A antiglobalização entre ultradireita e esquerda

A globalização neoliberal tratou de impor um novo sentido comum no mundo: era impossível se opor à globalização econômica, cada pais tinha que se abrir inequivocamente para o mercado mundial, cada economia tinha que fazer as adequações correspondentes, com o enfraquecimento dos Estados nacionais. Os grandes capitais, por sua vez, tratariam de desterritorializar seus investimentos, na busca das melhores condições de exploração da força de trabalho, dos recursos naturais, assim como do acesso aos novos mercados mundiais.

Pretendiam que todos ganhariam, salvo os que tardassem a se render a essa onda supostamente inexorável e avassaladora. Os Tratados de Livre Comercio eram os passaportes para esse imenso mercado mundial, com cada região preparando-se para concorrer com as outras em melhores condições de competição.

A unificação europeia, o Tratado de Livre Comercio da America do Norte eram apenas os primeiros passos para essa nova configuração mundial que, sem se dar conta, ia deixando atrás de si contingentes cada vez maiores de desamparados, de excluídos, de esquecidos, de marginalizados. Países inteiros, setores da economia, contingentes enormes de trabalhadores, entre outros, foram se sentindo vitimas da globalização, que era a festa do capital internacionalizado.

A atitude diante dos imigrantes na Europa foi definidora da nova configuração política e ideológica do continente. A extrema direita se fortaleceu na critica à chegada dos imigrantes, redespertando com força os sentimentos chauvinistas e racistas que alimentam a essa corrente. Ao mesmo tempo, criticavam a renúncia da soberania nacional representada pela União Europeia e pelo euro.

Ao mesmo tempo, as políticas de austeridade passaram a desgastar aceleradamente os partidos tradicionais, ja que tanto os conservadores como os social democratas se somaram a essa política suicida assumida como uma espécie de destino obrigatório imposto pela globalização neoliberal. A extrema direita passou a disputar com as novas correntes de esquerda os espaços políticos que ficaram vazios pela assimilação dos partidos tradicionais à unificação europeia e à sua moeda comum.

O Brexit foi apenas a projeção internacional da rejeição da globalização promovida pelas suas vitimas. Não por acaso setores da classe operária branca, vitimas da desterritorializacao dos investimentos para países periféricos e, segundo a propaganda da extrema direita, da chegada dos imigrantes, foram protagonistas do Brexit, da mesma forma que foram componentes essenciais da votação de Donald Trump.

Junto com essa critica, se propagou a critica da política tradicional, da forma de fazer política cada vez mais parecida entre si, dos partidos tradicionais. O rodízio entre a direita tradicional e a social democracia deixou de funcionar como alternância real, para apenas fazer suceder no governo modalidades cada vez mais aparentadas de aplicação de modalidades do neoliberalismo.

Ao Brexit se soma agora a vitoria de Trump nos EUA, que se assemelha não apenas na supresa em relação às pesquisas, mas principalmente no tipo de protesto contra a globalização e a política tradicional, de que Washington e sua mais legitima representante, Hillary Clinton, são os símbolos.

A esquerda que não se rendeu ao neoliberalismo, mas que luta pela sua superação, tem que participar dessa disputa nas duas frentes: por um lado, não se render à globalização neoliberal e seus Tratados de Livre Comercio, agora em retração. Tem que propor e promover uma nova ordem mundial, de que os Brics são o eixo emergente.

E tem que propor novas formas de fazer política, distanciando-se radicalmente da forma tradicional, com lideranças transparentes, com estreitos vínculos populares, com critica de toda forma de desvio de recursos públicos, com formas de prestação de contas regulares, com mandatos parlamentares limitados no tempo, com refundação do Estado mediante uma Assembleia Constituinte, que molde um Estado realmente democrático, na forma e no conteúdo, representante da cidadania, a que devem ter acesso em igualdade de condições todos os indivíduos.

É uma fase da globalização neoliberal que termina com esses novos fenômenos, de que o Brexit e a eleição de Trump são expressões mais claras. Se abre um novo campo de disputas sobre a nova geopolítica mundial e novas formas de fazer política. Cabe à esquerda formular novas perspectivas para estar à altura desses novos desafios.   

do 247

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