Nosso estádio é diferente, não custa nada para operador. Mesmo que não consiga fechar negócios, o operador não perde e nem ganha nada. Conseguindo R$ 10 milhões, depois de retirados os impostos locais, o ganho será dividido em parte iguais entre consórcio e governo.

Neste caso o governo vai participar da negociação para colocar os clubes daqui atuando na arena?

Pelo contrato a negociação será realizada entre a empresa e o clube. Mas teremos um protocolo de intenções onde iremos definir regras para realização da locação e servirá também para garantir prioridade aos nossos clubes de utilizar o espaço. Mas isso tudo dentro de um calendário pré-definido pela empresa gestora. Será um acordo de negócio, com a perspectiva de fazer o clube jogar lá e ainda obter o seu lucro. Eles só vão jogar na arena se existir alguma vantagem. Se notarmos que o preço cobrado aos nossos clubes está sendo abusivo, teremos total direito de intervir na negociação. Isso está claro no contrato.

O presidente da Federação Norte-riograndense de futebol, José Vanildo, abriu guerra contra o governo e a OAS, dizendo que ambos estão deixando o futebol do RN fora das discussões sobre a Copa. Vanildo ameaça ir à Justiça. Como o senhor vê isso?

Para mim foi estranho porque eu acho que a gente ainda tem tempo de fazer isso. Nós iremos nos sentar com a FNF para discutir a formalização do protocolo de intenções que irá regulamentar o aluguel da Arena das Dunas para os clubes locais. A governadora mandou que colocasse no contrato da arena uma clausula para privilegiar o futebol local. Isso é contratual, terá de ser feito, mas a hora de fazer não é exatamente agora. Temos tempo pela frente ainda, a arena só será entregue em dezembro. Também não fui procurado pelo dirigente para falar sobre a questão, José Vanildo preferiu ir logo à imprensa. Não vejo por que esse açodamento. Não era necessário.

Quem é?
Formado Engenheiro Civil na turma de 1972 na UFRN, Engenheiro de Segurança do Trabalho, 66 anos de idade. Está comemorando este ano 41 anos de carreira. Foi secretário de Obras no Governo Vilma de Faria, Diretor geral do DER no Governo José Agripino e Vivaldo Costa.

Por quê é o entrevistado?
Empresário da construção civil, especialista em Engenharia Rodoviária, foi o secretário nomeado pela governadora Rosalba Ciarlini para organizar e acompanhar os projetos da Copa de 2014 no RN. Demétrio Torres é o interlocutor do governo junto a empresa responsável pela construção do estádio Arena das Dunas e como é também responsável pelo DER está encarregado de desenvolver alguns dos principais projetos viários, idealizados para facilitar o acesso ao novo aeroporto e desafogar o fluxo de veículos na entrada e na saída da capital potiguar. 

da TN

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