A juventude que não tem medo de desafios

Texto por Alisson Almeida
Fotos por Victor Daniel

As memórias iniciais que o turismólogo, empreendedor e petista Raoni Fernandes tem dos primeiros contatos com o universo político remetem à infância, quando o pai professor e a mãe estudante o levavam para as atividades do PT em Natal. Não seria exagero dizer que ele cresceu em meio a plenárias, assembleias e infindáveis debates sindicais. O despertar da consciência política, porém, veio mais tarde, durante o ensino médio, no final da adolescência. Naquela época, ele conta que começou “a acompanhar as eleições mais de perto”.

Em 2005, quando já havia ingressado na UFRN, onde posteriormente chegou a ser eleito coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Naquele momento, a legenda enfrentava sua primeira crise séria após a eleição do ex-presidente Lula. A cena corta para 2017. A conjuntura é ainda mais adversa com o pós-golpe parlamentar que depôs a presidenta Dilma Rousseff. O cenário é de intensa campanha midiática de criminalização do PT. É neste contexto de dificuldade extrema que Raoni, agora, quer ser o primeiro presidente jovem do PT Natal.

“Eu me filiei num momento de crise, não me escondi. Não vai ser agora que vou ficar amedrontado. Não deixo de assumir uma tarefa só porque estamos no meio de uma crise. Eu, assim como todo militante, faço pequenos sacrifícios, mas a responsabilidade geracional com o partido e com nosso projeto político é minha maior motivação”, explicou.
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Os questionamentos sobre ser jovem demais para assumir um desafio dessa dimensão não o intimidam. Afinal, como ele mesmo destacou, o partido “foi fundado naquela época por gente da minha idade”.

“O PT precisa da minha geração”, disse, em tom convicto. “Eu acredito que é uma obrigação dessa geração não deixar que consigam acabar com o PT. Não vai ser o discurso da não experiência que vai me desmotivar”.

Para Raoni, o chamado “pacto geracional” não existe mais. Ele não acredita que antigos dirigentes cederão, espontaneamente, os espaços que ocupam para a juventude.

“Espaço de poder se disputa, se conquista, não se entrega. A minha geração disputa com a geração mais antiga. É claro que você vai encontrar militantes antigos que são sensíveis à necessidade dessa transição, mas nada vai ser dado de mão beijada para a juventude. O novo vai vir. O novo sempre vem”, defendeu, invocando os conhecidos versos de Belchior na canção “Como Nossos Pais”, imortalizada na voz de Elis Regina.

A disputa pela juventude
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Raoni se considera privilegiado por ter tido contato muito cedo com a política, o que não acontece com a maioria dos jovens. Ele enxerga que a juventude está “em constante disputa”.

“A juventude enfrenta várias barreiras até se aproximar da política. O jovem é disputado na escola, na família, no trabalho, na cultura e, principalmente, na mídia. Ele é desestimulado a se interessar pela política, é ensinado a enxergar a política pela ótica da criminalização, é convencido que política se resume à disputa eleitoral. A gente tem que desconstruir essa visão. Jovens precisam compreender a política como ferramenta de transformação da vida das pessoas”, refletiu.

Enquanto falava com entusiasmo sobre o protagonismo jovem na política, Raoni emendava o pensamento opinando que o futuro do PT “depende da capacidade do partido de se organizar, de se renovar e de formar sua militância”.

“O PT não vai sobreviver se não se organizar. Não sou candidato para cuidar da campanha de 2018, porque isso é lá na frente. O que precisamos, urgentemente, é organizar o partido, os núcleos de base, os zonais, colocar isso na agenda do PT”, pregou.

Quem não se comunica, se trumbica
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Raoni entende que o partido, além de cuidar das questões de organização interna, precisa se comunicar melhor com seus parlamentares, com a própria militância e com a sociedade. Ele admitiu que uma parcela do petismo está “desanimada” diante da atual conjuntura, mas afirmou ser necessário “superar o desânimo, preparar-se para a luta e resgatar o orgulho de ser petista”.

Mas, se quiser convencer as pessoas sobre seu projeto político, social e econômico, o partido tem que “sair da bolha”.

“Precisamos organizar nossa comunicação, falar pra fora, dialogar com todos os setores da sociedade. Muita gente diz que temos de ‘voltar para as bases’, mas é até meio cruel dizer isso com quem faz o trabalho nas comunidades. O PT é que não está preparado organizacionalmente pra dar suporte a essa militância que está lá na ponta articulando a base”, avaliou.

Ele insistiu na tecla da organização, dizendo que, dessa maneira, o partido “está pronto para qualquer disputa”.

“Nosso espaço institucional, hoje, não corresponde à expressão da nossa militância em Natal. Tivemos êxito na eleição da jovem vereadora Natália Bonavides e na renovação do mandato de Fernando Lucena, mas podemos muito mais. Temos que nos organizar para que, nas próximas eleições, tenhamos uma bancada de vereadores que reflita nossa verdadeira relevância na cidade e, inclusive, conseguir eleger o/a prefeito/a da capital”, pontuou.

Raoni opinou que o partido na capital terá uma grande contribuição a dar no debate sobre a sucessão estadual e a disputa nacional em 2018. Eles listou como prioridades, além da possível candidatura presidencial de Lula, a corrida pelo Governo do Estado, a renovação do mandato na Assembleia Legislativa e a reconquista da vaga na Câmara Federal.

As ruas mantêm acesa a esperança

Na via social, Raoni disse que o partido precisa se fortalecer “cada vez mais” para liderar a resistência nas ruas aos ataques contra os direitos da classe trabalhadora, promovidos pelo governo ilegítimo de Michel temer (PMDB). Esse fortalecimento passa, necessariamente, pelo diálogo com as demais legendas de esquerda, os movimentos sociais e os setores progressistas da sociedade.

“O PT é um instrumento de organização da classe trabalhadora. Por isso, vamos continuar nas ruas enfrentando os efeitos do golpe, não só pra reconquistar o espaço de poder que foi retirado dos trabalhadores, mas principalmente pra impedir que os direitos conquistados a duras penas sejam retirados de nós”, reiterou.

As sucessivas derrotas no campo institucional, para ele, causam certa desconfiança em muitas pessoas sobre a eficácia dos protestos populares. No último dia 31, por exemplo, cerca de 30 mil pessoas, segundo as entidades organizadoras, ocuparam as ruas de Natal contra as mudanças na aposentadoria, a reforma trabalhista e a terceirização.

Para Raoni, apesar da desigualdade na correlação de forças no Congresso Nacional, “as ruas é que mantêm acesa a esperança”. “O desânimo é natural, mas o que faz a gente se reerguer são as pequenas vitórias, principalmente aquelas protagonizadas pela juventude”.

PED 2017

As eleições internas do PT (PED 2017) acontecem no próximo domingo (9), em todo o Brasil. É a concretização da “democracia petista”, quando filiados irão escolher as novas direções municipal, estadual e nacional.

Em Natal, será eleito o novo presidente, diretório, presidentes zonais e diretórios zonais. Além disso, serão escolhidos os delegados para o Congresso Estadual, que irá definir o novo presidente do PT-RN.

Raoni é candidato a presidente do PT Natal pela chapa “Unidade na Luta”, composta de petistas de todas as regiões da cidade que se organizam internamente em torno da corrente “Construindo um Novo Brasil” (CNB). A eleição acontece das 9h às 17h, na sede do PT (Rua Olinto Meira, 1045, Barro Vermelho) e na “Virgulino Casa Show” na Zona Norte.

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