Famílias que produzem 510 toneladas de café e vários outros alimentos tiveram despejo decretado pela Justiça de Minas Gerais. "Se me tirar daqui, acho que não vou aguentar", diz camponesa
São Paulo – A trabalhadora rural Maria da Fé começou a lida no campo com 9 anos de idade, quando a usina de cana ainda estava em atividade, antes de falir, em 1994, e deixar funcionários coma as mãos abanando. Quatro anos depois, as famílias dos trabalhadores ocuparam a terra abandonada e criaram o Quilombo Campo Grande. Maria da Fé estava entre eles, e está até hoje. Agora, porém, enfrentando ameaça de despejo, surgida 20 anos depois de transformarem a terra abandonada em terra produtiva. "Se me tirar daqui, Deus é que sabe, mas acho que não vou aguentar", diz camponesa. A reportagem é de André Vieira, da Telesur, exibida no Seu Jornal, da TVT.
O despejo de 450 famílias do quilombo, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na cidade de Campo do Meio, em Minas Gerais, interessa diretamente à empresa Jodil Agropecuária, pertencente ao empresário João Faria, maior produtor individual de café do mundo que vende para, entre outras, a suíça Nestlé. “Ele é quem financia esse conflito e quem financia a não resolução desse conflito por outros meios (não judiciais). A usina está falida, está transitado em julgado, mas ele defende que ela pode ser recuperada”, explicou a coordenadora do MST Tuira Tule.
O juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, da Comarca de Campos Gerais (MG), determinou o despejo no último dia 7. O MST está articulando seus advogados para contestar a decisão e as famílias prometem resistir à ação. Em 2016 foi feito um acordo de recuperação judicial, apesar de a falência já haver transitado em julgado, e a maior parte da área foi arrendada a Faria.
“Ele vai botar um monte de trator na terra para colher café e algumas pessoas só vão trabalhar com ele. O resto vai ficar desempregado. Ele vai trazer algum benefício pra cá? Ele não compra um quilo de carne, não compra gasolina, não compra óleo diesel. Tudo ele vai trazer de fora. Então qual o emprego que vai trazer para cá?”, questionou Sebastião da Silva, morador da área.
Em 20 anos, os agricultores investiram cerca de R$ 20 milhões em estrutura e nas plantações. Hoje produzem cerca de 510 toneladas de café Guaií por ano. O despejo também deve prejudicar também a cidade, já que muitos alimentos comercializados são produzidos no quilombo.
As dívidas da usina falida chegam a R$ 300 milhões. Neste valor estão inclusos os direitos trabalhistas de funcionários como Maria da Fé, que trabalhou no local desde os 9 anos de idade. Hoje tem 77 anos e corre o risco de ser despejada. “Eu peço muito a deus que ele tenha dó de nós e não deixe tirar a gente daqui. Porque, se nos tirar daqui, eu acho que não vou aguentar”, lamentou. O governo estadual chegou a decretar a compra da terra para reforma agrária, mas não concluiu o pagamento. Há quatro meses tentou fazer um novo acordo, que não foi aceito pela empresa.
Confira reportagens da Telesur, via TVT
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