Leandro Cruz: Muda PT – 6º Congresso e a agenda ecossocialista

Com início das etapas do 6º Congresso do PT, estimula-se na militância a vontade de apresentar ao conjunto do partido pautas que até então estavam adormecidas na agenda política, mas que continuam tendo enorme relevância na vida das pessoas.

A pauta ambiental, historicamente, nunca foi colocada como premissa para as esquerdas, muito em função de bandeiras de lutas que sempre centralizaram os partidos na busca por direitos, contra as desigualdades e por justiça social.

O PT, é bem verdade, em algum momento na sua história possibilitou que diversos companheiros e companheiras se organizassem internamente e muitos foram protagonistas da luta ecológica do país, não podendo nos esquecer do nosso grande militante Chico Mendes e do valoroso companheiro de luta pela causa ecológica,o escritor Leonardo Boff.

Mas, em um processo nefasto de acumulação do capital, da necessidade da superprodução em detrimento dos recursos naturais finitos, o PT não percebeu a necessidade de fortalecer esse debate interno, de formar militantes, de propor seminários, de construir políticas públicas que de fato, contribuíssem para frear a voracidade do grande capital, que destrói a biodiversidade para introduzir, cotidianamente, nas nossas cabeças a sociedade do consumo, egoísta e desumana.

Neste último período de gestão da direção nacional (leia-se presidência do PT), a Secretaria Nacional de Meio Ambiente do PT esteve desfalcada de seu secretário por um bom tempo, evidenciando a incompreensão do campo majoritário da importância deste espaço para organização de nossos militantes pela causa ambiental.

Cito a Carta da Terra (a Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica), que fala dos desafios para o futuro: “A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes”.

Defender a água como direito humano, o alimento saudável como direito de todos e todas, a proteção dos animais, de reciclar, reduzir, reutilizar e repensar nossas práticas do dia a dia, vale citar Papa Francisco na Carta Encíclica LAUDATO’SI sobre o cuidado da casa comum em que fala da desigualdade planetária: “O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. De fato, a deterioração do meio ambiente e a da sociedade afetam de modo especial os mais frágeis do planeta: ‘Tanto a experiência comum da vida cotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres'”.

Precisamos ecologizar a política e a economia,pois não haverá política, economia, lucro, riqueza se a Terra como organismo vivo continuar sendo explorada em nome do desenvolvimento, pois em breve será necessário dois planetas para atender a demanda da superprodução.

É chegada a hora de refletirmos sobre os rumos do PT, que partido queremos para enfrentar os desafios que se avizinham. Falo da minha trincheira de luta que escolhi para o PT e nossos sonhos de uma sociedade justa, democrática e ecologicamente sustentável.

Precisamos atualizar o programa do PT e nos conectarmos com as vozes das ruas e da juventude que clamam por mundo, um país e uma cidade com sustentabilidade, e o PT não pode se fechar a essas mudanças.

Concluo com uma palavra que simboliza nossa realidade hoje: resiliência – em Ecologia, resiliência (ou estabilidade de resiliência) é a capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio após este ter sido rompido por um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação. E o que precisamos em tempos de dificuldade, de reconstrução do PT, de nossos sonhos de um partido que recupere seu encantamento no seio da sociedade e faça a mudança que queremos nos outros.

Saudações ecossocialistas.

Por Leandro Cruz, geógrafo e secretário de Meio Ambiente do PT-MG, para a a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

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