Chefe que dava bronca deu lugar à presidenta rígida e exigente

Aos poucos, Dilma muda imagem diante da equipe e começa a delegar aos auxiliares a função de cobrar resultados

Andréia Sadi, iG Brasília | 08/04/2011 15:18

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Os 100 primeiros dias da presidenta Dilma Rousseff no governo já foram suficientes para marcar algumas diferenças de estilo entre a primeira mulher a chegar ao Palácio do Planalto e seu antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva. A eleição da petista para o posto máximo da República já previa mudanças na rotina do Planalto, com contratação imediata de seguranças e ajudantes de ordem mulheres. Mas foi na agenda e no modus operandi que Dilma surpreendeu até os ministros que ajudava a comandar quando era chefe da Casa Civil de Lula.
Na agenda, compromissos cor-de-rosa e com foco em questões sociais predominaram no dia-a-dia de Dilma nos últimos três meses. Workaholic assumida, ela não trabalha menos de 12 horas por dia. Em seu primeiro mês no cargo, a petista optou pela discrição e não saiu do Planalto nem para almoçar.
Na primeira segunda-feira útil de janeiro, após reuniões com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, Marco Maia, Dilma parou para almoçar. A presidenta, no entanto, não quis perder tempo com deslocamentos e comeu no próprio gabinete. Cobrado pela mulher,  Marisa Letícia, o ex-presidente Lula costumava parar o expediente para fazer a refeição no Palácio do Alvorada, residência oficial.
Dilma chega, inclusive, a estender seu hábito para ministros e já chegou a interromper os almoços de seus auxiliares ao convocá-los para reuniões sem prévio agendamento. Para completar, ela exige pontualidade. E, em reuniões com a ''chefa'', celulares só desligados.
O mês de janeiro foi marcado por despachos internos e nada de contato com a imprensa. No dia 13 de janeiro, no entanto, a presidenta tomou rapidamente a decisão de sobrevoar a região serrana do Rio, abalada pela tragédia das chuvas. Ela fez um breve pronunciamento, anunciou medidas e voltou para Brasília.

Foto: AFP
Ministros já enxergam mudança em relação aos tempos em que a atual presidenta comandava Casa Civil
Dilma sempre foi considerada durona e seu estilo classificado como muito exigente e centralizador. Mas, para ministros veteranos, como Paulo Bernardo, Dilma agora "terceiriza a bronca" e tem a vantagem de já ter visto um governo funcionar por dentro.
“As pessoas são diferentes, os estilos também. A Dilma era muito durona na chefia da Casa Civil e também em Minas e Energia. Eu não tenho observado isso hoje. Mas a impressão que eu tenho é que ela tinha essa função de fazer cobrança. A Dilma presidenta tem uma pressão diferente e tem gente para cobrar por ela. Quando a Dilma foi para a Casa Civil, Lula terceirizou a bronca e não dava bronca em ninguém. Deixava ela dar a bronca. Imagino que ela vá colocar alguém também, para isso que tem assessores, ministro da Casa Civil e secretário da Presidência”, declarou Paulo Bernardo ao iGdurante uma entrevista em janeiro.
De mulher para mulheres
Desde que assumiu, Dilma segue o script e slogan de sua campanha e exalta e destaca o papel da mulher na sociedade brasileira. Em janeiro, a melhor jogadora de futebol do mundo pela Fifa (Federação Internacional de Futebol), Marta, se reuniu com Dilma em Brasília. Após o encontro, a jogadora afirmou que ouviu que o futebol feminino receberá mais atenção do governo.
Na primeira viagem oficial ao exterior, Dilma incluiu no roteiro um encontro com as Mães da Praça de Maio, símbolos da luta contra ditadura argentina. Em seguida, seguiu o script da campanha e exaltou as mulheres no poder durante discurso ao lado de Cristina Kirchner, presidenta do país vizinho.
Assim que assumiu, ainda na composição de sua equipe, Dilma já havia sinalizado que valorizaria a questão feminina ao convidar nove mulheres para o seu ministério, três vezes mais que o número contabilizado no governo Lula. Nesta viagem à Argentina, Dilma repetiu hábito de quando era candidata - fez uma viagem bate e volta. Na base aérea, conversou rapidamente com a imprensa e seguiu caminho ao lado de sua comitiva.
Mesmo sem conceder entrevistas coletivas à imprensa, Dilma fez duas aparições em rede nacional e falou abertamente sobre o câncer contra o qual lutou em 2009 . No Palácio do Planalto, gravou, em fevereiro, participação no programa de Hebe Camargo, na RedeTV!. Também esteve no programa da apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo. Na cozinha, preparou um omelete junto com a apresentadora. Dilma está em dieta para tentar perder o peso que ganhou na corrida presidencial e pediu que Ana Maria economizasse no azeite. "Só um pouquinho", disse, alegando já ter perdido 6 kg. "Agora estou naquela plataforma. Mas ainda vou perder o resto."
Também em março, Dilma recebeu no Palácio do Planalto a cantora colombiana Shakira. No dia 24, com Hebe e Marcela Temer, fez mais uma aparição temática e lançou, em Manaus, programa de saúde contra o câncer de colo do útero e mama.
Emoção
Ao longo dos últimos meses, Dilma foi às lágrimas em mais de uma ocasião. Embora tenha dito a jornais argentinos que o pior momento do início de sua gestão foi a tragédia provocada pelas chuvas na região serrana do rio, a presidenta chorou somente perto de chegar aos 100 dias no cargo: primeiro, diante da notícia da morte do ex-vice José Alencar. E, ontem, na escola que serviu de palco para o massacre ocorrido na zona oeste do Rio, onde um homem abriu fogo contra crianças e jovens.
Descontraída com os resultados das últimas pesquisas de opinião, Dilma surpreendeu na noite de sábado ao aparecer no meio da plateia de um espetáculo de teatro em Brasília. De forma discreta, com poucos seguranças e sem o carro oficial da presidência, Dilma esteve no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para assistir ao monólogo "A Lua Vem da Ásia".
O antecessor alternava os finais de semana entre Brasília e São Bernardo do Campo, seu berço político, onde voltou a morar depois de deixar o cargo. No entanto, na Presidência, era raramente visto em locais públicos como cinema e teatros, mesmo na companhia da então primeira-dama Marisa Letícia. Assim que deixou o cargo, no final de janeiro, o ex-presidente voltou à vida de cidadão comum e acompanhou uma partida entre Corinthians e São Bernardo do Campo, pelo Campeonato Paulista.
No máximo, Lula ia a lançamentos de livro, como em junho de 2010, em São Paulo, quando prestigiou Aloizio Mercadante com sua obra "Brasil: A Construção Retomada”. 
DO IG

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