Cardiologistas brasileiros contextualizam as características exclusivas do coração feminino



No sexo feminino, a eletrofisiologia, ou seja, o funcionamento básico do sistema elétrico do coração tem suas peculiaridades. Foto|: DivulgaçãoNeste Dia Internacional da Mulher – 08 de março -, muitas serão as homenagens e assuntos discutidos relacionados a elas. Entre eles, a importância que se dê atenção à saúde cardiovascular, que possui particularidades se comparadas com a masculina. Como promove a prevenção e a educação para os cuidados com as arritmias cardíacas e a morte súbita, a SOBRAC (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas), mais uma vez, alerta as mulheres neste dia em prol de seu bem estar.
Há distinções nas propriedades elétricas intrínsecas às células do marca-passo cardíaco da mulher, que são mais “aceleradas” do que nos homens. Por isso, a frequência cardíaca feminina tende a ser maior e sua tolerância ao exercício físico, menor. “O coração da mulher tem menores dimensões em média do que o dos homens e, como consequência, o volume de sangue ejetado também é menor. Suas células são afetadas de forma diferente por medicamentos e, acredita-se que os hormônios femininos estejam implicados nessas oposições, já que são observadas variações na ocorrência de arritmias de acordo com a fase do ciclo menstrual e também aumento dessas ocorrências durante a gravidez”, lembra, a cardiologista e membro da SOBRAC, Dra. Denise Hachul.
No sexo feminino, a eletrofisiologia, ou seja, o funcionamento básico do sistema elétrico do coração tem suas peculiaridades. Afeta na incidência, na apresentação e no desfecho clínico das arritmias neste público.
As arritmias cardíacas são alterações elétricas que provocam modificações no ritmo das batidas do coração, sendo de diferentes tipos: taquicardia, quando o coração bate rápido demais; bradicardia, quando as batidas são muito lentas, e casos em que o coração pulsa com irregularidade (descompasso), sendo sua pior consequência a morte súbita cardíaca (MSC). Por alguma razão, não totalmente conhecida, algumas delas são mais comuns em mulheres, especialmente as taquicardias supraventriculares, que se iniciam nos átrios e chegam a ser duas vezes mais frequentes no sexo feminino do que no masculino.
Denise Hachul explica ainda que, no período do ciclo menstrual, conhecido como fase lútea, na qual ocorre aumento de progesterona, a incidência de arritmias também é maior. “Entre as possíveis explicações para isto estão fatores como a maior temperatura média corporal e a maior atividade de adrenalina circulante. Mas o seu mecanismo real ainda não está completamente desvendado”, diz a cardiologista, avaliando também que, pelas modificações circulatórias próprias da gestação, a frequência cardíaca da mulher grávida tende a ser ainda superior, assim como a vulnerabilidade às arritmias. “Isso se deve, provavelmente, à maior concentração de adrenalina no sangue e maior irritabilidade do músculo cardíaco”, contextualiza Hachul.
Desfavoravelmente, outra característica exclusiva do coração feminino está relacionada ao período em que as células cardíacas se recuperam eletricamente depois de uma contração do coração, chamado de intervalo QT, sendo maior nas mulheres.
Segundo Claudia Fragata, também cardiologista e membro da SOBRAC, um QT maior proporciona elevado risco para ocorrência de “Torsade de Pointes”, arritmias ventriculares graves e características do QT longo. “Esse problema pode ser induzido por medicamentos que prolonguem o intervalo QT. Nas mulheres, há mais incidência de reação adversa a certos remédios, alguns antibióticos, antiarrítmicos, antialérgicos, antidepressivos e inibidores de apetite, que podem afetar o comportamento normal da fisiologia elétrica do músculo cardíaco”, explica a médica.
Outro alerta feito pela especialista e que merece atenção das mulheres, refere-se a Fibrilação Atrial, uma alteração do ritmo cardíaco caracterizado como uma grande desordem na formação e condução do impulso elétrico nos átrios. A fibrilação atrial é um dos tipos de arritmia cardíaca e, apesar de mais observada em homens, compromete mais intensamente a qualidade de vida e provoca maior mortalidade na mulher. “Especialmente pelo maior risco de derrame cerebral (AVC) observado no sexo feminino”, esclarece a cardiologista Claudia Fragata.
As doutoras Denise Hachul e Claudia Fragata sinalizam que os sintomas das arritmias, como palpitações, dores no peito e tonturas, tendem a ser menos valorizados no sexo feminino, já que muitas mulheres os atribuem a distúrbios emocionais. Para as especialistas, esses sintomas precisam ser considerados e valorizados, e que as diferenças entre os sexos e os seus respectivos riscos sejam adequadamente conhecidos para que medidas preventivas e terapêuticas possam ser inseridas precocemente na população feminina.
As cardiologistas fazem ainda um lembrete de que a prevenção é o melhor remédio contra qualquer doença. É recomendável levar uma vida com hábitos saudáveis, praticar atividades físicas frequentemente, realizar exames preventivos e consultar, pelo menos uma vez por ano, um clínico ou cardiologista.
Sobre a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC):
Criada oficialmente em 1984, a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), antigo Departamento de Arritmias e Eletrofisiologia Clínica (DAEC), é uma entidade médica sem fins lucrativos, afiliada à Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Os objetivos da SOBRAC são normatizar as atividades relacionadas às arritmias cardíacas no Brasil, promover o desenvolvimento científico e a valorização profissional da especialidade, além de orientar a população leiga a respeito dos problemas mais comuns ligados às arritmias cardíacas, por meio de campanhas educativas.
Com sede na cidade de São Paulo, a SOBRAC tem atuação nacional. Em 2006, criou o Programa de Educação Continuada (PreCon), ligado à Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e à Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), cuja finalidade é difundir e harmonizar condutas na área de arritmias cardíacas aos médicos da área clínica, em diversos eventos realizados anualmente em diferentes regiões do país.
Anualmente, a SOBRAC realiza a campanha nacional CORAÇÃO NA BATIDA CERTA, em 12 de Novembro, Dia Nacional de Prevenção às Arritmias Cardíacas e Morte Súbita, como atividades presenciais e gratuitas de alerta para o público leigo.
http://jornaldehoje.com.br/cardiologistas-brasileiros-contextualizam-as-caracteristicas-exclusivas-do-coracao-feminino/

Nenhum comentário:

Postar um comentário