Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel e Santa Catarina sofrem com falta de pediatras

Apesar dos oito leitos do setor pediátrico do HWG estarem vazios nesta manhã, quantidade de pediatras é insuficiente para demanda. Foto: Heracles Dantas

Em um estado governado por uma médica pediátrica, a governadora Rosalba Ciarlini, parece até ironia pensar que o atendimento infantil seja precário. Mas quem precisa de atendimento pediátrico no Estado padece com a falta de profissionais. As principais unidades de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel e o Hospital Doutor José Pedro Bezerra, conhecido como Hospital Santa Catarina, têm o atendimento comprometido, pois há um déficit considerável de pediatras no Governo do Estado, em virtude das inúmeras aposentadorias que aconteceram nos últimos meses. No Hospital Santa Catarina, a situação é ainda mais complicada, pois a escala médica só consegue ser preenchida até o dia 20 de cada mês. Após essa data, o atendimento é suspenso. No Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste, apesar de a escala estar completa, os problemas são outros, como o aparelho de raios-X, há mais de dois anos sem funcionar, e o carro social que transporta as crianças em condições precárias.
Na manhã desta segunda-feira (11), uma cena atípica no setor de observação pediátrica do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Todos os oitos leitos estavam desocupados. A demanda pediátrica não é tão alta. Desde o dia 1º de janeiro até este domingo, dia 10 de março, foram realizados 261 atendimentos pediátricos, sendo uma média de menos de quatro crianças atendidas por dia. O número de procedimentos cirúrgicos em crianças desde o início do ano chegou a 13 até este domingo.
Hoje pela manhã, duas médicas estavam de plantão no Pronto Socorro do Walfredo Gurgel, o ideal para atender a demanda. No entanto, essa situação não tem se repetido, pois os 13 médicos pediatras do hospital são insuficientes para completar a escala médica. De janeiro para cá, três pediatras do Walfredo Gurgel se aposentaram e a Secretaria de Saúde ainda não repôs esses profissionais. Desde então, a direção do hospital tem encontrado dificuldade em completar a escala médica.
A pediatra Denise Costa, que estava de plantão na manhã de hoje, explicou que a situação dessa manhã, de vazio, não é o comum, mas reconhece que a demanda de crianças é baixa. “Acontecer essa calmaria não é o comum, pois atendemos todas as urgências e emergências do Estado, em ortopedia, neurocirurgia, queimaduras, retirada de corpo estranho, dentre outros procedimentos de alta complexidade. O volume de atendimento é pouco, mas a nossa complexidade é grande. Quando os leitos estão ocupados, os dois pediatras têm que se revezar entre os pacientes em observação e os que estão internados nas enfermarias”, afirmou a pediatra.
Para a diretora médica do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, Marleide Alves, o ideal para completar a escala médica dos pediatras no Pronto Socorro no hospital seria mais dois pediatras com carga horária de 40 horas e um de 20 horas.  “Com esses três profissionais, conseguiríamos cumprir as escalas, as férias e as licenças-prêmios”. Segundo ela, como não há mais pediatras do último concurso público para serem convocados, a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) está fazendo um levantamento dos pediatras que trabalham nos ambulatórios para poder ser transferido para o Hospital Walfredo Gurgel e o Hospital Santa Catarina, que a situação também é complicada, e suprir a carência.
Marleide Alves explica que dos 13 médicos que compõem a escala dos profissionais do Pronto Socorro, cinco médicos com carga horária de 40 horas, dividem a sua carga horária, sendo 20 horas na porta de entrada de atendimento e 20 horas nas enfermarias de queimados, pediátrica e no ambulatório, para atendimento de filhos de funcionários.
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Walfredo Gurgel conta com seis leitos e todos estavam ocupados. A escala de médicos intensivistas é formada por sete médicos de 40 horas e um de 20 horas. O médico que estava de plantão na manhã de hoje informou que a escala estava completa, mas que é a demanda é grande, visto que atende crianças de outros hospitais. Hoje, tinham duas crianças que foram transferidas do Hospital Maria Alice Fernandes.
No último dia 1º de março foi realizada uma reunião com a presença de representantes da Secretaria Estadual de Saúde Pública e da Coordenadoria de Operações de Hospitais e Unidades de Referência (Cohur) para buscar solução para a falta de pediatras nas unidades. A solução paliativa encontrada foi que os profissionais acrescentassem um plantão eventual a sua carga horária. Além disso, pediatras de outros hospitais, como do Hospital Maria Alice Fernandes, estariam dando plantões eventuais no Walfredo para completar a escala. Na última quarta-feira (6), cinco pediatras do Walfredo tiveram uma reunião com o presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremern), Jeancarlo Cavalcante que se comprometeu em intervir junto às Secretarias para coibir os plantões eventuais.
Santa Catarina
Depois que o Hospital Maria Alice Fernandes foi transformado em hospital com atendimento exclusivamente referencial, toda a demanda de atendimento pediátrico da zona Norte de Natal e municípios vizinhos ficou concentrada no Hospital Santa Catarina. Desde janeiro, a escala pediátrica no hospital está comprometida e a direção só consegue garantir o atendimento até o dia 20. Em janeiro e fevereiro, foram dez dias de suspensão de atendimento, pois com a falta de profissionais, o Pronto Socorro Infantil do Hospital Santa Catarina fica fechado. Em março, a situação tende a ser mesma, pois a escala só garante atendimento até o dia 20.
Para Sônia Godeiro, o problema da falta de pediatras é antigo e de conhecimento do Governo do Estado. “O quadro de pediatras é antigo e depois de 12 anos sem concurso, o último que foi realizado só conseguiu renovar apenas 20% do quadro, pois teve uma convocação lenta e aquém da necessidade. Tem muita gente para se aposentar e antes que o problema aumente em proporções preocupantes, o Governo precisa tomar uma providência urgente. Hoje, o déficit é grande em toda a rede, pois a mão de obra é antiga”, destacou Sônia Godeiro.
Sônia, que também é pediatra, disse que o fechamento da porta de entrada, tornando o Hospital Infantil Maria Alice Fernandes de atendimento referenciado, há dois anos, somado ao caos que se encontra a rede básica de saúde fez com que a demanda fosse direcionada toda para o Hospital Santa Catarina. “É um descaso geral do Governo do Estado e da Prefeitura de Natal. Hoje está insuportável trabalhar no Santa Catarina e os profissionais que ainda restam são heróis”, ressaltou. Para Sônia Godeiro, a solução para o problema passa pelo funcionamento correto da rede básica e a realização, urgente, de um novo concurso público para suprir essa deficiência.
Sandra Celeste
O Pronto Socorro Municipal Sandra Celeste é o grande local de escoamento dos casos de emergência para as crianças da capital, mas também enfrenta problemas. Isso porque o quadro de pediatras da unidade só conta com a metade do efetivo necessário para o funcionamento. O restante é complementado através de contrato com Cooperativa Médica. Mesmo assim, a situação não é nada fácil, pois a Coopmed não conta com um número suficientes de profissionais para preencher a escala. “Muitos profissionais se descredenciaram, pois os valores pagos são muito baixos”, afirmou o presidente da Sociedade de Pediatria do RN, Nivaldo Sereno Júnior.
A situação vem se agravando e os profissionais da pediatria do RN tentam se organizar para tentar minimizar os efeitos para as crianças potiguares. A médica pediatra do Walfredo Gurgel, Sônia Godeiro, vem sugerindo à Sociedade de Pediatria uma grande reunião com os pediatras do estado no intuito de se pensar em maneiras de enfrentar o problema. “Precisamos nos organizar, pois o estado já virou as costas para as nossas crianças, cabe a nós procurar uma saída”, afirmou a médica do Hospital Walfredo Gurgel.

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